Já visitaram Auschwwitz Birkenau?
Será que alguns dos meus amigos já visitaram o antigo campo nazi de Auschwitz-Birkenau? Para quem não conhece este campo da morte da II Guerra Mundial fica situado na Polónia na província de Oświęcim. Tudo é sombrio e então se lá forem no Inverno verão a neve a cobrir parte do percurso. O silêncio é pesado. Muitos dos visitantes entram como se estivessem a entrar num santuário. É frequente ver-se gente que chora e que reza. Mas apesar do ambiente pesado que ali se vive, não deixa de ser curioso que saímos com a sensação de tudo um pouco artificial, demasiado arranjado e preservado. Parece que algo bem mais sinistro andou por ali e que não conseguimos percecionar. Para quem conhece esse sinistro local, trago uma passagem duma sobrevivente desse campo nazi - uma figura que viria a dar cartas na política europeia - a francesa de origem judaica Simone Veil. O testemunho que viveu na primeira pessoa é pungente e diz o seguinte: "Hoje quando volto ao local de Auschwitz, vê-se erva e árvores. Os relvados estão cuidados, os edifícios encontram-se em bom estado, de uma bela cor com patine. Até o arame farpado parece sereno. Ninguém se apercebe de que, em cada torre de vigia, havia SS com metralhadoras. Aquilo que hoje se vê não se assemelha ao campo. De maneira nenhuma. De qualquer modo, esses locais não traduzem sensações físicas. O campo era o cheiro dos corpos que ardiam. Uma chaminé cujo fumo escurecia o céu. Lama por todo o lado. Galochas nos pés, nós nessa lama. Quanto às árvores, só as víamos de longe. Os SS e os kapos permaneciam vigilantes, prontos a desferir golpes com a matraca de borracha. Um pouco por todo o lado, entre os barracões, circulavam seres que eram quase coisas. Era difícil ver neles seres humanos. Deportados chegados a um estado de esgotamento total. Chamavam-nos 'muçulmanos'. Esses esqueletos vagamente vestidos permaneciam por terra, até que a pancada os obrigasse a levantarem-se." (Extrato do seu livro, 'A Madrugada em Birkenau', livro que aqui trarei em breve). Sei que é importante preservar os locais históricos e turísticos, mesmo que sejam locais sinistros como este. Mas também acho que o excessivo arrumo das coisas pode dar uma ideia errada de que afinal 'aquilo não era assim tão mau'. Mas era mau. Era horrendo e muitos pagaram um preço elevado quando por lá passaram, deixando aquilo que de mais precioso teriam, a própria vida. Numa altura em que andam por aí a clamar ideias nazis, será bom que não nos esqueçamos destes exemplos. e sobretudo, dos depoimentos de quem por lá passou e sobreviveu como por milagre. É bom que a memória não se apague mesmo por trás dos muros bem aprumados e pintados.
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