Conversas comigo mesmo - XIV
Dei comigo a reflectir sobre aquele "fenómeno" - um milagre segundo alguns peregrinos - que se verificou em Fátima no último 13 de Maio. (Ver foto anexa). Tentei saber o que tinha acontecido, e se havia alguma explicação científica para o que aconteceu. De acordo com algumas informações que recolhi, fiquei a saber que esse "fenómeno" acontece com alguma frequência, tratando-se de cristais de gelo na atmosfera que reflectem brilho dada a intensidade da luz solar. O certo é que para muitos peregrinos isso não foi mais do que um sinal quando se descerrava a foto do Papa João Paulo II, celebrando a sua beatificação. Dum lado está a explicação científica, do outro uma questão de fé. Mas a fé também é isto mesmo, a construção no nosso imaginário de algo transcendental que nos faça suportar melhor as agruras desta caminhada que todos fazemos, a que chamamos vida. Mas, em tempos de dificuldades, de desânimo, de desesperança, isto será um tónico para melhor as ultrapassarmos. Neste encontro com o sobrenatural, com a consciência de cada um, encontrar e conhecer Jesus Cristo, reconhecê-Lo como amigo fundamental, confiar n'Ele acima de tudo, escutá-Lo e segui-Lo em todas as circunstâncias, é isso ter fé, é isso ser cristão, é isso "venerar Cristo Senhor em nossos corações". E quem descobre em Jesus Cristo a luz e o caminho que dão sentido à vida, sente que não se pode calar nem esconder a sua fé, mas deseja, sinceramente, que a todos alcance. A fé, porém, não se impõe: testemunha-se e propõe-se "com brandura e respeito" como nos recomenda o Apóstolo. Ou seja, não se trata de convencer, pela força dos nossos argumentos, quem não pensa nem crê como nós... Trata-se de estarmos preparados e disponíveis para responder, a quem quer que seja, sobre a razão da nossa esperança. Trata-se de apresentar, com simplicidade, com seriedade, acreditamos e procuramos viver o testemunho - ou o procedimento - é o argumento essencial, como diz Pedro. E assim o confirma o grande Ghandi nesta confissão, que faz bem lembrar: "Não procuro dar a outrém a minha religião, mas fazer com que vejam Deus através de mim, desde que eu O possua verdadeiramente e O exprima, de facto, nas minhas acções quotidianas". Como se vê, não é necessário ser cristão para afirmar palavras tão belas e profundas. Desde que elas representem o sentimento profundo do coração perante os nossos semelhantes, e para tudo o que nos rodeia, neste mundo cheio de contrastes, belo quando visto à distância, turculento quando o vemos mais de perto. Vejam a frase de Bento XVI quando à dias falou para a estação espacial, quando disse: "Se era possível lá de cima, perceber as dificuldades que por cá sentimos". Mas não quero ser reducionista, isto é, achar que o cristianismo é o princípio e o fim. Para mim, até pode ser, mas não o será para muitos outros. Para esses, talvez o budismo seja a solução, para outros, o islamismo é que é o verdadeiro caminho, para aqueles outros, o judaísmo é que é a verdadeira doutrina, para os hidús esse é que é o verdadeiro rumo a seguir nas nossas vidas. Para aqueles que amam a natureza, esta é a verdadeira essência de Deus, para os que amam os animais, estes são a maior expressão do divino através dos quais buscamos a nossa redenção. Enfim, o homem é um poema recitado pelo destino. Desfrutemos desse poema, busquemos aquilo que nos une e não o que nos separa, busquemos o equilíbrio com o mundo, nossa casa comum, com a natureza, com os animais e, talvez aí, encontremos a verdadeira dimensão do divino pelo qual ansiamos, em contraponto com as agruras da vida, do desencanto, da frustração, do ódio mesquinho que corrói, das diferenças que separam, das invejas que envenenam, dos nossos limites que nos arrazam.
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