Equivocos da democracia portuguesa - 111
Com o conhecimento do acordo entre PSD e CDS/PP e a inevitável formação do novo governo encerra-se este ciclo que a Constituição impõe, logo após, a audição dos partidos políticos pelo PR. E será bom que o governo comece rapidamente a trabalhar porque há muito a fazer e o tempo urge. A exemplo do que nos tem chegado da UE, em que Jean-Claude Junker já admite a reestruturação da dívida grega - não sabemos se as ameaças de mortes vindo desse país tiveram ou não algum efeito - por cá, também existe quem pense do mesmo modo. Contudo, achamos que ainda é prematuro ir por esse caminho. Primeiro, o governo deveria começar por implementar o plano da "troika", para dar uma imagem de que está interessado em resolver a situação, depois, esperar que os resultados vão aparecendo, para que com alguns resultados - que todos esperamos positivos - então passar à última fase, aí sim, de pedir a reestruturação da dívida. Porque começar desde já a falar sobre isso antes mesmo de começar a aplicar o plano, parece-nos um disparate. Apesar das dificuldades porque vamos todos passar, temos defendido neste espaço, que não concordávamos com a reestruturação da nossa dívida, não por qualquer espírito masoquista, mas sobretudo, porque conhecemos os portugueses e qualquer negociação que abrande a mão sobre a nossa vida, ou a dilatação dos prazos, terá como consequência inevitável o relaxar e o retorno imediato à vida que tínhamos no passado. Isto, todos sabemos, que não pode acontecer, logo, se temos que ser exigentes na aplicação do receituário, pois que o façamos, para ver se, em definitivo, não teremos que voltar a recorrer à ajuda externa. E à que partir para a resolução dos problemas duma forma decidida sem tergervações e sem medo de errar. Como dizia Bento de Jesus Caraça: "Não tenho medo de errar, porque me permite corrigir o erro". Pois então que vamos em frente. E não basta começar já a criar dificuldades entre as forças políticas com a ideia da revisão constituicional, que necessita do apoio do PS e que achamos ainda não estar em condições de dar esse acervo. Até andam por aí uns arautos preocupados com o preâmbulo da Constituição - que não tem força jurídica - sobre o termo "socialismo" nele inscrito. Não sabemos porque estão tão preocupados com isso, - o termo é meramente emblemático -, e como vimos que as preocupações vêm da área da direita é bom recordar aqui as palavras de Sá Carneiro - tão invocado e tão mal entendido - que defendia "o socialismo à portuguesa". Não queríamos deixar passar em claro as palavras elogiosas que têm vindo de quase todos os quadrantes para Fernando Teixiera dos Santos - o ministro das finanças cessante - pelo empenho, capacidade de trabalho, competência técnica e seriedade. Nós que o conhecemos pessoalmente - como já o afirmamos por diversas vezes neste espaço - sabemos que essas palavras correspondem à verdade e são da mais elementar justiça que sejam ditas. A maneira como ele preparou a transição para o seu sucessor é disso exemplo, coisa não muito comum entre nós. Mas, para além de tudo isso, a crise larvar no mundo e, sobretudo, na Europa continua a fazer os seus estragos. Aqui na vizinha Espanha, já dois em cada três espanhóis necessitam de apoio social. E as coisas não vão ficar por aqui. Nouriel Roubini, (que já foi objecto de crónica neste espaço), o economista de origem turca, mais conhecido pelo "profeta da desgraça" - por ter antecipado a crise de 2008 em dois anos, e a quem ninguém deu ouvidos -, voltou a falar sobre aquilo que nos pode vir a esperar no futuro próximo. Antecipando os efeitos económicos em quatro grandes países, como: os EUA com a crise orçamental, a Europa com a crise financeira, o Japão com a estagnação económica e a China com o abrandamento da economia, fazem prever momentos muito difíceis para a economia mundial. Aquilo que ele chama de "tempestade perfeita" pode estar na iminência de acontecer dentro de dois ou três anos. E não deixa de ter a sua razão, porque não só são verdade os argumentos atrás apresentados, como vemos, por exemplo, na Turquia, uma economia que estava a crescer bastante à custa do aumento do consumo interno e do aumento do investimento estrangeiro ávido de encontrar um porto de abrigo, começou a retrair-se por efeito amplificado dos outros países, nomeadamente, a Europa, bem como, a China que está a seguir o mesmo percurso, tentando corrigir o sobreaquecimento da economia que não é desejável. A China tem que, rapidamente, começar a travar o crescimento, caso contrário, pode vir a ter problemas sérios no curto/médio prazo. Roubini vai mais longe, afirmando que a Europa pode vir a desagregar-se dentro de cinco anos, - nada que nos surpreenda, como atestam alguns escritos nossos neste espaço -, a menos que, a Europa opte por uma solução federalista o mais rapidamente possível - acervo que também temos vindo a defender com insistência nestas crónicas. É neste permanente mundo desequilibrado que vamos vivendo, onde os políticos não encontram soluções, dando a sensação de estamos a caminhar para o abismo, sem que sejamos capazes dele nos afastarmos. Talvez seja aí que muitos dirão que chegará a "Nova Era" (New Age) depois do colapso do sistema social, político e económico em que temos vivido. Mas para além destas metáforas exotéricas, vamos tendo que continuar a viver e a encontrar soluções dia após dia neste mundo caótico em que vivemos.
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