Conversas comigo mesmo - XL
Cumpre-se hoje, dia 12 de Novembro, o primeiro mês de existência da Inês. A Inês do meu contentamento começa a coleccionar o tempo. Este é o primeiro mês de muitíssimos que desejo que tenha. A flor do meu jardim de Outono está mais bela e formosa do que nunca. As feições vão ganhando forma mais expressiva, os olhos ávidos vão buscando com cada vez mais clareza, as imagens do mundo que será o seu. Os sentidos vão-se apurando, enfim, a mais bela flor do meu jardim de Outono vai-se aprimorando. Vou vê-la com regularidade, porque me é difícil estar longe, embora esteja perto. Mas para mim, é também a deliciosa descoberta de ver os mistérios da vida a desenrolarem-se perante os meus olhos. O seu crescimento começa a ser notado, a sua força e determinação também, e assim espero que continue pela vida fora. Daqui a algum tempo será o celebrar da primeira papa, do primeiro dente, do primeiro passo, das tentativas atabalhoadas de se manter erguida. Enfim, o desenrolar e o desenvolver da vida na sua plenitude. Cada vez mais, e paralelamente a tudo isto, a Inês vai penetrando mais fundo na minha vida. Vai ocupando o espaço no meu coração dum lugar que antes de o ser já o era. A Inês do meu contentamento está a preparar-se para palmilhar a estrada da vida e cumprir assim a sua lenda pessoal. Inês ser de luz, cada vez mais gloriosa, vai cantando laudas ao mundo embrulhada no nome de rainha que ostenta. Vai cantando louvores ao mundo com a sua beleza, com a sua força, com a sua determinação. "Não nasceste em vão, ergue-te e prepara-te para a vida", são ainda as palavras sublinhadas pela sempre grandiosa música de Mahler a ecoar nos meus ouvidos. A mais bela flor do meu jardim de Outono celebra hoje o seu primeiro mês de vida. Duma vida que se deseja longa e preenchida, uma vida solidária com o mundo que a rodeia. Não basta passar pela vida é necessário deixar nela a sua marca e estou certo que a Inês do meu contentamento não me defraudará neste desejo que tenho para com ela, não me desiludirá nas muitas expectativas que deposito na sua existência. Se à uns meses atrás a minha vida mudou muito face à expectativa da vinda desta bela flor do meu jardim de Outono, desde à um mês ela tomou uma abrangência que pensava que jamais teria. A Inês do meu contentamento vai gravando o seu nome a fogo no meu coração, um fogo que não queima porque é um fogo de amor, um fogo que não arde porque é um fogo de paixão. A mais bela flor do meu jardim de Outono já é dona do meu coração e da minha vida à muito, mesmo sem o saber e sem ter ainda consciência disso. Um dia, quando muitíssimos meses - muitos anos, seguramente! - tiverem passado por cima dela, espero que leia aquilo que escrevo e que o compreenda. Que sinta o mesmo carinho que sinto por ela quando alinho estas palavras no papel, que sinta o mesmo amor que sinto por ela quando, letra após letra, vou preenchendo este espaço - vou sujando o papel alvo - na expectativa de que no final façam algum sentido. E se na altura achar que tudo isto não passa duma tonteria, pois só me resta pedir-lhe perdão com humildade pelas tolices que por vezes o coração nos impõe, pela estultícia deste pobre escriba que nada mais pretende do que celebrar a sua Inês, a mais bela flor do seu jardim de Outono quando já, lá ao longe, se aproxima inexoravelmente o seu Inverno. A Inês será sempre a Primavera florida da minha vida, será o calor do Verão que me aquecerá no meu Inverno profundo, será a celebração da vida naquilo que ela terá de mais puro. A Inês do meu contentamento continuará a sua caminhada, quando eu já por aqui não andar, mas estou certo que será sempre a luz do meu caminho, do caminho que terei que percorrer um dia como todos nós. O primeiro mês será a epifania do seu primeiro passo, passo firme e determinado, para a vida que a espera. Parabéns Inês pela tua primeira etapa. Cá estarei para celebrar outras que hás-de conseguir com o mesmo empenho com que celebro esta. A Inês do meu contentamento veio, pela primeira vez, a minha casa à uns dias atrás. Ainda sem a percepção do mundo que a cerca teve o primeiro contacto com um lar que a recebe com muito amor e carinho, com os seus animais que a hão-de acarinhar como ela os há-de acarinhar a eles, porque será, seguramente, uma defensora deles e dos seus direitos. A Inês do meu contentamento fez a primeira aparição entre nós, a primeira de muitas certamente, trazendo a sua luz que brilha com intensidade. Mas, pela primeira vez, queria aqui trazer uma outra personagem de que gosto muito. A Inês do meu contentamento tem um irmão, o Tiago, e trago-o hoje aqui, não só pelo carinho que com ele também compartilho, mas pela harmonia que é bonita de ver entre estes dois seres. Prova disso, é a foto que junto e que diz bem da ideia de candura que a inocência das crianças nos transmite. Como dizia Fernando Pessoa: "... O melhor do mundo são as crianças". Não sei se é assim, mas sei que, a Inês criança, a Inês amor, será a mais bela flor do meu jardim de Outono. Deste jardim que tem um jardineiro exigente mas, mesmo assim, ela sobressai (sobressairá) poderosa de todas as outras. Não sei se é o rigor da análise que me dita estas palavras, se é o coração que me tolhe os sentidos, mas estou em crer que é a primeira que me impele a vontade. Contudo, e como tenho vindo a dizer ao longo do tempo, ainda resta um segredo para ser desvendado. O que está oculto brevemente será revelado, - proclamo com insistência -, mas até lá só resta a especulação e a contemplação desta bela criança, a Inês do meu contentamento, a mais bela flor do meu jardim de Outono.
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