Manifesto dos Economistas Aterrados
Numa altura em que o novo governo de Portugal está a iniciar funções, este livro apresenta uma enorme actualidade. Porque este novo governo é determinado por teses ultraliberais - como é do conhecimento geral - tal implica que as políticas que irão ser seguidas - já para não falar das da "troika" - serão muito restritivas quanto ao estado social, alinhando pelo que é hoje o projecto ultraliberal europeu, que tem conduzido a Europa a um beco sem saída, quiçá, à sua própria destruição. Terão os responsáveis políticos europeus aprendido alguma coisa com a crise causada pelos excessos do sector financeiro? Há dúvidas. Para reduzir os défices ocasionados pelo resgate de bancos e com a recessão, a Comissão Europeia e os governos apressaram-se a aplicar pacotes de medidas que, historicamente, têm demonstrado poder aumentar a instabilidade económica e as desigualdades sociais. Estas políticas de submissão ao poder da finança põem em risco o futuro do projecto europeu. Aterrados com tudo isto, os autores - Philippe Askenazy, André Orléan, Thomas Coutrot e Henri Sterdyniak - tomaram a iniciativa de escrever este manifesto. Aqui se denunciam dez falsas evidências, cientificamente infundadas, brandidas para justificar as actuais políticas na Europa, apresentando para dicussão vinte e duas propostas que visam uma estratégia alternativa. Inicialmente dirigido à comunidade de economistas, este manifesto destina-se sobretudo aos cidadãos. Hoje, está bem patente a fragilidade das afirmações dogmáticas de "especialistas" e dos seus diagnósticos. O que se pretende com este texto é ajudar as pessoas a expressar as suas dúvidas e reforçar a ideia de que se podem debater outras opções. Opção fora do âmbito ultraliberal, apostando mais nos mais desfavorecidos, no serviço de saúde gratuito, na escola pública, em suma, numa economia mais saudável virada mais para o cidadão comum e menos para o grande capital. Nestes momentos de crise, é tempo de se pôr tudo em causa, visto o modelo que tem sido seguido já ter mostrado o seu falhanço. A Europa terá que sofrer uma remodelação profunda, possivelmente com a saída de alguns países, mas rejeitando a tutela alemã que já se esqueceu dos problemas que teve a quando da reunificação, bem como, o papel que teve quando arrastou a Europa para duas guerras mundiais. Por vezes esquecemo-nos disso, mas os factos estão aí para provar a verdade desta asserção. Neste cenário actual, talvez esteja na hora de os países periféricos se unirem, formando um grupo coeso contra a tirania alemã, isto é, assumindo a revolta contra aquilo que se está a passar e deixando de ter o comportamento dos "bons alunos". É altura de questionar a Europa - à qual todos nós pertencemos - sem medos, mas com firmeza e determinação. Por tudo isto, este livro é muito interessante no contexto actual, oportuno até, e deve ser lido com atenção porque nele encontraremos outras respostas para as mesmas perguntas que todos fazemos, mas respostas bem diferentes daquelas que nos têm "vendido" os actuais dirigentes. Quanto aos autores, Philippe Askenazy pertence ao Centro Nacional de Investigação Científica, André Orléan é presidente da AFEP, CNIC - Escola dos Altos Estudos em Ciências Sociais, Thomas Coutrot é membro do Conselho Científico da ATTAC e Henri Sterdyniak pertence ao Observatório Francês das Conjunturas Económicas. Gente de reputada condição a cima de qualquer suspeita. No final do livro aparecem os nomes dos 630 signatários do manifesto que foi subscrito em 24 de Setembro de 2010. Este pequeno livro em formato de livro de bolso tem a edição da Actual Editora. Livro muito interessante e oportuno que merece ser descoberto por todos os que se interessam pela economia, ou seja, por tudo aquilo que nos afecta e afectará no nosso dia-a-dia nos próximos tempos.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home