Turma Formadores Certform 66

Friday, December 16, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 155

Se a semana passada foi fértil em acontecimentos - embora pelas piores razões - esta parece que não lhe quer ficar atrás. Continuam ainda os ecos da Cimeira da UE efectuada à quinze dias, e com efeito, (porventura preverso), da auto-exclusão do Reino Unido. A atitude deste país está a por em causa a imagem de união na Europa. Claro que a economia britânica pode, com o peso quem tem, impôr algum desconforto à UE, como tecnicamente se diz tem capacidade de "opting out", coisa que as economias mais pequenas, (as periféricas como a nossa), nunca conseguiriam. Mas se as coisas já não estavam bem, ficaram piores depois da atitude inconformista do Reino Unido, embora o seu governo tenha sofrido fortes críticas internas, porque esta atitude é uma arma de dois gumes, tanto pode excluir o Reino Unido das grandes decisões internacionais, como o pode colocar à margem da própria UE, situação que os eurocépticos já estão a aproveitar. Mas entre nós, tal como na Europa, as coisas não andam melhor. Desde o vice-presidente do PS que afirma que se está a "marimbar" para os credores até ao presidente do Bundensbank que compara os países dependentes aos alcoólicos, há de tudo um pouco, a mostrar que o desnorte campeia um pouco por todo o lado. (Contudo, é curioso como se tentam obter dividendos políticos do que se disse por cá, e ninguém fala sobre o que disse o presidente do Bundesbank, que nos humilha fortemente, além do forte impacto internacional que têm tais afirmações!) Apesar do alinhamento constante de Passos Coelho com Angela Merkel, tal não parece estar a beneficiar a posição do governo português. Enredado nas teias que ele próprio vai criando, vai ziguezagueando conforme a força dos "lobbies" que vai atingindo, tendo inclusivé, visto uma reprimenda - ou seria um apoio explícito - de Durão Barroso para os afrontar rapidamente e duma forma definitiva conforme o memorando da "troika" preconiza. Mas tal não parece ser tarefa fácil. Vítor Gaspar já veio dizer na AR que vai alargar o prazo para que os bancos não sintam a interferência do Estado passando este de três para cinco anos, de acordo com as pretensões dos banqueiros. Viram-se os aumentos brutais das taxas mediadoras na saúde - com a ameaça de novos aumentos - que vêm destruindo o SNS e criando condições para que os mais desfavorecidos não tenham capacidade económica para se tratarem. Como dizia o deputado João Semedo: "À que acrescentar mais um euros aos exames e às consultas da especialidade". E acrescentou: "O ministro pode ser bom a fazer contas, mas é insensível ao social". Depois foi a embrulhada da fábrica de baterias da Nissan em Cacia que já não avança, porque a mobilidade eléctrica deixou de ser opção do governo, embora este apareça com outra justificação como seria normal. O ministério da economia - do tal ministro de quem nunca nos lembramos do nome - é cauteloso e não grava declarações públicas para as televisões. Afinal o esforço do anterior governo foi em vão quando tentou criar um "cluster" da mobilidade eléctrica em Portugal. Isto significa postos de trabalho que se perdem e com o perigo de contágio às outras indústrias a montante. Como se isto não bastasse, veio a OCDE afirmar que o nosso poder económico está atrás do... grego!!! E entretanto, o governo anuncia com pompa e circunstância que o déficit fica abaixo dos 4,5%, mas não pensem que é fruto duma boa gestão, bem pelo contrário, é fruto sim de receitas extraordinárias - como foi o caso da transferência dos fundos da banca - para que tal se consegui-se, caso contrário ficaria nos 8,9%!!! O desemprego continua a subir já vai nos 12,9% e não vai ficar por aqui, infelizmente. E agora ficamos a saber que o desemprego ficará acima dos 10% até 2025(!), segundo se lê no relatória do OE para 2012. E continuará a agravar-se enquanto não for definida uma estratégia de crescimento para a economia. (Se não fosse tão trágico até dava vontade de rir! Então estes senhores que tinham medidas para resolver a crise em 30 dias não conseguem fazer melhor? Os mesmos que tinham um plano imediato para cortar nas gorduras do Estado num mês, afinal ainda não foram capazes de cortar nem um bocadinho? Chega de tanta mentira, porque já se começa a estar farto disto). E como se isto tudo não bastasse, vem o "The Economist" dizer que "novas medidas têm que ser tomadas, e novo aumento de impostos será inevitável, e que em 2016 o país não terá condições de se financiar nos mercados estrangeiros", contrariando aquilo que o governo vem dizendo, como foi o caso do ministro da economia - o tal de quem nunca nos lembramos do nome - que decretou que em 2013 Portugal já teria ultrapassado a crise. Nesta senda de ilusões, até o PM veio afirmar algo parecido, talvez porque pense - e talvez bem - que ao seu ministro da economia já ninguém o leva a sério. E se dúvidas houvesse, é agora a toda poderosa Merkel que vem dizer, que "a crise vai levar tempo a passar". Afinal, é caso para perguntar, para quê todos estes sacrifícios? Passos Coelho afirmou várias vezes que estava a ir para além do memorando da "troika" porque queria que Portugal regressasse aos mercados já em 2013!!! Pura ilusão. Como já aqui o vimos afirmando à muito tempo, o fim desta crise ainda vem longe, e os sacrifícios impostos aos portugueses vão servir de pouco. E se não acreditam, esperem pelo final do ano que vem, 2012, e verão se temos ou não razão. Os portugueses é que começam a ficar fartos de tanto sacrifício inconsequente, depois de tantas promessas, basta ver o que aconteceu à dias em Matosinhos, com a vaia ao PM. As pessoas começam a chegar ao limite da sua capacidade e começam a perceber no logro em que caíram. E ainda passaram pouco mais de seis meses... Portugal hoje é o terceiro país mais pobre da UE onde o PIB per capita em 2009 e 2010 correspondia a 80,1% da média europeia e arrisca-se a que, quando sair da crise estar ao nível da... Albânia! Isto, se tivermos sorte...

0 Comments:

Post a Comment

<< Home