Equivocos da democracia portuguesa - 110
As negociações para a formação do novo governo continuam, embora pensemos que, este não terá muito espaço para alterar seja o que for, por efeito do memorando da "troika". Mas o importante é que entre governo e oposição exista um clima saudável para se ultrapassar divergências naturais e feridas que as campanhas eleitorais acabam sempre por deixar. Passos Coelho tem dado sinais de que por ele existirá uma sã convivência, embora as palavras em política valham o que valem, e nem sabemos sequer se Passos Coelho terá alguns graus de liberdade para fazer seja o que for, sem ser condicionado pelo próprio partido. Os sinais vindos dos já assumidos candidatos à liderança do PS também não deixam dúvidas de que essa boa relação venha a existir no futuro, porque será fundamental para a aplicação do memorando. Veremos se será assim ou não. O importante é que em momentos de crise - e esta é particularmente grave - se crie uma união de esforços no sentido de a ultrapassar o mais rapidamente possível. Vem-nos à memória uma frase de Ionesco: "As ideologias separam-nos e as angústias e mágoas unem-nos". Esperemos que seja assim, pelo menos angústias e mágoas não vão faltar por cá. Contudo, nós estamos inseridos na UE e pensamos que se tem falado pouco desta entre nós, e seria bom que tal viesse a acontecer, porque aquilo que nela acontecer terá repercurssões sobre o nosso país. Temos que inverter a tendência de considerar que a Europa é algo distante que não nos diz respeito. Uma Europa que está a braços com uma crise tremenda - e o impacto em Portugal já todos conhecemos - onde muito está a ser posto em causa. Desde logo, o euro que foi a seu tempo um grande passo na UE e que se se vier a confirmar que alguns países possam vir a abandoná-lo - fala-se da Grécia e veremos o que acontecerá com Portugal - será seguramente a morte anunciada desta. A reestruturação da dívida grega de que muitos, dentro da UE, já vão admitindo, tem impactos sobre Portugal, aumentando os juros da nossa dívida. Depois a profunda crise social que varre todos estes países, com o cortejo de desempregados conhecido. E medidas como as da "troika" em nada vêm a judar, antes pelo contrário. O facilitar dos despedimentos, induzido pela alteração da legislação laboral, para além de ser preocupante trás no seu seio uma outra medida encoberta e de que ninguém fala, a saber, a diminuição dos salários duma forma indirecta. Isto significa que as pessoas estarão disponíveis para trabalhar recebendo menos em vez de ficarem desempregadas. Todos sabemos como o patronato tem pressionado esta situação, - veja-se a alteração ao salário mínimo travada depois de acordada em concertação social -, para termos uma ideia daquilo que por aí virá. Medidas destas, precisam de um governo forte disponível para as impôr, e não sabemos se este governo tendo na sua matriz uma miscelânea de conservadorismo e ultra-liberlismo estará interessado em fazê-lo. Em nossa opinião não será por aqui que teremos boas notícias, compete a este mostar que estamos enganados.
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