Turma Formadores Certform 66

Wednesday, September 01, 2021

De novo em torno do ensino

Coisas estranhas andam por aí. O ensino e a cultura - ou a falta dela - são o espelho duma nação e da sua política para futuro. Agora que as aulas estão quase a começar por que não refletir sobre o tema. Há dias cruzei-me com uma estatística sobre o ensino em Portugal. Fiquei aterrorizado. Quando se olhou para os chamados 'centros de estudo' foi o colapso. Segundo a estatística cerca de 80% dos alunos recorrem a ele. (Mesmo no ensino superior, o que é ainda mais surpreendente). Mas o que mais me incomodou foi o de ver que a esmagadora maioria dos que a ele recorrem são oriundos das camadas possidentes, isto é, a franja mais elevada da sociedade, onde esses jovens têm pais com formação superior e empregos na mesma ordem de grandeza. Fiquei a pensar porquê? Sei que o meu tempo já passou, sei que as gerações vão mudando com esse mesmo tempo, mas também sei que algo de incompreensível anda por aí a fazer mossa. Antigamente, quando muito poucos tinham acesso ao ensino, para além do básico, não eram tantos assim, e então ao ensino superior, era uma minoria. E sempre se dizia que quem era oriundo de famílias com nível mais elevado, normalmente tinha acesso a informação, a material, etc., que a maioria dos outros não podia ter e como tal eram os melhores. O ensino era caro, e a capacidade financeira de cada um fazia a diferença. Mas sei também que cada um estudava para ser o melhor possível porque não poderia ser doutro jeito. Hoje os alunos têm muitos motivos de interesse. O estudo aparece em último lugar para um número significativo deles. Vai daí o recorrer aos chamados 'centro de estudo' uma espécie de muleta que vem substituir o trabalho que o aluno deveria fazer em casa, ou numa biblioteca. Como há uns tempos atrás me dizia um professor inglês que leciona numa Universidade portuguesa, 'eles estão em busca de ludibriar o sistema'. E é mesmo assim. Hoje as pessoas estão mais preocupadas com os exames e menos com o saber. Depois de colecionarem exames nem sempre o mercado laboral aí está para os receber pelo simples facto de que passaram exames mas esqueceram-se de aprender. (E o mercado de trabalho não se deixa enganar assim tão facilmente). As pessoas, porque têm uma escolaridade obrigatória mais prolongado do que no passado, acabam por ser uma geração com muitas lacunas, para não dizer até, com laivos de ignorância. Quando se diz por aí que temos 'a geração mais bem preparada de sempre' - frase tão cara aos políticos - não deixa de ser verdade do ponto de vista académico, o que não quer dizer que assim seja do ponto de vista do conhecimento. No passado, dizia-se que quanto mais dificuldade tinha o aluno, logo que a superasse, ficava com o conhecimento do assunto para a vida. Hoje quando o aluno não percebe uma matéria, recorre aos 'centro de estudos' não vá cansar-se em demasia. Tudo é muito rápido, uma espécie de mastigar e deitar fora, tal qual o chiclete. Ouço falar muito na internet, nas pesquisas e coisas afins, mas não vejo o equivalente em conhecimento de quem o faz. Conheço um caso curioso duma pessoa que quando foi interpelada sobre uma questão sobre o Mar Morto, respondeu que era coisa do passado e que o tal Mar Morto já não existia! Se fosse meu aluno, no tempo curto em que me dediquei ao ensino, estava arrumado sem apelo nem agravo. O desconhecimento é enorme mesmo das coisas mais básicas, o que me leva a concluir que esses famigerados 'centros de estudo' podem ensinar a como dar a volta ao sistema de ensino, mas esquecem-se de ensinar como obter conhecimentos sem muletas. Afinal esse é o negócio. E como os pais com mais capacidade financeira são os que podem dar-se a esse luxo pois as coisas continuarão a pautar-se pelo mesmo diapasão ou talvez nem isso.

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