Equivocos da democracia portuguesa - 112
Já temos novo governo. a primeira sensação que dá é que se trata do governo possível, depois de algumas recusas - segundo a informação veículada pelo Expresso - formou-se o governo mais curto desde o 25 de Abril e, porventura, o mais jovem. Mesmo assim, e depois de alguma expectativa criada em torno da sua formação, soube de facto a pouco. Um governo com vários técnicos sem experiência política, que pode ser uma vantagem, mas tambem pode ser um inconveniente, não devemos esquecer que todos os ministérios são políticos e os seus detentores terão, inevitavelmente, de tomar decisões políticas. Lamentamos, fortemente, o desaparecimento do ministério da cultura. Isso diz bem o que o governo pensa sobre a cultura em Portugal, o que significará que esta irá estagnar, depois de alguma visibilidade que os governos anteriores lhe deram. É a sina do nosso país, futebol muito, para fazer esquecer os problemas do dia-a-dia; cultura, nem por isso, porque quanto mais culto for o povo mais reinvidicativo é, afinal, uma velha asserção que já vem do Estado Novo. Agora à que por em prática o famoso memorando da "troika" que as instituições estrangeiras nos impuseram. Desde logo, a UE que parece que já decidiu alargar os prazos da Grécia, antes que esta entre definitivamente na bancarrota. Para isso, recorreram à Iniciativa de Viena que em 2009 recuperou da situação financeira os países do leste europeu. Europa que anda à deriva, sem saber bem o que fazer, desde que entrou num devaneio ultraliberal liderada por Merkel e Sarkozy. (Leiam sobre este tema a lúcida autobiografia de Jacques Chirac ex-presidente de França). Os problemas da UE estão, essencialmente, no modelo que estão a seguir bem diferente do espírito dos seus fundadores e que vigorou até à queda do muro de Berlim. Por cá, é a continuação do aperto financeiro que não é nada de novo para nós. Já esta debilidade era visível no século XVII quando as caravelas vinham carregadas de ouro para Lisboa e que de imediato seguiam para Inglaterra para pagar dívidas. (Ver livro do sociólogo Boaventura Sousa Santos com o título "Portugal : Ensaio contra a autoflagelação"). O que, historicamente, a austeridade trouxe sempre e vai trazer de novo, é ao aumento das desigualdades sociais, o esmagar dos sindicatos até onde for possível, a depauperação da riqueza nacional. A austeridade não leva a nada porque não cria dinâmica empresarial e investimento, não cria emprego, não estimula o consumo que por sua vez vai estimular as empresas. A austeridade é mais para assegurar a cobrança da dívida pelos credores e não tanto para beneficiar o país e as suas populações. É um dado histórico que não pode ser escamoteado. E este governo ultraliberal, até pela sua sintonia ideológica com a UE, lá estará para nos fazer lembrar isso. Com algumas medidas que são controversas, como a privatização da água. Achamos um erro, e um erro grave. Há países que têm na constituição que a água será sempre um bem público, entre nós parece que não será assim. Porque não taxar os produtos agrícolas, mesmo de primeira necessidade, que viagem mais de 1.000 Kms? Talvez assim, deixassemos de ver nas grandes superfícies tantos produtos que vêm de zonas longínquas e que atrofiam os produtores portugueses. (Agora, a mesma UE que incentivou e pagou a alguns países, entre eles Portugal, para não cultivarem e para destruirem a frota pesqueira, - na altura o mandatário dessa política entre nós foi Cavaco Silva(!) - vem agora dizer precisamente o contrário, - ainda à dias o comissário para a agricultura da UE, Dacian Ciolos, veio clamar pela desertificação do interior português (!!!), - que desnorte. Mas este é o governo que o povo elegeu. Em Portugal continuasse a votar no partido - como se este fosse o clube de futebol - e não nos deputados; continuasse a falar muito em Europa e menos em Ocidente, há um divórcio entre as populações e o governo, tratando-os por "eles", (vidé Prof. Adriano Moreira), estas são questões que a nosso ver estão erradas. Esperemos que o futuro não nos venha a dar razão, porque se tal se vier a confirmar, poderemos estar, de facto, numa situação bem complicada e para a qual os portugueses ainda não tiveram a percepção necessária. Vamos preferindo este jogo do diz-se diz-se dos" media" que hoje em dia representa o terror da informação. Os ingleses têm uma expressão curiosa que diz "if you don't read newspapers you are uninformed, if you read the newspapers you are misinformed" (se não lemos jornais estamos mal informados, se os lemos estamos desinformados). Mas neste informa e desinforma, teremos que aguardar o que nos reserva o futuro. Não será nada de risonho, sobretudo, na próxima década, mas devemos encarar isto como uma medida correctiva ao nosso desbragado consumismo que, em boa verdade, tão estimulado foi pelo poder político.
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