Turma Formadores Certform 66

Tuesday, June 07, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 107

Depois das eleições e do frenesim que se instalou para a formação do novo governo, cumpre aqui, uma palavra ao PM cessante, José Sócrates. Nunca neste espaço idolatramos quer quer que seja, nem pensamos que essa seja uma boa atitude em política. Contudo, também não o diabolizamos como muitos. Mas, neste momento, não resistimos em deixar aqui uma saudação a José Sócrates. Primeiro porque foi um verdadeiro líder. Atrevemo-mos a dizer que Sócrates foi, talvez, o líder mais carismático do PS para além de Mário Soares. Ele, desde o discurso da sua tomada de posse, começou a enfrentar as críticas de vários sectores da sociedade que viram os seus privilégios afectados. O primeiro - derivado desse discurso de tomada de posse - foram os farmacêuticos. Todos pensavam que Sócrates seria mais um com novas ideias, mas que as exigências da governação, levariam a mudar de rumo. Não contaram com a determinação e força interior deste, e a breve trecho muitas das corporações instaladas na sociedade portuguesa começaram a fazer-lhe uma guerra sem quartel, nem sempre para isso, com processos que se possam considerar limpos. Como nada conseguiam, tentaram atacá-lo por diversas vias - a judicial foi apenas mais uma -, mas parecia que quanto mais o atacavam mais ele se fortalecia. E o certo é que os resultados do governo cedo começaram a aparecer, não fosse a malfadada crise, e talvez hoje, a história tivesse sido outra. Todos os objectivos estavam a ser atingidos e com sucesso, e o mundo começou a olhar para nós como o bom exemplo a seguir, - afirmação que correu nos corredores da UE -, e que vinha mostrar que Portugal tinha um líder forte e determinado para levar em frente o país. Contudo, a crise veio, e as coisas complicaram-se, mesmo assim, este homem ainda conseguiu ganhar as eleições seguintes, - embora sem maioria absoluta -, mas que demonstrava que os portugueses, apesar das dificuldades que iam aparecendo, o consideravam a pessoa certa no lugar certo. Mas esta foi-se agravando, e os portugueses começaram a mudar de opinião. A esquerda, - a mesma esquerda onde o PS se insere -, foi a primeira a trair, aliando-se à direita, numa estranha convergência, para o derrubar. (O BE, que foi o principal motor de tudo isto, veio a sofrer a penalização que os portugueses lhe infligiram nas eleições.) Mas a propaganda em torno do que estava a acontecer era por demais evidente. Sócrates sempre resistiu à entrada da ajuda externa, mas pressionado pela crise política criada pela própria esquerda e bem aproveitada pelo PSD, com a cumplicidade da banca, levou a que esta viesse mesmo para Portugal. É sempre mais fácil culpar um governo num momento de crise em vez de a esclarecer. E até não havia interesse em esclarecer a crise, porque o que interessava era ir, rapidamente, "ao pote". Passos Coelho na sua inexperiência o veio a afirmar para embaraço dos seus pares. Mas os dados estavam lançados. A queda do governo era inevitável para gaúdio de muitos que, não podendo combater Sócrates, a todos os esquemas recorreram para o torpedear. Um conhecido conselheiro de Estado do PSD teve o despudor de dizer publicamente que era preciso "passar uma rasteira ao governo". Mas esses, perder-se-ão na poeira da História. Hoje poucos são aqueles que sabem quem foi o autor de tão torpe afirmação, mas Sócrates - com a sua força e determinação - seguramente que terá um lugar na História deste país. Não agora, porque homens com a sua dimensão que tanta tensão provocaram, carecem de tempo, daquele tempo que leva a História a fazer o seu percurso. Sócrates, no passado domingo, teve um discurso lúcido, saiu da liderança do PS - assumindo a responsabilidade da pesada derrota - "com uma grande e espantosa dignidade" (a frase é de um dos seus opositores mais ferozes, - Pires de Lima - que no momento da rendição, teve que o reconhecer). Em tempos, um dos seus outros adversários - o Prof. Fernando Rosas -, dizia que "Sócrates é um político duro". E desses, os adversários não gostam, porque é difícil vencê-los, e as corporações não os querem, porque não se deixam intimidar. Daqui a uns anos, estamos certos, a história que se há-de escrever sobre José Sócrates, será bem diferente daquela que hoje todos nós conhecemos. Porque alguém há-de vir reconhecer o estadísta - mais do que o mero político - a sua força e determinação que pôs na defesa dos interesses de Portugal. (Vejam o sucesso da Cimeira de Lisboa, que muito foi comentada nos corredores de Bruxelas, ou nas suas relações previligidas com os poderosos dessa mesma União, que o consideravam um político determinado, daqueles que fazem falta à própria Europa). Sócrates já entrou para a História - gostemos disso ou não - História onde, muitos daqueles que o vilipendiaram, nunca nela terão lugar. Não pensem que eramos uns defensores da sua política "tout court", muitas vezes neste espaço tomamos posições claras sobre aquilo que pensavamos ser algumas das suas diatribes políticas. Mas não podemos ser complacentes para com aqueles que, com razão ou sem ela, a tudo recorreram para o atacar, utilizando por vezes processos bem pouco dígnos. Na política, como na vida, não pode valer tudo. Mesmo quando não concordamos com alguma coisa ou alguém. Daqui a alguns anos, estamos certos, alguém nos dará razão, a mesma razão que agora, por ventura, não nos reconhecem. Por nós, temos que deixar aqui um agradecimento a José Sócrates pela maneira como conduziu Portugal. Não podemos esquecer que Sócrates foi um dos mais atacados PM na história da democracia portuguesa, diríamos mais, da política portuguesa em geral. Mas ele resisitiu e os portugueses admiram os fortes. Por vezes as derrotas no presente são vitórias no futuro. Pensamos que este é um desses casos.

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