Conversas comigo mesmo - XLIX
"As crianças são muito justas, minha tia, distinguem perfeitamente quando são repreendidas com razão ou com paixão. Tem de haver perseverança em seguir sempre o mesmo método e não ceder a lágrimas nem a empenhos. É muito mais fácil para uma criança renunciar por uma vez àquilo que deseja de que umas vezes sim, outras não". Carta de Leonor da Câmara escrita para Londres à sua tia a Marquesa de Alorna ou Condessa d'Oeynhausen. Mais uma vez aqui trago a correspondência da Marquesa de Alorna, pela sua actualidade face aos dias que correm. E isto porque depois do Natal encontrei um amigo que já não via à um par de ano que se lamentava de ter gasto algum dinheiro - que até lhe fazia falta! - para dar um determinado presente ao seu filho. Este apesar do pedido feito com muito empenho acabou por não lhe dar valor. A razão era um tanto ou quanto prosaica. O que ele pretendia veio de facto, mas não com a marca da moda, que era cara e o pai não lha podia dar. Todos sabemos que nos tempos que correm a imagem é tudo, ou quase tudo, mas o filho não tinha entendido as dificuldades da sua família para lhe dar aquilo que deu. Talvez não lhe tivessem explicado bem a situação, ou ele não tenha aceite as razões. O que fica é que esta criança - ainda tão jovem - já foi apanhada pela rede do consumismo imediato a que chamamos "moda", e para isso, vale tudo para se atingir tal estado. Limitações duma educação pertensamente moderna, que os pais mais jovens dão aos seus filhos, não percebendo que estão a criar potenciais "monstros" que lhes irão assombrar o resto dos dias. Daí a premência das cartas da Marquesa da Alorna que, embora dos séculos XVII e XVIII, mantêm uma actualidade bem próxima dos nossos dias. Tema de reflexão para os tempos difíceis por que estamos a passar e lição para o futuro sombrio que nos espera nos próximos anos. Criemos jovens com outros valores para além do consumismo desenfreado e efémero que nos conduziu ao estado em que nos encontramos hoje. Um bom tema para reflectir neste final de ano, e que o próximo seja encarado com mais profundidade do que os anteriores. Afinal, é muitas vezes na provação que encontramos as verdadeiras saídas para as nossas vidas, por vezes, sem sentido.
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