Turma Formadores Certform 66

Tuesday, June 21, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 113

Neste dia em que o Verão se inicia, inicia-se um novo ciclo político com a entrada em funções do novo governo. A tarefa é gigantesca mas não é impossível. E os exemplos vêm de fora, sobretudo de países que são referência para nós, como por exemplo, a Suécia. Talvez muitos já não se lembrem que no anos 90 os bancos suecos estavam falidos, e eles foram capazes com a determinação e a organização nórdicas tão bem conhecidas, de inverter a situação e hoje serem, de novo, um país pujante no seio da Europa. Mas, mesmo entre nós, a ideia de crise foi algo que sempre nos acompanhou ao longo da História. Na passada crónica falavamos das caravelas que vinham cheias de ouro d'além mar e que nem descarregavam em Lisboa para se dirigirem para Inglaterra onde esse ouro era utilizado para pagar as dívidas da coroa. Não nos podemos esquecer das célebres cortes convocadas por D. João III - Torres Novas - porque o país estava em crise. Esta é pois uma certa sina lusitana que se perde na bruma do tempo e que, infelizmente, nunca fomos capazes de afastar duma forma definitiva. Mas os tempos são outros e estes tempos que são os nossos é que nos interessam aqui. Um pouco por todo o lado têm vindo para a rua manifestações sobre uma outra maneira de ver a democracia e o mundo. As praças Tahir foram-se multiplicando um pouco por todo o lado e temos que estar atentos a estes movimentos e tirar deles as devidas ilacções. Na semana passada, vimos movimentos destes na rua em Portugal (embora com expressão ainda reduzida), mas duma forma mais visível em Espanha e na França. Pensamos que se está a criar uma nova consciência de que a democracia não pode ser algo mítico tutelado por meia dúzia de senhores que estão acima de tudo e de todos. As pessoas querem participar, querem ser donas dos seus destinos, querem uma outra forma de fazer política e de exercer a democracia, querem uma democracia directa. Por agora, ainda os políticos fazem de conta que não vêm, ou acham que são todos irresponsáveis, possivelmente jovens no fulgor da sua juventude. Mas desenganem-se, estes movimentos estão a ter cada vez mais expressão e é preciso estar atentos a eles, porque são o sinal mais genuíno das populações. Depois de vermos uma UE "a brincar com o fogo à demasiado tempo"- para usarmos uma expressão de Juncker - é tempo de se começar a encarar os problemas com outra determinação. A Grécia está ingovernável em virtude do centro-direita não se querer solidarizar com as medidas, e levando a uma maior instabilidade na Europa que minimizou a situação grega durante demasiado tempo, onde a Alemanha tem aqui graves responsabilidades. Por isso, Portugal assume-se para a UE, como o país que tem que ter sucesso. Portugal não pode falhar, não só para que o nosso país não entre numa ruptura de consequências imprevisíveis, mas também, porque a UE precisa desse sucesso, primeiro para dar exemplo aos outros países, e depois, porque é fundamental estancar a situação de crise que se está a espalhar por toda a Europa. É pois assim, que este governo (possível) que se formou entre nós, tem a missão de não falhar, caso contrário, não é só o país que está em causa, mas toda a UE com o efeito de contágio que estas situações normalmente têm, e que Portugal irá sofrer ainda mais, caso a Grécia entre em colapso. Numa Europa irresponsável, liderada por uma Alemanha sobranceira que acha que a culpa é sempre dos outros e não deles próprios - veja-se o caso da bactéria e-coli -, numa liderança dessa mesma Europa dentro dum modelo ultraliberal - a mesma ideologia do nosso actual governo - não tem sido capaz de encontrar saídas. A eminência de alguns países de terem que sair da zona euro, na eminência da própria desagregação da UE, este é o cenário em que, entre nós, se vai atalhar a crise. Mas se o ultraliberalismo arrastou a Europa para o precipício - bem longe do modelo dos seus fundadores -, será que o governo português será capaz de nos tirar desta aflição, governo que tem por base o mesmo modelo ideológico que tanto dano tem causado à UE? Esta será certamente uma pergunta que por agora não sabemos responder, teremos que aguardar que este governo (possível) nos mostre daquilo que é capaz, sendo certo que, a avaliar a maneira como ontem teve o seu primeiro revés na AR - com a eleição falhada de Fernando Nobre - não deixa os melhores augúrios para o futuro. Não queremos tirar ilacções antecipadas deste triste episódio, vamos esperar para ver daquilo que são capazes. Uma coisa é certa, este governo não terá o seu "período de graça", porque simplesmente, não existe tempo para isso. Terá que tomar muitas medidas rapidamente - quase uma por dia - para cumprir o acordo que Portugal fez com a "troika". Veremos agora, se aqueles que tanto contribuíram para a chegada da ajuda externa, serão capazes de viver com ela. No fundo, será o nosso futuro que está em jogo, muito para além das políticas e dos políticos. Será que, tal como a Alice no País das Maravilhas, seremos capazes de passar para o outro lado do espelho?

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