Turma Formadores Certform 66

Monday, January 02, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 158

Passado mais um ano e a euforia que é normal nesta época, acordamos afogados numa nova realidade de um país destroçado, esmagado pelo aumento dos preços, dos impostos, de sabe-se lá mais o quê, que prometem infernisar a vida dos portugueses. Tudo isto em nome duma vida melhor lá mais à frente. Muito mais à frente, diríamos nós. Mas essa é a grande falácia. Nada está assegurado neste país sem rumo. Primeiro porque as políticas ultra-liberais nunca deram resultados muito brilhantes, - basta olhar para a nossa História -, depois porque o nosso país depende fortemente do exterior que, contrariamente ao que se pensa, não está melhor do que nós, em alguns países até se pode dizer que está pior. Assim, não existem certezas de que o esforço que se está a fazer possa trazer alguns resultados palpáveis para Portugal, indo certamente ao encontro de outros países, como a Alemanha que, esta sim, beneficiará de tudo isto. O governo português não tem qualquer estratégia para o crescimento da economia portuguesa e quanto ao emprego é só olhar para a triste realidade. Passos Coelho está obsecado com aquilo que assumiu com Merkel não se importando - ou não sabendo - como cumprir os compromissos e criar uma estratégia consistente para o país. E enquanto a economia não começar a crescer, e com esse crescimento criar emprego - um dos maiores flagelos da actualidade - não saíremos desta espiral de empobrecimento, em que o governo não passa dum mero cobrador de impostos, bem ao jeito do Xerife de Nothingham. E isso é muito perigoso, porque pode vir a criar condição para o aparecimento dum qualquer Robin Hood, com todas as consequências que daí advirão. Cavaco Silva ontem, na sua mensagem de Ano Novo, já o veio alertar, pondo a tónica no crescimento e no emprego, caso contrário "podemos estar à beira duma situação insustentável". O diálogo social é, neste momento, muito importante, numa altura em que parece que, cada vez mais, aqueles que deveriam estar a dialogar estão de costas voltadas uns para os outros. Assim não se vai lá, e a agitação social poderá estar ao dobrar da esquina, com todas as consequências que daí advirão. Cavaco Silva acordou tarde para esta realidade - talvez por interesses políticos - mas agora tem que enfrentar a situação não tendo mais nenhum arbusto atrás do qual se possa esconder. As coisas são como são, a realidade é incontornável. Este é o logro em que caímos, esta é a mentira em que vivemos. Numa Europa sem rumo, subjugada aos interesses do eixo franco-alemão, comemorou-se ontem dez anos sobre a chegada do euro. Na altura, transportou em si um leque de esperança para a UE, que se vai esfumando dia após dia, encontrando-se hoje em risco, inclusive, de colapsar. Tudo fruto duma estratégia de destruição - inconsciente ou não - da própria UE e duma liderança paroquial que foi criando clivagem entre os estados membros, conduzindo a Europa para a vereda da desagregação. Talvez não cheguemos aí, mas se pensam criar uma Europa a duas ou mais velocidades, como por aí se diz, talvez ainda seja pior. De qualquer forma, nada será como dantes. E assim, se inicia este novo ano, com a incerteza, e a mentira embrulhada em papel colorido, prática que tem vindo a ser seguida na Europa e que o nosso governo tão bem traduz, diariamente, entre nós. Um ano de incerteza mas, quiçá, um ano de grandes decisões, porque, nem Portugal nem a restante UE, poderão continuar a viver neste limbo que apenas serve a alguns estados - França e Alemanha - deixando de fora todos os outros que vão mergulhando cada vez mais na pobreza. Será um "annus horribiles" como alguns já afirmaram, mas poderá ser - e oxalá seja - um ano de clarificação, de separação de águas.

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