Voltando às questões fraturantes
Ainda queria voltar ao tema que ontem vos propus em torno das questões fraturantes. No domingo passado enquanto ouvia o padre da minha paróquia a tecer conjeturas sobre a eutanásia, não pude deixar de me interrogar sobre o tema. E tal como ontem alargá-lo às questões do aborto e do casamento gay. Apesar de católico fico sempre um pouco preocupado quando ouço estas coisas. Sei que a doutrina da Igreja a isso conduz, mas também sei que o papa Francisco tem vindo a ultrapassar certas linhas com vista a aproximar a Igreja do nosso tempo para exasperação de alguns. Mas enquanto ouvia o pároco lembrei-me que nunca o ouvi a desenvolver raciocínios tão fortes sobre a violência doméstica, o racismo ou a xenofobia, mesmo indo ao arrepio do papa. Porque será? Sabemos que para a Igreja a mulher tem um papel secundário, até bem marginal se olharmos para tempos mais recuados, e talvez isso impeça um padre de defender os seus direitos. Sei que isto não é exclusivo do catolicismo visto que, nas outras religiões ditas do Livro, tal acontece até com mais veemência, como é o no judaísmo mais ortodoxo ou no islamismo mais fundamentalista. Já contra o racismo e a xenofobia nada se altera também. O mesmo se verifica em outras religiões do chamado oriente mais profundo. Algo que nos deve deixar a pensar. Mas o catolicismo, religião mais próxima da nossa cultura, tal entra em contradição com os muitos esqueletos no armário de alguns dos seus membros. A começar pelo próprio Vaticano e a acabar no mais longínquo padre de aldeia. Não serão todos assim, bem entendido, mas estas serão as exceções que confirmarão a regra. Sei que há questões fraturantes que podem por em causa os próprios fundamentos da religião, mas isso não pode impedir que tenhamos uma atitude tacanha, corporativa, limitada. Quem já visitou o Vaticano e o fez com atenção, e não só para colecionar fotografias, ter-se-á apercebido de algumas coisas que aqui digo. Porque a impunidade leva ao relaxar nas atitudes e isso é bem visível por lá. E por isso é que não compreendo esta Igreja eternamente virada para o passado com cada vez menos que dizer às novas gerações que dela se afastam porque nela não se revêm. Tudo muito questionável e que durará ainda muito tempo a resolver, se é que se resolverá algum dia, mesmo com um papa de mente aberta.
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