Turma Formadores Certform 66

Monday, June 27, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 115

O início de actividade do novo governo acabou por ter momentos bons e momentos menos felizes. Um dos momentos bons prende-se com a primeira apresentação do novo executivo em Bruxelas. Sendo certo que se ia discutir, essencialmente, a situação grega, mas a vontade com que Passos Coelho se apresentou para fazer cumprir o plano da "troika" foi algo que jogou a seu favor. Quanto à Grécia parece que a situação se vai degradando a cada dia que passa e o empenho em a ajudar prende-se, sobretudo, com os fortes interesses dos bancos alemães que têm lá muitos interesses que poderão perder a qualquer momento. Embora, ironicamente, a Alemanha tenha sido o país que reagiu mais tarde, talvez sem a visão do alto risco que a situação grega representava, quer para os interesses alemãs, quer para a própria UE. Contudo, é bom dizê-lo, a Grécia não tem feito muito para se ajudar a si própria, com a forte contestação de rua, as sucessivas greves gerais, os partidos políticos que não se entendem, na ânsia de - lá como cá - "irem ao pote". Só para dar um exemplo, os cabeleireiros gregos têm a reforma aos 45 anos (!) pelo facto da sua profissão ser considerada de risco!!! Isto é bem o exemplo daquilo que se passa nesse país e, ao que parece, ninguém ainda conseguiu inverter. A Grécia está a pedir novo empréstimo sem que assuma os seus compromissos com o anterior, e isto não leva à credibilização do país e dos seus políticos, como é bom de ver. Quanto ao lado mais infeliz, - diríamos mais populista - do novo governo, prende-se com as viagens. O primeiro-ministro achou que se devia viajar em classe económica, este seria um sinal interessante, se não fosse a "fuga" da informação para os "media", que logo se fizeram eco do facto embora, um dia depois, a TAP ter afirmado que isso era irrelevante, porque o governo nunca paga quando viaja nos seus aviões. Logo aqui, se mostra o desconhecimento da situação e o aproveitamento fácil - populista, porque não dizê-lo - para marcar alguns pontos, mas parece que o tiro lhe saiu pela culatra. Quem deu ordem para a "fuga" de informação já deve estar arrependido de o ter feito, afinal só deu um sinal de profundo amadorismo. Mas as coisas não ficam por aqui. Passos Coelho sempre afirmou que queria o governo separado do partido. Achamos bem, mas a "praxis" até agora não tem sido essa. Como ontem bem lembrava Marcelo Rebelo de Sousa, o governo levou para o seu seio três das figuras mais importantes do PSD, a saber: Miguel Relvas seu secretário-geral, e dois dos seus vice-presidentes mais desacados, Marco António Costa e Paula Teixeira da Cruz. Ainda citando Marcelo Rebelo de Sousa, Passos Coelho não soube separar o partido do próprio governo, indo ao arrepio das suas próprias afirmações, decapitando até o próprio partido. Nada de novo, porque já outros o fizeram, dirão vocês, é a política do "olha para o que eu digo e não para o que eu faço". Já o anunciar em Bruxelas a antecipação das medidas de austeridade face ao derrapar da situação para 2011, vem também mostrar que as coisas não eram tão fáceis como o PM afirmava e que as medidas correctoras eram necessárias. Afinal o PEC 4 não era uma figura de retórica e se tivesse sido aprovado não havia necessidade de antecipar medidas ainda mais gravosas. Mas a ânsia do "pote" - como todos se lembrarão - falou mais alto nessa altura. De qualquer modo, são contradições e pontos negativos a mais, para uma só semana de governo. Mas a hipocrisia política não fica por aqui, e os equívocos também não. Esta prende-se com o economista João César das Neves que traçou um rasgado elogio a José Sócrates considerando-o "uma figura deslumbrante do ponto de vista político", sendo acompanhado nesta ideia por Mário Crespo jornalista da SIC Notícias que o entrevistava. Isto até poderia ser algo de normal, não fossem os dois protagonistas serem dois dos seus mais ferozes adversários. O jornalista - já objecto das nossas crónicas por falta de parcialidade face ao anterior governo - figura muito ligada à direita e o economista - ele defensor das teses liberais - que muito criticou o ex-primeiro-ministro, vir agora fazer este tipo de afirmações, não deixa de ser caricato. Porque então as críticas feitas anteriormente eram injustas e falsas, ou os eleogios actuais são mera hipocrisia política, seja lá qual for a situação, nenhuma delas abona a favor de qualquer das figuras em causa. Enfim, são os equívocos muito usuais na nossa democracia que em nada a dignificam e leva a que os portugueses fiquem, cada vez mais, arredados e desconfiados dela.

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