Turma Formadores Certform 66

Saturday, June 11, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 109

Nas comemorações do 10 de Junho, lá vamos encontrando os equívocos e o desnorte dos nossos políticos, ou mesmo, daqueles que já o foram e falam deles como se nunca tivessem pretencido a tão delirante grupo. Referímo-nos, essencialmente, aos discuros de Cavaco Silva e de António Barreto. Se do primeiro temos pouco a esperar, do segundo - para quem o não conhecesse - poderíamos pensar que estavamos perante o mais impoluto cidadão, mas não é verdade. Quando António Barreto faz um ataque à classe política, deve estar a esquecer-se - ou pensa que já ninguém se lembra - do que ele foi e fez, enquanto político e ministro socialista. Ainda hoje, se deve poder ler em algumas paredes, alguns "grafitti" alusivos a este personagem. (Lembram-se da "lei Barreto")? Já aqui criticamos duramente a classe política, mas não podemos aceitar que um político ou ex-político venha criticar a mesma classe, como se nunca tivesse feito parte dela, e tendo feito parte dela, a exerceu com muita controvérsia, como foi o caso de António Barreto. É preciso não esquecer que quando em 1974/1975 se fez a chamada "reforma agrária" que veio a criar setenta mil postos de trabalho, António Barreto veio criar condições para a destruir, destruir os postos de trabalho e até contribuir para a destruição do próprio sector. Não nos podemos por de cima duma cátredra a dar lições aos outros quando, na verdade, não estamos com a consciência tão tranquila assim. Já de Cavaco Silva nunca esperamos nada de especial. O ano passado foi duma dureza inconcebível para com o governo, este ano veio de falinhas mansas - afinal já tinha conseguido afastar Sócrates - falar do retorno à agricultura. Confessamos que enquanto o ouvíamos ficamos com a sensação dum certo retorno bucólico às origens, bem dentro da filosofia "hippie". Tal como Salazar à umas décadas atrás dizia que a pureza do campo é que era importante, face ao bulício da cidade, para melhor afastar os mais desfavorecidos da contestação social que tanto temia, vem agora Cavaco dizer o mesmo, por outras palavras que os tempos mudaram, esquecendo-se que quem ajudou a destruir o que restava da agricultura foi ele mesmo enquanto PM. A desertificação começou com Cavaco, não podemos esquecer que ele encerrou 720 Kms de linhas férreas, basicamente no interior. Depois foram os fundos comunitários que ele tanto se empenhou a aplicar que ajudaram à sua destruição, desde o arrancar de vinhas, já para não falar no que aconteceu no sector das pescas, com a distribuição de dinheiro para destruir a frota. E já agora, não se pode esquecer o imenso betão que se produziu nessa altura e que tanto ajudou ao êxodo para as cidades. Não podemos aceitar que se passe uma esponja sobre o passado como se nada tivesse acontecido antes, e quem tanto contribuiu para tudo isto, venha agora dizer que os outros é que estão errados, e ele é que está certo, afinal ele "nunca se engana e raramente tem dúvidas". Temos vindo a assistir nos últimos tempos a um certo sacudir a água do capote de políticos que tiveram grandes responsabilidades no passado e agora querem passar por entre os pingos da chuva como se não tivessem feito nada, ou tudo o que fizeram foi para o bem das populações. Isto também é o desaforo dos políticos ou ex-políticos que em nada contribuem para a dignificação da política entre nós. Depois dizem que os jovens se afastam da política, com exemplos destes não sabemos se seria doutro modo. Como dizia o Prof. Agostinho da Silva: "As pessoas não têm virtudes nem defeitos têm características". É altura se reflectirmos sobre isto e não nos deixarmos embalar no canto da sereia que, normalmente, termina sempre da mesma maneira. Já para não falar do oportunismo de outros, que embora não sendo políticos têm uma voz que sabem influente no país. O caso mais curioso foi, recentemente, o de Belmiro Azevedo, que tanto criticou Sócrates na hora da saída, mas enquanto ele foi poder - e, sobretudo, poderia ser útil - nada disse. Todos nos lembramos do convite feito a Sócrates a quando da implosão das torres de Tróia, para que o seu grupo económico, construísse um empreendimento de luxo. Para não falar na ajuda que teve de Mário Soares nos anos 70 que muito contribuiu para que ele tivesse a pujança e a visibilidade que tem hoje. Enfim, infelizmente, não é só a classe política que trás estes maus exemplos, eles aparecem em todo o lado a mostrar que afinal ainda há muito a fazer na nossa democracia. E seria importante pensar sobre isto. No discurso de ontem de António Barreto - com o qual não concordamos - não deixamos de retirar uma frase importante, que deve merecer a reflexão de todos: "As democracias não são destruídas, destróiem-se a si mesmas". Será um bom princípio para pensarmos o nosso regime e o nosso país nos difíceis dias que temos pela frente.

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