Turma Formadores Certform 66

Friday, October 21, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 143

Afinal o novo governo que nos prometia o paraíso onde o mel jorraria pelas paredes apenas nos está a servir o mais profundo desalento e a encaminhar-nos para a mais profunda miséria. Eles que tanto criticavam o anterior governo deixaram - segundo os números ontem divulgados - que a déficit chegasse aos 106,6% do PIB!!! Isto é, toda a riqueza produzida em Portugual não chega para cobrir o déficit que entretanto se agravou. Bem longe dos números que o anterior governo nos deixou, estes dão bem a ideia do desgoverno que existe no nosso país. E não chega dizer que vem de trás, - essa é a desculpa mais fácil e óbvia -, o que importa reter é que as políticas que têm vindo a ser seguidas não têm dado resultado, e a situação agrava-se dia após dia. E se isto já não fosse suficiente, vemos um coro de vozes a levantarem-se contra o OE 2012. E se algumas delas são da oposição, muitas outras são do próprio PSD. Ontem, Manuela Ferreira Leite alertava para a "espiral recessiva" que pode vir a existir em Portugal e que este OE pode vir a potenciar pela estratégia que está a seguir; Cavaco Silva, já anteontem, tinha colocado o dedo na ferida sobre o problema da equidade. Cavaco que raramente fala e quando o faz nem sempre o faz da melhor maneira, desta vez, duma forma clara e explícita, deu o sinal de rompimento de estratégia entre PR e PM. E, de novo, Pedro Matos Rosa, membro destacado do PSD, veio alertar para as incongruências deste governo, com o qual, e segundo o próprio, - não é igual aquele em que votou -, veio afirmar que esta situação, mais do que do governo anterior, vem bem mais de trás, desde pelo menos à 20 anos. Passando por vários governo do PS e PSD (com o CDS à mistura) e que teria começado com Cavaco Silva, então PM, que foi aquele que criou mais déficit. Talvez ainda muitos se lembre do célebre "monstro" expressão feliz do Prof. Miguel Cadilhe para ilustrar esses tempos. Mário Soares com o desassombro que se lhe conhece, também não deixou de falar sobre o tema, dizendo que este OE traduzia as preocupações de contabilista do governo esquecendo que por trás de tudo isto estão pessoas que têm filhos, que têm necessidades e que têm que sobreviver. E acrescentou: "afinal para que servem os políticos se não forem para defender os portugueses". E ele bem sabe do que fala e do que teve de enfrentar com o FMI nos anos 80. E fê-lo sempre no sentido de defesa do país e dos portugueses, - por mais que custe a muita gente -, tendo sempre um discurso positivo e optimista que levou a que os portugueses desse tempo quase que não dessem pelo que estava a acontecer. Discurso bem longe daquele que temos nos nossos dias, onde só nos falam da crise, do caos, do pior que ainda está para vir - responsabilidades também para os "media" - mas nunca uma palavra de incentivo, de confiança, que pudesse suavizar tudo aquilo por que estamos a passar. Porque as contas estão cada vez pior - então Dr. Passos Coelho que está aí a fazer? - é que a percepção de alguns números nos deixam preocupados. Por exemplo, o Estado deve 60 milhões de euros às empresas, se pagasse a sua dívida talvez se evitasse o número crescente de falências, logo, uma forma de evitar o aumento do desemprego. (Veja-se sobre este tema as afirmações do Eng. Francisco Van Zeller). Mas à mais: a despesa pública, por exemplo, é aproximadamente igual a 50% do PIB, isto é, metade da riqueza nacional é absorvida pelas despesas da máquina do Estado, que é lesto a esmagar os seus concidadãos com impostos, mas é incapaz de cortar nas suas gorduras, isto é, é incapaz de impôr a si próprio a austeridade que impõe a todos nós. Ainda por cima num país envelhecido, - temos 3,5 milhões de pensionistas, segundo o prof. João Cantiga Esteves -, onde a criação de postos de trabalho é fundamental para que entrem nesse mercado um grupo significativo de pessoas que vão alimentar estas pensões, assistimos ao seu inverso, com o agravar de condições para as populações, para as empresas, o desemprego a disparar, e a ausência duma estratégia de crescimento que está fora dos princípios do governo, e sem ele, não haverá investimento e logo criação de emprego. Ainda ninguém percebeu se o governo está a representar Portugal junto da "troika" se a "troika" junto de Portugal. (Afinal o governo está a ir muito para lá, do memorando assinado)! E a resposta a esta questão é crucial para entendermos o que se está a passar. No fundo a descoordenação é total em Portugal, mas na Europa não é melhor. Com Sarkozy e Merkel a dividir o mundo - qual tratado de Tordesilhas - apareceu na nossa AR uma voz clara e preocupada que pode conduzir a outro caminho. a protagonista foi a presidente da AR, Assunção Esteves, que ontem, no encerramento dos 100 anos da República, afirmou que "os parlamentos nacionais deveriam levar ao parlamento europeu a revisão de alguns tratados europeus e criar condições para a criação dum governo económico para a Europa". Afirmação acutilante e inteligente, já aqui por nós defendida, embora a UE - e até alguns partidos, nomeadamente da direita -, vão fazer por não ouvir, porque estas palavras encerram em si um modelo federalista para a UE que a actual direcção ultra-liberal nem quer ouvir falar. Nós que somos defensores do federalismo, vemos nas afirmações de Assunção Esteves, o caminho certo, e vindo duma militante do partido do governo, esta afirmação ainda tem uma repercursão ainda maior. Numa Europa hesitante, que vai adiando a resolução dos seus problemas, são palavras como estas que podem agitar e, quiçá, motivar a que se comece a tomar um rumo, a desbravar um caminho que até agora não se percorreu, e aquele que existe é, sem qualquer dúvida, um caminho errado, e disso já ninguém tem dúvidas.

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