Equivocos da democracia portuguesa - 114
Hoje, o novo governo português tem o primeiro teste a nível da internacional com a reunião da UE. Será o apresentar da continuidade em relação ao cumprimento do memorando da "troika". Mas antes disso, convém fazer alguns considerandos a quando da tomada de posse. Desde logo ao discurso do PR. Cavaco Silva não deixou de agradecer ao governo anterior - numa postura politicamente correcta - e foi pedindo apoio para ao novo governo, apoio à AR e, sobretudo, à oposição. Não deixa de ser curioso - ou talvez não - que esse mesmo apoio não fosse pedido quando deu posse ao governo anterior, todos sabemos que não era o governo da sua cor política, mas mesmo assim, era o governo de Portugal. Quando se começaram a visualizar os primeiros confrontos na AR, não vimos Cavaco vir em apoio do governo, vimos isso sim, num extremar de posições que conduziu a discursos que iriam abrir as portas à queda do governo e, consequentemente, à crise política que levou a que agora estejamos dependentes do exterior. Enfim, são critérios que a História não deixará de comentar quando houver o distanciamento necessário e conveniente para que ele seja feito com o maior rigor possível. Cavaco não deixou, também, de pedir compreensão para os erros que vão acontecer, coisa que também não vimos no passado, antes críticas contundentes que viriam a criar condições para a queda do mesmo, abrindo assim as portas para que o seu partido chegasse ao poder. Dois pesos e duas medidas que não dignificam o PR nem a magistratura em si. Já quanto ao discurso de Passos Coelho, embora interessante, não deixou de mostrar uma crispação face ao anterior governo, - coisa que pensavamos ultrapassada -, indo ao arrepio daquilo que tinha dito antes sobre a não utilização do passado para justificar os seus próprios erros. Não esperávamos outra coisa, embora pensassemos que, dada a situação, merecíamos um discurso mais abrangente e nacional e não tanto um discurso de "révanche". Contudo, e porque achamos que devemos ser o mais conciliadores possível, não deixamos de deixar aqui uma palavra de apoio ao novo governo, não tanto pela ideologia ultraliberal que trás no seu seio - e com a qual não concordamos -, mas em nome de Portugal e dos portugueses. Assim, estamos aqui a saudar a nomeação de Assunção Esteves para o cargo de presidente da AR. Não só pela dimensão da pessoa em si - e o discurso de posse foi uma verdadeira peça de oratória que merece uma leitura atenta -, mas também, porque é a primeira vez que uma mulher exerce este alto cargo de segunda figura do Estado. Pensamos ser um escolha feliz e um sinal importante dado por Passos Coelho, que a ovação de pé por todas as bancadas, dá bem a ideia do assentimento da pessoa, em contaponto ao infeliz caso de Fernando Nobre, que caiu sem honra e sem glória. E porque o governo ainda está no início e pretende dar alguns sinais, outro terá sido o de viajar para Bruxelas em classe económica. É um sinal significativo, mas confessamos que gostaríamos antes de ver o mesmo rigor nos hotéis que escolhem, onde se paga bem mais do que nas passagens de avião. É um sinal, mas insuficiente, correndo o risco de se tornar até populista. Já quando à não nomeação de novos governadores civis - que constou do discurso de posse - não deixamos de estar de acordo. A figura dos governadores civis já à muito, estava desgastada e desprestigiada. Desgastada porque aquilo que eram as suas funções estavam praticamente ultrapassadas e esvaziadas, sem conteúdo; desprestigiada porque sempre se assumiu que estes lugares eram uma espécie de compensação para membros do partido que estava no poder quando estes não eram eleitos deputados. Eram lugares de nomeação política, e nem PS nem PSD estão isentos de responsabilidades quando lá colocaram os seus "boys" de confiança. Mas agora, o que nos interessa é o futuro, um futuro que se avisinha difícil - como outros ao longo da nossa História -, mas que sempre fomos capazes de superar. Para os mais timoratos, é bom lembrar que ao longo da nossa já longa História de quase nove séculos, tivemos sete falências técnicas do país, a primeira da quais em 1558, em pleno século XVI, o século grandioso da nossa História. Por vezes, a História tem destas ironias. Por isso, somos um país habituado - diríamos mais, mal habituado -, a algum desgoverno, mas com a capacidade de "desenrascanso" - que é sobejamente conhecida -, lá fomos conseguindo ultrapassar as crises e resistir enquanto povo e enquanto nação. Não cremos que agora seja diferente. Teremos tempos difíceis, mas no fim do percurso, lá voltaremos à nossa senda que a História vem registando à perto de 900 anos. Por isso, somos tentados em deixar aqui, um sentimento de coragem e determinação, de crença no futuro, que serão os segredos que nos irão fazer sair da situação em que agora nos encontramos. O importante é que tenhamos aprendido com os erros, - coisa que nem sempre aconteceu -, e que a História bem ilustra. Esperemos que seja desta. No entretanto, para aqueles que são do Porto, à que ir festejar a noite de S. João - de grande tradição nortenha -, porque "tristezas não pagam dívidas", nem a soberana, dizemos nós!!!
0 Comments:
Post a Comment
<< Home