Turma Formadores Certform 66

Thursday, November 03, 2011

Conversas comigo mesmo - XXXVIII

Por vezes, como diz o acertado aforismo, a árvore impede-nos de ver a floresta, ou seja, quando se dá importância demasiada a coisas pequenas, perde-se de vista o essencial. Foi o que aconteceu aos escribas e fariseus, em relação à Lei de Moisés. Por isso tinha sentido a pergunta que fizeram a Jesus: "Qual o maior mandamento da Lei?" A originalidade da resposta de Jesus não está, evidentemente, no anunciar os dois mandamentos tão conhecidos: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, amarás o teu próximo como a ti mesmo". A originalidade está em equipará-los um ao outro e pô-los no centro de tudo. O resto da Lei e dos Profetas é a manifestação e consequência desta orientação fundamental da vida. Jesus não confunde o amor de Deus com o amor aos homens. Para Ele, o primeiro e principal continua a ser amar a Deus, buscar a sua vontade, escutar a sua chamada. Contudo, não se pode amar verdadeiramente a Deus nosso Pai, sem amarmos, de facto, os seus filhos, nossos irmãos. Esta verdade é, diariamente, esquecida por todos nós. Quantos de nós olham para o seu semelhante, por vezes, ao nosso lado, em sofrimento, e nós ignorá-mo-lo? Quantos de nós face ao sofrimento dum pobre animal indefeso, o ignora, muitas vezes, o maltrata ainda mais, e ele também é criatura de Deus, como nos diz S. Francisco de Assis? Quantos de nós respeitam a natureza, também ela a manifestação de Deus? Quantos de nós respeitam o planeta e tudo o que nele vive, nossa casa comum, também ele revelação de Deus? E contudo, até nos dizemos cristãos e, como tal, somos lestos em apontar o dedo a terceiros quando achamos que não procedem com a sua Lei! Vemos rapidamente o cisco no olho alheio, mas temos dificuldade em ver a trave no nosso. Por isso, estes dois mandamentos são sempre inseparáveis, e constituem a prioridade fundamental da nossa vida cristã, a prioridade das prioridades, sempre urgente e insubstituível. Mas para além de ser um mandamento, deveria ser um código de conduta para todos nós face ao outro e ao mundo, porque afinal, até nos dizemos cristãos... O essencial é colocar um ponto final em todas as vírgulas que nos incomodam. Numa sociedade baseado na casta - mesmo que a reneguemos -, onde os títulos, o nome de família, a riqueza material, são os deuses em que adoramos quotidianamente, reflectimos sobre todos os que estão revestidos de autoridade ou exercem cargos nas comunidades cristãs encontram um oportuno convite a fazerem um exame às suas atitudes e às intenções que os animam no exercício das funções que desempenham. Mas uma vez recorro à Bíblia: "Aquele que for o maior entre vós será o vosso servo". Mas não apenas esses que citamos atrás têm o dever de reflexão, pois o divórcio entre a Fé e a vida, o desfasamento entre o que dizemos e praticamos; o buscar em tudo a afirmação de si mesmo e o prestígio pessoal; o ser muito exigente com os outros e muito condescendente consigo próprio; o servir-se dos outros ou dos cargos que se ocupam para a satisfação dos próprios interesses ou ambições. Tudo isto não é o monopólio de nenhum grupo ou classe são antes, tentações e armadilhas em que todos podemos cair, e caímos... Alguns dirão: "Bem prega Frei Tomás: Olhai para o que ele diz mas não para o que ele faz". Mas para o cristão, Jesus Cristo é o único Mestre. É d'Ele que temos de aprender sempre o que é viver fraternalmente, o que é a autoridade e como exercê-la, o que é a coerência entre a mensagem que se apregoa e a vida que se leva, entre os valores que se defendem e os actos que se praticam. Se nos consideramos seus discípulos não podemos seguir a outro mestre, embora, quase nunca seja assim. Quantas pessoas que conhecemos, que frequentam a Igreja - e criticam os que não vão lá! - o fazem por maniqueísmo, mais do que por devoção? Quantas pessoas utilizam o ritual para apaziguar - temporariamente - a sua consciência? Quantos o fazem para colher dividendos sociais? Quantos se dizem humildes no templo e tiranos no dia-a-dia? Quantos aceitam a humildade como forma de vida? Quantos renegam os títulos, as honrarias, para se aproximarem do seu semelhante, do seu irmão? E apesar disto, temos sempre a tendência de afirmarmos que somos cristãos...

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