E tudo acaba!...

Estas demoras são sempre dolorosas, só hoje aconteceu o funeral da minha amiga. Quem tem família a viver no estrangeiro acaba por passar por estes problemas. Porque há necessidade de prolongar as coisas para que os familiares distantes cheguem. Mas para quem cá está é sempre doloroso. Entretanto vamos tendo tempo para pensar. É nestes momentos que percebemos a fragilidade que nos envolve, mas também um ato de humildade perante a vida. Enquanto o corpo desce à terra alinho estas palavras. Vejo aquele buraco que está aberto mesmo ali, aquele buraco no solo para receber o que resta dum ser, percebemos que dali para baixo todos somos iguais. Não existem títulos ou honrarias, apenas o nivelar daquilo que é na sua essência, a natureza humana. E assim se encerra o ciclo da vida. Para os crentes é a passagem para algo que se abre num outro plano astral, para os não crentes é o fim de tudo. Um bom tema para refletir numa altura que a aparência vale mais do que tudo, os títulos vão-nos dividindo e standardizando, os preconceitos erguem muros que nos isolam em vez de criar pontes de diálogo. Tudo isto porque hoje acompanhei uma pessoa até ao seu túmulo de quem guardo duas memórias: a primeira de quando a conheci na sua bicicleta de criança cor de rosa; a derradeira que se encerra num olhar sem palavras que durou um segundo mas que marcou uma vida, talvez um olhar de despedida - embora então, eu ainda não soubesse de nada -, mas um daqueles olhares que ficam para sempre, (dias antes de ser hospitalizada e a sua vida começar a esvair-se). E assim tudo acaba! Apenas resta o que de mais nobre um ser humano pode ter, o amor pelos animais. Os animais que também a choram à sua maneira. Lá onde estiveres que tenhas alcançado finalmente a paz!