Jorge Semprún - Um combatente da liberdade
No passado dia 7 deste mês de Junho, morreu em Paris, o escritor, intelectual, político e guionista cinematográfico, Jorge Semprún. Nascido em Madrid a 10 de Dezembro de 1923, no seio duma família da classe alta, cedo viria a encabeçar movimentos mais à esquerda na luta pela liberdade e pela igualdade. Passou pela guerra civil espanhola, foi para Paris onde estudou na Sorbonne. Em 1942 adere ao PCE e em 1943 viria a ser preso, torturado após denúncia aos nazis, tendo sido um dos prisioneiros do campo de concentração de Bruchwald, donde viria a fugir. Esta experiência iria marcá-lo definitivamente, quer do ponto de vista político, bem como, do ponto de vista literário. Após a libertação nazi, viria a ser saudado como herói em Paris onde se fixou, tendo escrito a sua obra em francês. Entre 1945 e 1952 viria a trabalhar para a UNESCO, vindo a assumir uma colaboração a tempo inteiro com o PCE a partir de 1952 e viria a ter uma actividade intensa na Espanha franquista, clandestinamente, sob o pseudónimo de Frederico Sánchez entre outros nomes que usou. Entre 1988 e 1991 viria a assumir a pasta da cultura no governo de Felipe González. Da sua obra vasta, sente-se a experiência de vida marcada pela prisão, tortura e clandestinidade, que ocuparam parte substancial do seu percurso de vida. Seria enfadonho citar toda a sua obra neste espaço, mas não poderia deixar de mencionar "Viente años y un día" de 2003 e "Autobiografía de Frederico Sánchez" de 1977, ambos escritos em castelhano. Como guionista saliento o filme "K" de Alexandre Arcady (1977), "El Atentado" de Yves Boisset (1972) e "La Confesión" de Costa-Gravas (1970). Detentor de vários prémios, os últimos dos quais são o Prémio Jose Manuel Lara por "Veinte Años y Un Día" em 2004, em 2006 o Prémio Annetje Fels-Kupferschmit e em 2008 o Prémio Medalla de Oro al Mérito en las Bellas Artes. Como sempre depois da morte, não falta quem celebre as personagens que se destacam, e no caso de Jorge Semprún tal se veio a repetir. Desde logo o "El Mundo" jornal da direita espanhola não deixou passar ao lado a morte deste grande escritor escrevendo que "era um homem demasiado honesto para estar na política". Por cá, não deixou de ser curioso ver algumas pessoas conotadas com a nossa direita a celebrá-lo também. Parece que neste momento as consciências pesam demasiado, a quem tanto vilipendiou quem pensou de maneira diferente e actuou em prol da defesa daqueles que não têm voz. É algo estranho ao ser humano e à sociedade em geral, que se vai repetindo amiúde, por vezes duma forma despodurada e desavergonhada. Mas homens como Semprún estão acima disso, no fundo, eles traçaram o seu destino, agarraram-no com determinação, quando alguns daqueles que o veneram agora o atacavam fortemente no passado, afinal - e para utilizar as palavras dum grande poeta português, também ele vítima do mesmo desaforo - são aqueles que "se foram da lei da morte libertando".
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