Equivocos da democracia portuguesa - 141
Hoje será entregue na AR o OE para 2012. Este documento, daquilo que já se conhece, colocará Portugal aos níveis de 1975 (!), o que significa um retrocesso histórico na vida de todos nós. Para além disso, este documento indicia que as gerações futuras terão uma pesada dívida a pagar no futuro. Nós iremos assumir encargos importantes e esmagadores, mas as gerações futuras terão uma vida bem pior do que aquela que nós temos. E tudo isto, que até pode parecer natural face à grave situação que se vive, não é assim tão simples. Temos como dúvida existencial o porquê deste governo estar a aplicar medidas que vão bem para além daquelas que a "troika" impôs. As justificações dadas são débeis e escondem algo de mais profundo, que é a aplicação dum modelo ultra-liberal que o PSD já tentou por diversas vezes, - sem exito -, e que agora parece querer retomar e aplicar no meio da confusão reinante, onde a maioria dos portugueses nem sequer conhece o memorando da "troika". Até alguns dos militantes do PSD estão perplexos com tudo isto, como é o caso de Pedro Matos Rosa que afirma que "este não é o PSD em que eu votei". Mas vai mais longe, assentando baterias sobre o ministro da economia - será que existe? - quando diz que "não basta ir buscar um assistente a Vancouver que nem conhece a realidade do nosso país". Esta é a questão que muitos de nós já se colocaram, mas vindas duma figura de dentro do partido do governo assume um outro significado. Mas Matos Rosa não fica por aqui, criticando fortemente a retirada dos subsídios de férias e Natal aos funcionários públicos, quando não é tributado o capital, isto é, as grandes fortunas para quem a crise não passa duma figura de retórica. Ele como nós critica fortemente o aumento de meia-hora diária ao horário de trabalho, visto isto levar à diminuição de emprego, que é um dos maiores problemas que estamos a enfrentar. (Estas e outras questões foram discutidas no programa da SIC Notícias, "O Eixo do Mal" de 14 do corrente, que pode, - e deve -, ser visto no "site" da estação). E quando vimos António Barreto dizer que dentro de alguns anos poderemos perder a nacionalidade, não nos parece que António Barreto tenha razão. A perda de nacionalidade já não é, como noutros tempos, imposta pelas armas mas sim pelo poder económico. E sob este ponto de vista já a perdemos à muito. Basta ver como nos vimos tornando num protectorado com as imposições externas de que estamos sendo vítimas. E o mais importante é que parece que se continua a discutir a questão errada. O nosso problema fundamental não é o déficit, mas sim, a dívida externa. E para isso, precisamos duma economia que não temos. É aqui que colocamos a questão já por diversas vezes repetida do crescimento económico. Até agora ninguém ouviu nenhum responsável do governo falar sobre isto, desde logo, o ministro da economia - mas como ele não existe, talvez seja por isso (!) -, e não havendo crescimento económico, não vai haver emprego - questão nuclear -, logo, a dívida não poderá encolher como todos desejamos, até porque não haverá investimento ou este será muito débil. O que vamos assistindo é à venda - a preço de saldo - de alguns emblemas da economia nacional. À dias a TAP vendeu a Ground Force a preço bem a baixo do seu valor real, a uma congénere internacional que tem por trás, como banco financiador, o... FMI!!! Não deixa de ser curiosa esta coincidência. Mas quanto a isto, não se ouviu nem uma palavra de nenhum responsável, desde logo, do homem "que nunca se engana e raramente tem dúvidas". Cavaco que tem sido um verdadeiro PR de facção e não de todos os portugueses como deveria ser, - hoje já ninguém tem dúvidas e já disto falam publicamente -, tem sido um dos mais partidários PR que Portugal já conheceu. Nem na 1ª República vimos tal coisa. O comportamento de Cavaco face a este governo - do seu partido - e do governo anterior é duma clareza meridiana. Ele que defendia que não se deviam hostilizar os mercados no passado que "é quem nos empresta o dinheiro", agora defende o seu contrário, e até vai para o estrangeiro dizê-lo acusando a má governação da UE. Sobre este tema até tem razão, mas não o vimos defender esses princípios à quatro meses atrás, - com outro governo no poder -, e já nessa altura isso era claro para todos. Não sabemos se alguém o escutou, mas provavelmente não. Mas voltando ao PM, este no debate quinzenal na semana passada, dizia que o agravamento do OE se prendia em mais um buraco que foi encontrado. O PS desde logo solicitou esclarecimentos mais detalhados sobre o tema, que obviamente não foram dados, porque a afirmação era falaciosa. O que levou até o porta-voz da Comissão Europeia, Amadeu Altajaf, a desdizer o PM português. O único desvio conhecido é de 1.600 milhões de euros que é a diferença entre o déficit estimado e as metas da "troika". O que existe é um desvio "colossal" das contas da Madeira, e quanto a estas, parece que o PM assobia para o lado, assumindo a sua tomada de posição "corajosa" de não fazer campanha ao lado do "governador". Mas se dúvidas ainda subsistissem, estas teriam sido desfeitas quando o Prof. Paulo Tiago Pereira, professor do ISEG, especialista em finanças públicas, que afirma que "não há nada nos números de execução que indique uma derrapagem orçamental que justifique as medidas anunciadas". Mas Tiago Pereira vai mais longe, quando considera que este é um sinal de má governação. Para ele o governo está a admitir que não conseguirá as poupanças que se comprometeu com a reforma do Estado - "até agora não fizeram nada" - optando pelo caminho mais fácil e cego, que são os salários e as pensões. Estas são verdades que os portugueses têm que conhecer e que não lhes são ditas. Embrulhando o discurso em "falinhas mansas", Passos Coelho vai tentando aplicar o seu projecto ultra-liberal que passa pela destruição do SNS, do ensino público, enfim, do estado social. Depois, sobre as cinzas deixadas, virão os privados, quais abutres sobre as carcaças destruídas. Este é o projecto ultra-liberal que o PSD tem para Portugal, dentro da linha do projecto que Merkel/Sarkozy - mais uma vez o "par romântico" - tem para a Europa. Sobre os estilhaços da Europa e dos seus países membros, sobre os estilhaços do euro, o privado aparacerá com toda a força, fazendo esquecer uma das vitórias mais importantes da Europa, e que a distinguia de todos os demais, que era o apoio social aos seus concidadãos. O poder económico hoje determinante, vai condicionando o poder político fraco e sem ideias - Portugal é bem o exemplo disso - onde todos nós, cidadãos comuns, perderemos. Este é o caminho para onde nos estão a conduzir, é altura de dizer basta, já vimos as vossas intenções. Talvez estas manifestações dos chamados "indignados" seja a primeira ponta dum imenso iceberg social que se está a erguer um pouco por todo o mundo. As populações estão a tomar consciência de que é preciso mudar, mas que a mudança não se faz sempre à custa dos mais débeis. Talvez este seja o sinal, e esperamos que não seja inconsequente. Ficaremos atentos ao seu desenvolvimento.
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