Turma Formadores Certform 66

Tuesday, February 02, 2021

Voltando às questões fraturantes

Ainda queria voltar ao tema que ontem vos propus em torno das questões fraturantes. No domingo passado enquanto ouvia o padre da minha paróquia a tecer conjeturas sobre a eutanásia, não pude deixar de me interrogar sobre o tema. E tal como ontem alargá-lo às questões do aborto e do casamento gay. Apesar de católico fico sempre um pouco preocupado quando ouço estas coisas. Sei que a doutrina da Igreja a isso conduz, mas também sei que o papa Francisco tem vindo a ultrapassar certas linhas com vista a aproximar a Igreja do nosso tempo para exasperação de alguns. Mas enquanto ouvia o pároco lembrei-me que nunca o ouvi a desenvolver raciocínios tão fortes sobre a violência doméstica, o racismo ou a xenofobia, mesmo indo ao arrepio do papa. Porque será? Sabemos que para a Igreja a mulher tem um papel secundário, até bem marginal se olharmos para tempos mais recuados, e talvez isso impeça um padre de defender os seus direitos. Sei que isto não é exclusivo do catolicismo visto que, nas outras religiões ditas do Livro, tal acontece até com mais veemência, como é o no judaísmo mais ortodoxo ou no islamismo mais fundamentalista. Já contra o racismo e a xenofobia nada se altera também. O mesmo se verifica em outras religiões do chamado oriente mais profundo. Algo que nos deve deixar a pensar. Mas o catolicismo, religião mais próxima da nossa cultura, tal entra em contradição com os muitos esqueletos no armário de alguns dos seus membros. A começar pelo próprio Vaticano e a acabar no mais longínquo padre de aldeia. Não serão todos assim, bem entendido, mas estas serão as exceções que confirmarão a regra. Sei que há questões fraturantes que podem por em causa os próprios fundamentos da religião, mas isso não pode impedir que tenhamos uma atitude tacanha, corporativa, limitada. Quem já visitou o Vaticano e o fez com atenção, e não só para colecionar fotografias, ter-se-á apercebido de algumas coisas que aqui digo. Porque a impunidade leva ao relaxar nas atitudes e isso é bem visível por lá. E por isso é que não compreendo esta Igreja eternamente virada para o passado com cada vez menos que dizer às novas gerações que dela se afastam porque nela não se revêm. Tudo muito questionável e que durará ainda muito tempo a resolver, se é que se resolverá algum dia, mesmo com um papa de mente aberta.

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