Conversas comigo mesmo - XV
Hoje celebra-se o dia de Pentecostes. A tradição cristã é fértil em sobreposições com outras religiões ou até com o chamado "paganismo". Este dia não foge à tradição, porque neste dia celebrava-se o "dia das colheitas", tradição pagã que foi absorvida pelo judaísmo e depois transformada pelo cristianismo. Assim, como disse atrás, o Pentecostes era uma das grandes festas judaicas. Com ela os Judeus celebravam a chegada do seu povo ao Sinai e o dom da Lei, que concluía e selava a Aliança entre Deus e o povo liberto da escravidão do Egipto. Para os cristãos, o Pentecostes é a culminação da Páscoa, é a celebração do Dom do Espírito Santo, origem e fundamento de um novo povo, de uma nova comunidade, a Igreja. Povo formado por todos aqueles que se abrem à presença e à acção desse Espírito, seja qual for a sua raça, a sua cor, o seu país ou condição. A celebração desta festa deve ser, por isso, momento de reflexão profunda sobre a origem da Igreja que somos, da sua Alma e da sua missão. A Igreja é um grupo de homens e mulheres reconcialiados com Deus e entre si, que crêem em Jesus Cristo e que, impulsionados e guiados pelo Espírito que O animou e que Ele agora lhes comunica, que querem acompanhá-Lo na sua obra e salvação, que colaborando na edificação do reino de Deus nas suas próprias vidas e no mundo de que fazem parte: reino de justiça, de verdade, de liberdade, de amor e de paz, que actuando cada um no seu lugar, conforme a sua vocação e circunstância, e de acordo com os talentos recebidos, pois, como nos lembra S. Paulo: "Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum". Como se vê, é voz comum que o cristianismo transformou tudo isto, que trouxe uma boa nova, uma realidade diferente. Mas, apesar disso, não devemos descurar, como disse no início, a coincidência de datas e celebrações que o cristianismo absorveu e transformou. (Como acontece com o Natal e a Páscoa, por exemplo, sobre os quais falarei noutra altura). Isto tem um significado profundo que não pode ser desbaratado e para o qual já venho escrevendo em crónicas anteriores, que o importante é a celebração dum Ser Superior, que pode e deve ser venerado seja qual for a forma, cristianismo, judaísmo, hinduísmo, sejamos mulçumanos ou apenas defensores da Natureza, que devemos venerar, animais que devemos respeitar, aves - intercessoras entre o céu e a terra - que devemos acarinhar, humanos que devemos ajudar, enfim, celebrar Deus dentro de cada um de nós. Se calhar Ele está mais próximo de nós do que aquilo que achamos, porque nesta vida cheia de pressão e de correria, não conseguimos arranjar tempo para olhar para nós próprios, para o nosso interior, pensar naquilo que somos e do que gostaríamos de ser, provavelmente se o fizermos, encontraremos Deus bem junto de nós.
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