Equivocos da democracia portuguesa -102
A campanha eleitoral lá vai andando, cada vez mais crispada e insultuosa, coisa que todos devíamos rejeitar. O PSD é o único partido que tem enveredado pelo insulto explícito, o que não fica bem ao maior partido da oposição, e um dos candidatos a vencer as eleições. É Morais Sarmento a comparar Sócrates a Saddam, é José Luis Arnauld a comparar Sócrates a Drácula, - e este até devia ter mais bom senso, depois do disparate que disse na SIC Notícias, quando opinou que "a TSU não tem nada a ver com a Segurança Social"(!), suprema ignorância - transformado a campanha do PSD numa espécie de baile de máscaras. Até parece que só existe Sócrates e não um partido que o elegeu para seu líder. Esta é uma campanha menor, logo quando se pedia aos partidos políticos que tivessem elevação e que não fechassem as portas a entendimentos futuros, como o fez realçar Cavaco Silva. Numa altura em que é preciso serrar fileiras, os nossos políticos dão este degradante espectáculo. É ver o que se passa para além fronteiras e que muito condiciona Portugal. É interessante verificar que os juros estão em alta em toda a zona periférica do euro, e será tudo isto, só obra da má gestão? Para além da Irlanda , Grécia (que apesar da ajuda externa, está na iminência da bancarrota) e Portugal, agora é a Itália que está sob a mira dos especuladores, bem como a Bélgica, que ainda ontem viu o seu "rating" diminuído. Como já aqui afirmamos por diversas vezes, esta situação é muito mais ampla do que a simples má gestão. Este ataque desenfreado contra a Europa e contra o euro não tem precedentes, e a crise não justifica tudo. Mas fora da Europa as coisas não estão melhor. Só para termos uma ideia, os EUA têm um déficit de 14 biliões de dólares! (Para aqueles não tão familiarizados com esta ordem de grandeza dizemos que é 14 seguido de doze zeros à direita!!!). Mas voltando à campanha, vemos que o PSD é o único partido que está a fazer uma campanha de casos, para ver se assim consegue mobilizar os portugueses. Ou são as nomeações, ou as dotações, ou seja lá o que for - hoje veremos o que virá - numa campanha sem brilho fazendo do ataque pessoal o seu móbil, talvez porque não tenham outro... Bem tem andado Paulo Portas que tem conseguido fazer - até agora - aquilo que se costuma chamar de "campanha limpa". No domingo passado, criticou-se o grupo de estrangeiros num comício do PS. Confessamos que foi lamentável ver pessoas que nem sabiam falar português, mas aquilo que se chama de "estrutura de voluntários" - que até estão integrados em empresas do género - são transversais a todos os partidos, nomeadamente os maiores que têm mais disponibilidades financeiras. Nós que já participamos em campanhas eleitorais sabemos bem o que por aí se faz. Mas, neste caso, pensamos que só os pequenos partidos estão inocentes, porque todos os outros, a empresas do género recorrem, para compôr os seus comícios. Mas mais lamentável do que isto, é o facto de vermos jornalistas - que deviam ser isentos - a tomar partido contra este e a favor daquele. Isto é nítido em Mário Crespo, jornalista que até admiramos, mas não deixamos de criticar a sua falta de isenção que chega a ser obsessiva. O que faz falta é o esclarecimento dos portugueses, que é para isso que se fazem as campanhas eleitorais. E já que falamos em esclarecimento, achamos por bem trazer aqui a famosa TSU de que tanto se fala e nada se diz. Convém explicar que a redução da TSU funciona em dois mecanismo: a) altera a favor dos primeiros o preço relativo entre o sector transaccionável (ST) e o não transaccionável (SNT), pois que a desvalorização da moeda inflaciona o preço do ST em moeda nacional; b) embaretece o custo laboral, em termos reais, uma vez que a inflação gerada "come" parte do salário nominal. Uma coisa tão simples e parece que os políticos não querem dizê-lo às populações. Sabemos que isto não dá votos, mas já que trouxeram o assunto para a campanha, esclareçam-no. No fundamental, o importante não é dito, e daí recordarmos as palavras de Agustina-Bessa Luis quando afirmou: "Não nos interessa quem diga o que está mal, mas sim, quem compreenda o que está bem". A ideologia da escritora é bem conhecida, - logo insuspeita -, o que dá mais força ao comentário. Nesta campanha de casos diários - que parece ser a aposta do PSD - lá se vão delapidando mais algum dinheiro dos contribuintes, que mais não serve do que, para passar vaidades, ódios e maledicências, que nada têm a ver com o esclarecimento dos portugueses que, no final, são os que os elegem.
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