Turma Formadores Certform 66

Monday, June 06, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 106

E o povo votou... O PSD veio a atingir um resultado que poucos se atreviam a acreditar que acontecesse. Que a derrota do PS era inevitável todos o sabíamos, mas que perdesse por margem tão larga é que não se pensava. E desde logo, aqui se coloca uma questão que tem a ver com as sondagens. Na semana anterior, estas davam empate técnico entre PS e PSD. Não é possível numa única semana haver uma tão larga diferença entre os dois partidos. Daí o acharmos que algo vai mal na empresas que se dedicam a esta actividade. E isto, por estranho que pareça, condicionou o voto dos portugueses. Porque com uma proximidade tão evidente, o voto útil acabou por funcionar. (Se calhar, era essa a intenção, ou então, estamos perante um grupo de incompetentes). Quem o afirmou, e bem a nosso ver, foi Paulo Portas que, talvez, tenha sido o mais prejudicado pelo voto útil. Quanto à derrota do PS - e saída de José Sócrates -, pode ser importante para recentrar ideologicamente este partido, que tem andando um pouco afastado dos seus valores fundamentais e inspiradores. Contudo, achamos prematuro e até de algum mau gosto que António José Seguro tenha feito as declarações que fez já no final da noite. Ele que tanto evitou as declarações solicitadas pelos diversos orgãos de comunicação, cremos que depois acabou por fazer uma declaração extemporânea e até incompreensível. Nada disse de relevante, apenas que estava ali para disputar a liderança. Achamos que teria melhor momento para o fazer, o que escolheu foi infeliz. O CDS/PP viu consolidar as suas posições e, com certeza, já está a preparar-se para saltar para o poder, junto com o PSD. E se este partido, tem necessidade do CDS/PP porque não tem maioria, não deixa de ser estranho que não tenha aberto a porta ao PS. Se o problema era Sócrates, agora que ele saiu, não se compreende a atitude. Pensamos que é o primeiro erro de Passos Coelho após a sua eleição. Primeiro, porque ele bem sabe que, existem matérias que só poderão ir em frente com o apoio do PS - nomeadamente aquelas que exigem dois terços na votação -, depois porque ao pôr de lado o PS coloca este do lado da oposição, logo da contestação de rua, que será o maior problema para o novo governo, quando tiver que aplicar as graves políticas que vai ter que implementar. A festa de ontem, pode vir a tornar-se num terrível pesadelo, e pensamos que Passos Coelho foi inábil. Quanto à restante esquerda pensamos que deve ser colocada esta questão: Valeu a pena alearem-se à direita para derrubar um governo, ele também de esquerda? A resposta poderá estar no colapso do BE que, recordemos, foi o primeiro partido a abrir caminho para a instabilidade política que se veio a verificar. Não esquecemos a infeliz moção de censura anunciada pelo BE com um mês de antecedência? O eleitorado não esqueceu, e o BE foi, certamente, vítima de si próprio, vendo-se atirado para um grupelho de protesto e nada mais do que isso. Francisco Louçã terá que pensar se quer um BE como partido de protesto ou, como muitos pensaram, quer um partido com vocação de governação. O sinal que deu está à vista, e os portugueses mostraram que não gostaram da atitude. Quanto à CDU, nada de novo, fixou o eleitorado como é normal nas hostes comunistas. Mas, o mais importante em tudo isto, foi o valor da abstenção. Esta está a tornar-se preocupante na nossa democracia, onde o divórcio do eleitorado é cada vez mais claro. Os partidos já não respondem aos anseios das populações, e por isso, será necessária uma reflexão em torno do problema. Este é um problema de cidadania que pode ter impacto muito forte na nossa democracia. Esta tem que se abrir, rapidamente, à participação dos movimentos sociais e cívicos, mas para isso, muito trabalho tem que ser feito, e os actuais partidos, têm que se abrir mais à sociedade civil, salvo o que poderemos estar numa encruzilhada na nossa democracia. Mas agora, o que mais nos importa a todos é o dia de hoje. Logo após o amanhecer. Como vai ser? Que sacrifícios se vão fazer? Como vamos enfrentar as muitas dificuldades que vêem por aí? Depois da festa, vem a ressaca. Essa já começou, e não há sequer tempo para isso, porque a urgência do país a isso impõe. Vamos esperar para ver, se a vitória do PSD é ou não uma vitória de Pirro. A rua aí estará para dar o sinal... e todos sabemos que vai ser duro.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home