Equivocos da democracia portuguesa - 119
E o inevitável aconteceu! Apesar do governo querer mostrar que é mais "troikista" do que a própria "troika", apesar de apresentar medidas que vão para além do "memorandum", apesar do novo imposto extraordinário, a Moody's cortou ontem o "rating" de Portugal para o nível Ba2 (junk), ou seja, lixo. E não pensem que foi apenas um nível de ajustamento, foram quatro níveis, de BAA1 para Ba2!!! A justificação dada - baseada em três ordens de razões - foi que, Portugal irá necessitar dum segundo plano de resgate - curiosamente, neste espaço, já tínhamos afirmado que nos parecia insuficiente o valor disponibilizado a Portugal -, depois, porque vêem com dificuldade que o nosso país consiga cumprir o que ficou determinado pela "troika" e, finalmente, porque acham que Portugal não se conseguirá financiar a taxas sustentáveis no mercado em 2013. Resumidamente, o que a Moody's diz aos seus clientes é que comprar dívida pública portuguesa é um risco e um risco elevado. O governo - e bem, segundo a nossa opinião - veio afirmar que a Moody's não teve em conta as últimas medidas tomadas e o largo consenso político que existe em Portugal, mas em boa verdade, noutros tempos - próximos - diriam que a culpa era de Sócrates e só de Sócrates. Agora vêm como lhes dói. Não que isso nos dê particular regozijo, ao fim e ao cabo, esta situação prejudica o país, isto é, prejudica-nos a todos e, desde logo, os mais débeis financeiramente. E agora? Como dissemos em tempo útil neste espaço, a simples mudança de governo não iria resolver o problema, pelo simples facto de que este é um problema que nos transcende. É um problema essencialmente europeu e até mundial, se atendermos ao fenómeno da globalização. Mas, atrevemo-nos a dizer, que é um fenómeno mais europeu, numa Europa sem rumo, sem liderança, onde o interesse mesquinho de cada país se tem sobreposto ao interesse da própria União. Numa UE, hoje mais do que nunca ultra-liberal, sempre houve uma grande indefinição do rumo a seguir. Lembram-se da guerra dos balcãs, e como ela foi tratada, sobretudo, a situação do Kosovo? Não vale a pena levar agora os responsáveis a tribunal para mostrar que a Europa não perdoa. Porque, ao lado dos criminosos de guerra, deveriam estar os responsáveis da UE que não souberam, ou não quiseram, tomar uma posição clara no conflito quando ele era ainda embrionário. Os mesmos responsáveis que hesitaram face à crise grega, deixando que esta resvalasse para a situação de pré-bancarrota em que entrou, até dando, por vezes, sinais contraditórios que podiam ser entendidos que os países com economias mais débeis seriam deixados às feras, e os mercados entenderam assim, mesmo quando se tornaram especulativos, desonestos, ávidos de dinheiro e de... sangue. Façamos nós o que façamos - tal como está a acontecer na Grécia - os mercados reagirão sempre desta maneira, movidos por interesses obscuros, movendo-se de acordo com uma certa banca negra (paralela), desregulada, que não tem qualquer controle. E não pensem que a situação é só da Grécia, Irlanda e Portugal, em breve, iremos assistir ao assalto a outros países, como a Espanha, Itália ou Bélgica. Na génese de tudo isto está a hesitação, a irresponsabilidade, duma UE que achou que estes países eram economias menores, não percebendo que com isso estavam a por em causa a própria UE e o euro. Mas os sinais de desagregação são por demais evidentes. Ainda esta semana se viu a Dinamarca a fazer o controle de fronteiras - como no passado - "rasgando" positivamente os acordos de Schengen. Daí que tenham surgido - na nossa opinião demasiado tarde - um grupo de personalidades que vêm traçar caminhos para o futuro da UE, criando uma espécie de "new deal" que salvou a economia americana nos anos 30 e que tão bem é conhecido dos economistas. Nesse grupo de pessoas de vários países, podemos encontrar Mário Soares e Jorge Sampaio que, desde à muito, têm vindo a mostrar preocupação pela falta de rumo e de liderança da UE, desde que entrou nesta deriva ultra-liberal. Hoje, países como Portugal, têm pouco espaço na diplomacia mundial, o seu "time sparing" é muito estreito, e a mensagem tem que ser bem passada e rapidamente. No fundo, o que tudo isto significa é que, a credibilidade de Portugal é muito difícil de recuperar, ao fim e ao cabo, estamos cada vez mais ao nível da Grécia, por mais que as autoridades digam o contrário. E no governo temos algumas dificuldades em visualizar algo de diferente. Quando as principais pastas - economia e finanças - têm à frente responsáveis que são admiradores de Milton Friedaman - o monetarista que quis utilizar a América Latina para laboratório das suas experiências, e lembrem-se do que aconteceu no Chile - e de Domingo Caballo - que pôs de joelhos a Argentina -, não vemos que daí possa vir boa coisa. Num governo ultra-liberal também não se pedia que fosse diferente, os portugueses é que não perceberam isso e agora começam a perceber melhor, e daqui a algum tempo veremos o que se irá passar. Numa UE, em que o ultra-liberal Durão Barroso - o mesmo que esteve ao lado de Bush e Blair, a quando da invasão do Iraque -, veio saudar a medida do governo para terminar com as "golden shares", diz bem do rumo que tudo isto está a seguir. As "golden shares" poderiam não ser o melhor dos mundos, mas para países como o nosso, ajudam a evitar que empresas estrangeiras venham tomar conta das melhores empresas nacionais. Vejam como o governo de Sócrates travou, e bem, a entrada da Vivo na PT com um simples telefonema. Hoje estaremos mais expostos - e assim, mais pobres -, face aos "tubarões" que por aí apareçam para tomar conta das principais e emblemáticas empresas nacionais como a PT, GALP ou EDP. Para aqueles que, como Luís Montenegro, (líder parlamentar do PSD), que vem pedindo mais Europa, vemos que o que está a acontecer é precisamente, o inverso. Será que os países periféricos não interessam à UE? Será que o euro pretende rejeitar estas economias? Será que o euro interessa a alguns dos países que pertencem à UE? Estas são questões que gostaríamos - todos - de ver respondidas. Mas o silêncio, embora que ruidoso, é que impera. Afinal o que querem fazer do projecto europeu de Jean Monet e Jacques Delors? Mas, como dissemos no início, este não é um fenómeno exclusivamente europeu, embora seja na Europa que está a ter mais impacto. A globalização também trouxe esse modo de fazer com que os problemas circulem pelo planeta, e é ver como ontem, um prestigiado jornal norte-americano - The New York Times - afirmava que os EUA poderiam entrar em incumprimento no próximo mês de Agosto!!! Num país que tem a maioria da sua dívida titulada pela China, isto não deixa de ser preocupante. Afinal para onde vamos? Que interesses obscuros estão a mover tudo isto? Com que objectivo?
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