Equivocos da democracia portuguesa - 97
Finalmente parece que alguém mandou calar Eduardo Catroga que, segundo o próprio, "não falo mais, vou de férias". E isso é o melhor que poderia ter acontecido ao PSD, depois do ex-ministro das finanças ter vindo fazer afirmações no mínimo desconexas e impróprias. Desde a famosa TSU que agora subia não 4% mas 8% (!), - o que Carlos Moedas se apressou a desmentir -, até à linguagem imprópria como aquela que utilizou na SIC Notícias: "Os jornalistas passam a vida a discutir pentelhos em vez de discutir o que interessa". Enfim, para um ex-ministro de Cavaco não deixa de ser demais, e pensamos que até o próprio Cavaco terá ficado surpreendido - tal como nós - com afirmações despudoradas, brejeiras, mal-educadas do seu correlegionário. Mas parece que o silenciaram, talvez tenha sido o melhor. Mas as contradições do programa eleitoral do PSD não ficam por aqui. Agora é a privatização da RTP - um absurdo - que fez Marcelo Rebelo de Sousa vir a terreiro, e bem, dizer que isso era difícil porque viria diminuir a qualidade do canal e até, poderia ter um efeito preverso nos canais privados. Depois foi a estratégia para a Educação, que levou a fortes críticas de Santana Castilho, que acusou o PSD de ter um programa desajustado, tendo inclusivé copiado partes do livro que ele estava a apresentar com... Passos Coelho e, para cúmulo, terem-nas colado mal. Tal crítica desassombrosa e retumbante levou a que Passos Coelho tivesse admitido, em público, que iria rever essa matéria. Como disse Paulo Portas, - e não só -, o programa do PSD dá a sensação de que foi feito sobre o joelho, mas com pouca ou nenhuma consistência. Na tentativa de querer mostrar serviço, de querer ir mais longe do que a "troika", o PSD enreda-se nas suas próprias malhas. Como dizia Almada Negreiros: "Todas as palavras para salvar o mundo já tinham sido ditas, faltava apenas salvá-lo". Vieram a lume as últimas notícias que davam a informação de que Portugal entrou de novo em recessão, informação veículada com grande aparato nos meios de comunicação social, sempre alarmista. Essa "caixa" não faz sentido, porque tal já era conhecido. O efeito das medidas de ajustamento do défice a isso já tinham conduzido - Portugal está em recessão desde Janeiro deste ano (embora tecnicamente só tal se considere quando existem dois trimestres negativos) - e as medidas que se vão aplicar no âmbito do acordo com a "troika" continuarão a manter o país em recessão. Como já aqui dissemos, só em 2013 é que as coisas se inverterão, caso o plano seja bem aplicado. Tal como o desemprego que se vai fixar nos 13% - informação dada na conferência de imprensa pelo minstro das finanças à vários dias atrás - e que só em 2013 é que irá evoluir, não se justificando assim, mais uma vez, as "caixas" jornalísticas, embora saibamos que em campanha eleitoral todas as armas são utilizadas. Depois foi a informação de que a dívida tinha ultrapassado os 100% do PIB - facto, também, já esperado - que significa que a produção total dum ano, não existindo consumo, iria para pagar a dívida. Isto prende-se com uma diminuição da produção, que conduz a um menor rendimento, que implica uma contracção no consumo, que a verificar-se leva a uma queda no investimento e, logo, no emprego. O factor de compensação tem sido o aumento das exportações, que esperamos se continue a verificar. Mas o que falta é consistência nas propostas e na sua explicação junto dos portugueses. Paulo Portas no debate com Passos Coelho veio afirmar que "o PSD altera as suas próprias opiniões a todo o momento", o que é um facto, como já atrás demonstramos, e isso não é bom para esclarecer o eleitorado, mesmo aquele que aposta no PSD que, ou lhe passam um cheque em branco, ou não conseguem saber aquilo que o partido defende para Portugal. E agora que tanto se fala da TSU, e do seu abaixamento para as empresas, é bom dizer como se vai controlar tudo isto, para que a folga que as empresas vão ter sirva para as tornar mais competitivas e não para aumentarem os lucros. Portugal, como é sabido, tem muitas empresas com posição dominante, assim, é de esperar que, num mercado português tão desregulado, a folga que estas empresas vão ter seja desviada, seguramente, para o lucro. Daí o afirmarmos que não basta apresentar propostas, mas devem esclarecer com as vão implementar e controlar, caso contrário, o esforço será em vão, beneficiando apenas um punhado de pessoas que, em boa verdade, não precisam desse apoio. Neste arrazoado de informação desconexa, assim vai a nossa política, e os portugueses sem saberem ao certo o que cada partido defende, porque parece que tal, eles não querem revelar. O PSD tem uma agenda escondida - todos o sabemos - mas será que os outros também não a têm? Todos sabemos que estamos a ser vítimas da especulação dos mercados financeiros, e os juros que as instituições que estão a subscrever o empréstimo são disso o exemplo. A taxa acima de 5,5% que é expectável, está muito para além da nossa capacidade de solver a dívida. Basta dizer que a economia portuguesa não cresce 5% à mais de 10 anos... Daí o espectro da reestruturação da dívida tomar corpo, como está a acontecer na Grécia. Porque se a economia não alavancar nos próximos dois a três anos, estaremos a pedir novo empréstimo logo de seguida. Mas se a reestruturação da dívida é má para o país, ppara os especuladores não será tanto assim. Estes têm sempre a cobertura dos CDS - não confundir com o partido de Portas - (CDS é a sigla de "Credit Default Swap"), isto é, se um país não cumprir os credores têm este seguro de risco, que lhes dá cobretura, servindo até para apostar se o país vai cumprir ou não. Este é o nível a que o capitalismo (selvagem) chegou. Isto é preciso ser denunciado, para que todos saibam a armadilha em que estamos metidos. O problema é que não temos outra alternativa. Mas estas questões deveriam ser discutidas nos debates e nos comícios que se avisinham, contudo, os políticos preferem seguir a via do insulto rasteiro, da insinuação torpe, o confronto, em suma, aquilo que menos interessa aos portugueses. É preciso que saibamos que a campanha eleitoral não é um combate de boxe, mas um esclarecimento a que todos os portugueses têm direito. Mas os políticos não parecem pensar assim, duma ponta à outra do espectro político. Eles lá saberão porquê.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home