Equivocos da democracia portuguesa - 116
Mudam-se os governos, mas as "praxis" (mesmo aquelas que mais criticaram nos outros) lá se vão mantendo. Prende-se isto com a apresentação do programa de governo. Não foi à primeira, mas sim, à segunda - depois de corrigida a anterior versão - que o programa apareceu na AR e aos portugueses. Mal fadada sina que tem perseguido os governos ano após ano, embora esperassemos deste um outro cuidado, afinal foram os que mais ruído fizeram quando no passado outros governos passaram pelo mesmo precalço. Embora a margem de erro deste programa não seja muito compreensível, porque para além do programa da "troika" apenas restou mais uns agravamentos sobre a situação difícil dos portugueses, mas coisa de somenos importância!!! (Tal como o imposto extraordinário que se diz ser para este ano só. Veremos). Outra das medidas que tanto ruído causou foi o anúncio do aumento do IVA. Se é certo que tal ia acontecer, quanto mais não fosse pelo factor compensação pela diminuição da TSU, é uma medida que envolve alguns problemas, desde logo, a diminuição da competetividade das nossas exportações, já de si, com dificuldades de afirmação num mundo onde a competição é deveras ferroz. Para colocar a cereja no topo do bolo, tivemos também o anúncio da antecipação de algumas medidas da "troika", como as privatizações e a venda do BPN. Paralelamente, foi anunciado pelo INE - mais uma coincidência cirúrgica - que o déficit se situaria no 1º trimestre, ao nível dos 7,7%. Os detratores de Sócrates logo vieram dizer que isto era insuficiente e que não se iria atingir os resultados esperados no fim do ano, contrapondo aos seus defensores que afirmavam que afinal a evolução estava a ir no sentido correcto, talvez mais lento do que o desejado, mas mais consistente sem vir agravar a situação dos portugueses como este governo já veio fazer, mesmo que para tal tenha ocultado do seu programa medidas como a que primeiro anunciou na AR do tal imposto extraordinário que leva logo, duma assentada, o equivalente a 50% do subsídio de Natal. Mas apesar de tudo isto, vamos vendo que os juros da dívida não invertem a tendência, por vezes melhoram, para logo de seguida virem a retomar a tendência. Mas será justo dizer que esta situação, mais do que ter a ver com o governo - este ou outro - tem a ver com a expectativa negativa dos mercados de que a Grécia venha a cumprir os seus compromissos. Sejamos sérios, e não utilizemos esta bandeira - como outros fizeram num passado recente - para acusar (injustamente) o governo. A aprovação dum novo empréstimo à Grécia - para pagar o anterior - é como o rebentar dum abcesso, embora a infecção lá continue. Resolve-se um problema imediato, mas cria-se outro ainda maior, mais à frente. E é neste emaranhado que a UE se enredou, criando problemas a ela própria e ao euro. Veja-se as manifestações de regozijo em Bruxelas após a aprovação do novo pacote no parlamento grego. E agora, novidade das novidades, até os particulares - leiam-se os bancos alemãs e franceses - querem participar na ajuda. Não é por solidariedade para com a pátria da Democracia, mas sim, porque têm elevados interesses no país de Sócrates - o filósofo - e não querem vir a perder tudo. Mas ainda voltando ao programa do novo governo, este parece ser um programa com pouco ambição - "troika" oblige - mas, o mais perturbador, é a falta de perspectiva e de aposta no crescimento. Uma economia que não cresce dificilmente se libertará das amarras que a prendem. Vozes de diversos quadrantes já vieram a lume falar sobre o assunto, dentre elas a de Henrique Neto, um prestigiado empresário muito escutado. Contudo, os equívocos também por cá apareceram, desde logo, da Igreja, através do padre Marujão, que até (pasme-se!) está de acordo com a alteração dos feriados. Quando tal foi falado na vigência do governo anterior - embora nunca duma maneira decidida - a Igreja foi uma das entidades que logo veio a terreiro manifestar-se através de D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa. "Olha para o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço" diz o povo, e parece ser aqui o aforismo pertinente. Quando até João Cordeiro, o líder dos farmacêuticos, já acha que Sócrates - o político - até era um excelente orador, ele que fez de Sócrates o seu inimigo principal, já era tempo da Igreja fazer também o seu acto de contrição, todos compreenderíamos e só davam a imagem da tolerância que tanto apregoam e tão pouco praticam. No fundo, e como ouvimos na AR, o programa deste governo é um PEC 5, depois da rejeição do PEC 4, embora seja estranho que quem "chumbou" o anterior por ser excessivo sobre os portugueses, desde logo, sobre a matéria fiscal, tenha tido como primeira medida apresentada na AR o já falado imposto extraordinário. Num país de equívocos temos os políticos que merecemos e que colocamos no poder. Já o dissemos no passado e dizê-mo-lo agora, porque na essência nada mudou, excepto os rostos e as cores políticas, porque quanto à "praxis" estamos falados. E não basta vir dizer que se viaja em classe económica, porque o impacto nas contas é quase nulo, embora, para que não restem dúvidas, lá se foi afirmando que a medida era só para a Europa, porque para viagens de longo curso, nada de nos misturarmos com a "populaça". Mas, como dissemos em anterior crónica, quanto aos hotéis ninguém disse nada, e era importante que o fizessem, porque as viagens são oferecidas pela TAP - embora ninguém compreenda por quê - mas os hotéis não devem ser oferecidos. E temos algumas dificuldades em ver Paulo Portas a ir lá para fora e alojar-se em hotéis de três ou quatro estrelas. Se não fosse ridículo, até dava vontade de chorar. Quando se entrega a gestão dos hospitais a privados pondo em risco o SNS, é o choque liberal no seu melhor. Por isso, retomamos um ideia que já alimentamos à muito tempo neste espaço que é a refundação da democracia - não aquela que se fala hoje, para que tudo fique na mesma -, mas uma a sério, que leve à implantação da 3ª República. Porque espaço não falta a esta ideia. Quando muitos achavam bizarro o imposto sobre a banca tão defendido por Francisco Louçã, agora é Durão Barroso que de lá de longe o vem sugerir, juntamente com o IVA especial para as empresa. Mas da UE, talvez já tenhamos pouco a esperar, da mesma UE que enviou dinheiro para os Estados para não produzirem, como aconteceu em Portugal, e que tão prodigamente foi distribuído por Cavaco Silva, agora vem o "grito de revolta", que é a aposta na agricultura de novo. A UE não sabe que caminho seguir e os Estados andam à deriva, como o nosso, apenas com a intenção de pagar aos seus credores e não em apostar no crescimento com base nas exportações, como acontece com o nosso governo que, mesmo no seu programa hoje aprovado na AR, não lhe dedicou nem uma palavra.
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