Turma Formadores Certform 66

Wednesday, May 18, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 98

Como se não bastasse o mundo de confusão e de insultos em que a corrida eleitoral se tornou, fez com que viesse a lume mais uma trapalhada a envolver o partido de Passos Coelho. Agora, trata-se da cultura. Uma das figuras próximas do líder laranja veio afirmar que se o PSD ganhar as eleições o ministério da cultura acaba. Num país onde a cultura tão maltratada tem sido, acabar com um ministério que a ela se dedique é algo de impensável. Gabriela Canavilhas já veio a terreiro dizer que se "trata dum retrocesso civilizacional", frase bem aplicada, na nossa opinião. Todos sabemos que à que efectuar cortes para a redução dos encargos do Estado, mas porque é que a cultura há-de sempre ser a sacrificada. Aliás, pensamos até, que a cultura deveria ser reforçada, porque o país bem carente dela está, basta ver o triste espectáculo que os políticos têm dado por esse país fora. Talvez por isso, é que alguém ache por bem extinguir o ministério da cultura, assim já não têm que se justificar. Mas nem só de política se fez esta semana. Tivemos a surpreendente revelação da prisão de vários elementos da PSP, acusados de extorção, tráfico de droga, etc. Foram presentes à justiça que determinou, para dois deles, a prisão preventiva. Se foi surpreendente a prisão destes agentes, foi mais surpreendente que alguns deles sejam graduados da instituição. Mas o mais preocupante foi ver alguns colegas à porta do tribunal a dar apoio as seus colegas presos. Afinal que polícia é esta? Que confiança podem ter as populações nesta instituição e nestes agentes? Perguntas que ficam para a reflexão de cada um. Mas ainda voltando àquilo que a todos nós aflige - a situação do país - pensamos que muito se tem exagerado. Provavelmente para que quando as medidas vierem - por mais graves que sejam - ficarem áquem daquilo que todos nós esperavamos. Isso já foi feito no passado recente e, agora, parece que se torna a repetir. A situação do país é grave - pensamos que ninguém tem dúvidas disso -, mas também pensamos que as coisas não são tão negras assim. Se fizermos a comparação com aquilo que se passa nos EUA, verificamos que, por exemplo, a Califórnia tem uma dívida pública que ultrapassa os 400% do PIB (!), e ainda devemos saber que, um terço dos estados americanos estão falidos. Só para uma breve comparação diremos que, a situação da Grécia é menos grave do que a do estado da Califórnia. Daí o não pensarmos naquilo que os americanos defendem para o FMI, dizendo que se um país está à beira da bancarrota é deixá-lo falir. Isto a propósito da visão futura desta instituição, depois do seu director se ver envolvido num escândalo sexual. Angela Merkel já veio afirmar, - e bem quanto a nós -, que quer um europeu à frente do FMI. É sabido que Dominique Strauss-Kahn sempre defendeu os interesses europeus e o euro, - e a ajuda à Grécia, Irlanda e Portugal, são disso exemplo -, com taxa bem inferior à da UE. Aliás, os EUA que têm um elevado valor da sua dívida subscrito pela China (!) deveria ter alguma cautela sobre aquilo que diz e, sobretudo, sobre aquilo que faz. Já que falamos em taxas, foi conhecida, no início da semana, a taxa para Portugal depois da reunião do Ecofin, que será de 5,1% durante sete anos e meio. (Já agora, convém dizer que nas próximas duas semanas, virá a primeira tranche de 18 mil milhões de euros, valor mínimo que é concedido antes de saberem o que resultará das eleições). Beneficiando dos ajustamentos feitos à Grécia e à Irlanda, mesmo assim, continuamos a achar esta taxa muito elevada, e de difícil compromisso. A economia portuguesa não tem crescido tanto assim e, agora que a recessão voltou e vai por cá ficar até ao final de 2012, pelo menos, será difícil perceber como poderemos cumprir estas obrigações, com a economia em contracção. É evidente que a UE não tem dado a maior ajuda, como lhe competia - e à dias Helmut Kohl, o antigo chanceler alemão afirmava que "a Europa tem que se precaver com o regresso dos nacionalismos à Europa". Nada mais sensato e oportuno no momento que atravessamos. Mais uma vez, o "touro da Baviera" - como era conhecido Kohl - pôs o dedo na ferida. Ele que foi um grande estadista europeu, numa altura em que a Europa se podia orgulhar do nível dos seus estadistas, e não como agora, onde estes amanuenses da política não têm sequer sentido de Estado, a começar por Angela Merkel, que tudo faz em favor da Alemanha e da sua sobrevivência política, em detrimento do projecto europeu. As palavras de Kohl assentam-lhe bem e, seguramente, devem ter-lhe dado algum desconforto. Mas não é só na Europa que se nota a falta de estadistas, por cá, sofremos do mesmo mal. E voltando àquilo que de pior tem a política portuguesa, vemos um Passos Coelho a criticar duma forma despudorada as "novas oportunidades". Já aqui neste espaço, tivemos oportunidade de alertar para alguns desvios face àquilo que achavamos ser a linha coerente das "novas oportunidades". Mas criticá-las desta maneira, parece uma farsa do mais baixo quilate. Muita gente beneficiou deste projecto, pessoas que queriam reforçar as suas competências e que, no tempo oportuno, não poderam concluir os seus estudos. Sabemos que alguns sectores empresariais também o criticaram - que coincidência - mas não podemos esquecer que muita gente beneficiou e continua a beneficiar desta iniciativa. Todos nós conhecemos alguém que está ou esteve ligado a este projecto de valorização profissional, e isso é importante, porque nem todos tiveram oportunidade de estudar, muito menos em colégios privados. Acresce ainda que, as "novas oportunidades" foram certificadas pela Universidade Católica, num projecto dirigido pelo Prof. Roberto Carneiro, um ex-ministro da educação num governo... PSD!!! A UNESCO achou-o um exemplo a ser seguido no mundo, mas Passos Coelho não acha assim. Ele, de cima da sua sapiência, acha que é "um certificado à ignorância"!!! Foi-se Catroga mais as suas afirmações, mas parece que Passos lhe quer seguir as pisadas. Como diz um provérbio árabe: "Não abras a boca se não tens a certeza de que aquilo que vais dizer é mais belo do que o silêncio". Passos Coelho, seguramente, não conhece o provérbio... Num país onde a oferta cultural ainda é deficitária parece que Passos Coelho quer manter os portugueses na ignorância, numa atitude muito próxima do regime anterior. Mas as confusões do jovem líder laranja não ficam por aqui. Agora acha que a taxa que Portugl vai pagar pela ajuda externa "é um castigo para Portugal", contudo, foi o homem que assinou de cruz o acordo sem colocar questões ou reservas. E agora, quer renegociá-la!!! É certo que a taxa de 5,1% é exagerada, e que dificilmente vamos conseguir assumir os nossos compromissos. Como bem disse Bagão Félix "esta ajuda é envenenada. A Europa não pode ser agiota". Esta taxa é fixada por uma "bench mark" acrescida dum "spread" fixados pelos vários países da UE, tendo como referência a Grécia e a Irlanda. Mas mesmo assim, não deixa de ser agiota, mesmo comparada com a que o FMI cobra. Mas como disse Francisco Louçã: "Passos Coelho muda muito de opinião". Todos já tínhamos percebido isso, por mais distraídos que andemos. Na política - infelizmente - vale quase tudo, sobretudo, quando temos políticos que estão longe de ser estadistas, buscando apenas "o pote" por circunstancialismo e mera ambição de poder.

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