Equivocos da democracia portuguesa - 152
Esta série chama-se de "Equívocos da democracia portuguesa" e nunca um título destes assumiu tanta propriedade e actualidade. Nos últimos dias temos assistido a verdadeiros equívocos que nos irão afectar nos próximos (muitos) anos. Desde logo o OE 2012 que aparece como a panaceia para todos os nossos males e que, afinal, parece que não vai ser bem assim. Quem o disse foi o PM em entrevista à SIC na passada quarta-feira. Afinal, diz Passos Coelho, o OE 2012 vai conduzir a uma recessão e contracção grandes da economia portuguesa, "o que conduzirá a que se tenha que aplicar mais austeridade em 2012". A isto chama-se "espiral recessiva" a mesma que Manuela Ferreira Leite denunciou à umas semanas atrás. Inclusivé admitiu que o governo está a estudar a hipótese de saída do euro. Esta seria uma declaração que um PM nunca deveria assumir em público, mesmo que verdadeira. Mas os equívocos não ficam por aqui. Pacheco Pereira, seu companheiro de partido, disse na"Quadratura do Círculo" que "Passos Coelho apresentou-se com um discurso dum gestor de uma empresa falida". Como é do conhecimento público, o governo tem feito uma cruzada contra os feriados em Portugal. Isto por si só, demonstra uma incompreensão do problema duma forma bizantina. O que se devia combater não eram os feriados, mas sim, as pontes a que davam origem, essas sim, lesivas da economia portuguesa. Mas, para sermos sinceros, estas - as pontes - também não eram, só por si, o problema. Como todos sabem estas, normalmente, são compensadas por tempo dado a mais em jornada laboral ou, noutros casos, compensados com férias. Assim, não se pode dizer que as coisas estavam muito mal. Mas o incompreensível é que, dada a agitação social, o governo já tenha anunciado que mantém a tolerância de ponto para o Natal e Ano Novo!!! Afinal em que ficamos? Se a situação é tão gravosa, se são precisos mais esforços, mais trabalho, se o problema está do lado da despesa, logo implicando o funcionalismo público, como se compreende que afinal a tolerância se mantenha e logo nas duas datas? Será que a agitação social dos últimos dias tolheu os argumentos do governo? Será que não queriam repetir aquilo que Cavaco Silva fez, à muitos anos atrás, com a tolerância de ponto para o Carnaval? Seja esta a resposta ou outra qualquer, não deixa de ser incompreensível para o comum dos portugueses a quem são impostos muitos sacrifícios. Agora desdobram-se em esclarecimentos de que a situação portuguesa depende do que vem do exterior, à seis meses atrás negavam essa evidência - inclusivé o PR! - porque todo o mal que afectava Portugal, quiçá o mundo, era da responsabilidade do governo anterior. "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" cantava Camões coisa que este governo tão bem é capaz de reconhecer. Com o desemprego a subir em flecha, quando os juros da dívida não param de crescer, - o que prova que a confiança na política deste governo é nula -, quando a classe média está em vias de extinção, se é que não está já extinta, com a pobreza a atingir valores próximos daqueles que tínhamos durante o anterior regime, o ministro da segurança social, Mota Soares - o tal que gosta de andar de "scooter" - afinal decidiu que o melhor era andar de carro - e que carro! - porque ministro não pode saber o que é austeridade. Mas as coisas não ficam só por aqui. É a escola pública a desboroar-se, é o SNS a caminhar para o seu fim. Nunca um governo em tão pouco tempo conseguiu destruir tanto um país. E não é só para cumprir o plano da "troika" mas sim para aplicar a sua agenda ultraliberal que a Sra. Merkel lhe terá induzido. Manuela Ferreira Leite já tinha afirmado que "este governo só sabe cobrar impostos. Chegou-se ao limite. Agora aumentar a carga fiscal não implica aumento da receita". Será que Passos Coelho ainda não apreendeu o conceito de "propensão marginal" que também se aplica aos impostos? Qualquer aluno de economia o sabe, logo que chega à Faculdade. E Passos Coelho é economista!... Embora, ao que parece o PR vá afirmando que de finanças o governo pouco ou nada sabe!!! A falta de vergonha, o desaforo é tal, que é difícil passar a mensagem por mais evidente e necessária que seja. Lá fora as coisas não andam melhor. O directório que governa a UE duma forma ditatorial não dá sinais de ser capaz de resolver o problema, caminhando no sentido de estilhaçar o projecto europeu e destruir aquilo que foi maior inovação na Europa, o euro. Numa altura em que não existem políticos à altura - como diz Mário Soares -, onde os estadistas não existem, apenas meros funcionários da política, mais preocupados com o seu "tacho" do que com os benefícios dos seus concidadãos, as coisas nunca andarão bem, e a derrocada será inevitável. Será que a incapacidade é a palavra-chave ou, por outro lado, essa é a intenção? Esta é a questão de fundo, porque tanta incompetência começa a ser difícil de explicar...
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