13 de Junho - Dia de efemérides
O 13 de Junho tem sempre a referência entre nós do dia de S. António, referência maior da cultura popular e religiosa, que se celebra em várias zonas do país, tendo como expressão mais significativa a capital, Lisboa. (S. António nasceu em Lisboa a 15 de Agosto de 1191 ou 1195 - não se sabe ao certo a data - e viria a morrer a 13 de Junho de 1231 em Pádua). É, de igual modo, o início dos festejos dos Santos Populares, que nos levarão até ao final do mês. Mas o 13 de Junho é também uma data importante por motivos bem menos prosaicos. Desde logo, o dia do nascimento dum dos nossos maiores poetas, - ao nível dum Luís de Camões -, de seu nome Fernando Pessoa. Poeta nascido em Lisboa a 13 de Junho de 1888 e que viria a falecer, também em Lisboa, a 30 de Novembro de 1935. (Completaram-se, na passada segunda-feira, 123 anos sobre o seu nascimento). O poeta dos heterónimos, que tal como Camões, nunca foi reconhecido em vida pelos seus concidadãos. Poeta maldito para alguns, homem alcoólico e obscuro para outros. O certo é que viveu a sua vida com dificuldades sem o reconhecimento público de que hoje é alvo. Sou dos que pensam que as pessoas devem ser apoiadas e reconhecidas em vida e não depois de mortas daí o desencanto quando vejo as homenagens que os media, bem como as instituições lhe consagram, as mesmas que em vida o renegaram, vilipendiaram, enxovalharam. E não pensem que estou a ser demasiado duro. Talvez não saibam, mas este grande poeta, só foi reconhecido entre nós, depois da atenção que o Brasil lhe começou a dispensar - coisa muito habitual entre nós - por nomes famosos da escrita como Jorge Amado, ou como "diseurs" famosos, desde logo, como a grande cantora Maria Bethânia que o diz como ninguém e o canta amiúde. (É bom lembrar que Maria Bethânia é responsável pela divulgação de outros grandes poetas portugueses, como por exemplo, José Régio). E como tudo o que vem de fora é que é bom, a partir dessa altura, por cá, começou-se a ouvir falar de Fernando Pessoa, cada vez com maiores parangonas que estão na proporção da ignorância da sua obra. Quem já leu a "Mensagem" ou os belos "Poemas Ingleses"? Quem já leu os seus inolvidáveis poemas de amor, como por exemplo, o "Cartas de Amor", soberbamente declamado e cantado pela Maria Bethânia? Hoje é chique, é intelectualmente importante falar-se de Fernando Pessoa, mas quem o leu, quem o compreendeu até aos nossos dias? Estas efemérides de pouco valem, as estátuas ainda menos, quando em vida o não soubemos merecer. Contudo, o assinalar estas datas, é sempre importante, quanto mais não seja, para levar junto dos mais jovens o grande poeta, - como outros da nossa língua - jovens, que cada vez mais andam alheados da cultura e do conhecimento. Mas o 13 de Junho é também de efeméride para um grande artista português que faleceu nesse dia de seu nome António Variações. Este artista nasceu no Lugar de Pilar, Amares, a 3 de Dezembro de 1944 e viria a falecer a 13 de Junho de 1984. António Joaquim Rodrigues Ribeiro de seu nome completo, para o "nick-name" artístico de António Variações, foi um grande artista, hoje celebrado por muita gente, por muitos grupos diferentes que cantam as suas canções, por memórias as mais diversas, mas que no tempo em que ele viveu o marginalizaram, o insultaram, o humilharam, pelo simples facto de ser assumidamente homossexual. Em pleno século XX, ainda estas diferenças eram importantes - tal como hoje, em pleno século XXI -, onde o simples facto de ter sido convidado para ir à televisão pela mão de Júlio Isidro, assumiu nessa época foros de escândalo. Tal como S. António nascido em Lisboa, a mesma Lisboa que viu nascer Luís de Camões - ao que se presume -, a mesma Lisboa que nos revelou Fernando Pessoa ou, a mais afastada Amares, onde nasceu para o mundo António Variações, todos - embora com destinos diferentes -, têm algo em comum, o de serem reconhecidos apenas e só após a sua morte. "Ditosa Pátria minha amada/que tais filhos tem" cantava Camões, só que esses filhos eram (são) tratados como enteados, como bastardos, que viveram sempre à margem da sociedade do seu tempo. País ingrato, inculto, que não merece tão ditosos filhos. Que saibamos ao menos, transmitir às novas gerações o legado importante que estas figuras nos trouxeram e que engrandeceram o nome de Portugal. O 13 de Junho é dia de efemérides - umas celebrando o nascimento, outras a morte -, de algumas figuras importantes da nossa cultura. Saibamos merecê-las e legá-las às gerações vindouras.
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