Turma Formadores Certform 66

Thursday, October 13, 2011

Conversas comigo mesmo - XXXIV

Como ontem deixei bem patente, passei por um dos dias mais felizes da minha vida. Acho que já merecia, depois de tantos problemas, tantas núvens escuras e espessas que me têm cobrido desde à mais do que uma década. A flor do meu jardim encontrou-se finalmente comigo, pela primeira vez. Primeira de muitas, assim o espero. E o destino neste como noutros assuntos é quase sempre irónico. É que o meu primeiro encontro com a bela Inês - eis o nome de rainha -, deu-se no local onde já muito sofri, onde perdi quase tudo, onde a minha vida ficou carente de sentido. Nesses momentos, pensei que tinha sido abandonado por uma qualquer potestade na berma dum caminho inóspito onde não passa vivalma que me pudesse socorrer. Foram tempos - têm sido tempos - de grande amargura, de escuridão, de desespero. Quando perdemos pessoas que queremos muito e não somos capazes de as substituir a situação torna-se dramática. Eu não fui capaz de as substituir, exactamente porque elas me eram muito queridas e, quando assim é, julgamos que são eternas, que não sofrem o desgaste do tempo como qualquer mortal e então a perda é mais dolorosa e profunda. Vi muita coisa se alterar na minha vida porque não fui capaz de preencher os espaços então deixados vagos até que apareceu esta bela flor bela e radiosa no meu jardim já de Outono vestido. Não sei se veio no tempo certo, mas seguramente veio aliviar as agruras dum pensamento cristalizado à muito no desespero. E a ironia de tudo isto prende-se com o facto que, no mesmo lugar, que para mim sempre foi de perda e desespero, ela se encontrar comigo radiosa, luminosa, para me temperar o desalento. Foi como que uma espécie de redenção depois duma descida aos infernos mais profundos. Celebrei uma verdadeira epifania, algo que já não acontecia vai para mais de dez anos. Espero que este sonho continue, não quero acordar dele, pelo receio de que tudo não passe duma ilusão e me veja de novo mergulhado nas trevas do desespero e da ignomínia. Estou ciente de que desta é de vez. O sentido da vida, transportado por um ser tão frágil, tem que ter um significado, quanto mais não seja o de emissário duma outra dimensão mais justa e perene. A flor do meu jardim chegou. Nesta minha aparente tristeza - fruto de muitos anos já não sei ser diferente - encerro em mim uma alegria maior, mais profunda e, só por isso, esse ser de luz, - a Inês do meu contentamento -, possa significar também a minha redenção. Veio recebida com muito amor, com a alegria de a ter nos meus braços, - no amor que a proximidade da velhice já vai transformando - numa alegria de avô. Mas a Inês está cá, qual bálsamo para o que resta da minha existência, luz para um caminho, farol de aviso, bóia atirada a um náufrago. A Inês chegou e com ela um lote enorme de expectativas, de projectos, de desejos. Não me apresentei perante ela com ouro, incenso ou mirra, - até porque não possuo nenhum deles -, mas sim, com aquilo que de melhor se pode dar a um semelhante, o meu grande e profundo amor. Mas para usar uma frase já por mim muito batida, não pensem que o que estava oculto afinal já foi revelado. Não, melhor será dizer, o que estava oculto foi parcialmente revelado. Ainda falta algo muito importante. Assim, deixo para mais tarde o seu desvendar. É bom para manter o interesse de quem me lê nesta história, - na escrita deste humilde escrevinhador -, cujo desfeixo ainda não chegou. À que manter a expectativa, na linha duma telenovela barata que, apesar de tudo, vai mantendo muitos colados ao ecrã. O que resta do que está oculto será revelado em breve. Até lá só têm que dar largas à vossa imaginação, enquanto eu, tentarei viver - conviver - com esta bela flor que floresceu no meu jardim à menos de vinte e quatro horas e que, como todas as flores em tenra idade, vai precisar muito do carinho e do amor de todos, aos quais eu me junto nesta celebração pela qual nunca pensei vir a passar. A redenção vem de pequenos gestos, de pequenos detalhes, de pequenos seres. Inês és a minha redenção, espero que um dia o saibas apreciar e perceber, por agora, só te posso dizer que podes contar comigo. Continua a iluminar o meu jardim de Outono, a brilhar como a mais bela flor, a perfumar com o teu aroma de primavera o Inverno que o meu jardim, em breve, encerrará. Que sejas muito, muito feliz!

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