Conversas comigo mesmo - XIII
Muitas vezes dizemos que somos cristãos, que frequentamos a Igreja - daí dizermos que somos "praticantes", designação que só os católicos têm - mas muitas vezes não sabemos o que é ser cristão, nem as implicações que isso induz. Deste modo tão simples, traça-se o perfil do cristão, dizendo que cristão é aquele que procura compreender e viver toda a sua vida a partir da escuta sincera de Jesus Cristo e da sua mensagem, dessa escuta sincera e contínua nasce o conhecimento que se traduz numa relação, de amizade, de comunicação recíproca e de confiança inabalável. Mas não basta escutar Jesus ou admirar a sua mensagem é preciso segui-Lo, deixar-se conduzir por Ele. Só esse seguimento nos torna seus discípulos e testemunhas, sinais e instrumentos da sua paz e da sua misericórdia. Daqui se deduz que não basta ser "praticante", por vezes aqueles que aparentemente nem a igreja frequentam, têm mais proximidade com Ele do que os outros. Sobretudo, quando respeitamos o próximo e o auxiliamos na sua caminhada na vida, quando respeitamos os animais, esses seres sem voz e sem direitos que por vezes achamos entes menores, quando respeitamos a natureza que tão vilipendiada é por nós diariamente, quando respeitamos o planeta, nossa casa comum, que vamos destruindo paulatinamente, em suma, quando respeitamos tudo o que nos cerca e que - segundo a teologia cristã - é obra de Deus. Mas falamos muito em igreja, mas o que é a Igreja? O apóstolo S. Pedro fala-nos dela como de um edifício espiritual em construção sobre Pedra Viva e fundamental que é Jesus Cristo. Esta imagem da igreja como templo em construção é particularmente sugestiva, dizendo-nos, claramente, que cada um de nós tem nela um lugar e uma função; que todos somos responsáveis pela sua imagem, pela sua vida e pela sua missão, ainda que de modo diferente, cada um segundo a sua vocação, as suas aptidões e circunstâncias. E, já agora, o que é a paróquia? É uma concretização da igreja a nível local. Ou seja, é um povo que anuncia, celebra e testemunha a fé, tornando-se, aqui e agora, sinal de uma presença e acção através dos serviços que assume e realiza, tais como, o serviço da palavra, o serviço da oração e o serviço da caridade. Não basta dizer que somos cristãos se desconhecemos o espaço em que o cristianismo se espalha, sem compreendermos o tempo que foi o de Jesus Cristo e aquele que é o nosso - e, por vezes, a igreja católica tem dificuldade em se adaptar aos novos tempos afastando assim, muitas pessoas que não se revêem na doutrina - mas, fundamentalmente, nos ensinamentos e no conforto moral que nos trás, sobretudo, quando estamos perto da morte. Podemos não ser católicos "praticantes" - um eufemismo particular do catolicismo -, podemos até o dispensar em outras alturas fundamentais da nossa vida, mas, quando pressentimos que estamos a chegar ao fim da nossa vida, não deixamos de recorrer a ele, para nos confortar e, muitas vezes, na tentativa de "adquirir um bilhete" para a nova viagem, "bilhete" que fomos recusando ao longo da nossa vida. Por vezes, o destino faz com que nos deparemos com testemunhos de fé. É o caso da foto que acompanha este texto. Foi por mim tirada em Fátima, já lá vão vários anos, mas nunca me deixou de impressionar. A fé dum homem, que estava só, com uma devoção imensa - quase transcendental - num recolhimento que nem sempre vemos nesse local. Uma imagem punjente, dum homem só - tal como Jesus Cristo -, na grandeza, na humildade, na serenidade que me transmitiu naquele momento quando, por mero acaso, me cruzei com ele. Esta imagem tem-me acompanhado ao longo dos anos. Não sei porquê, mas parece que ela encerra algo de notável, algo de místico que me tocou profundamente.
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