Turma Formadores Certform 66

Tuesday, November 01, 2011

Elegia aos "meus ausentes"

"Negro é o pano que cobre que cobre o meu coração, como negros são os sentimentos que me vestem na morte dos dias. Negras as forças que me movem contra a vida, contra o Amor e a felicidade, contra prazeres e euforias. Negra é a tinta com que escrevo estas palavras e a névoa que do olhar dos vivos me vem encobrir; no meu mundo de bréu transporto o negro fado de toda a luz desejar e nenhuma luz atrair. Negro é o meu manto, assim como o meu trono. Sou rei de uma dor negra, oferenda mortal que não posso rejeitar; negra é a passadeira que se estende até ela e o sonho em que todas as noites me venho aconchegar. Negra é a espada em que desfilam os meus pensamentos. Espada que dá vida às palavras que não me atrevo a pronunciar. Apenas a morte as pode ouvir, quando me acaricia o rosto na negra tempestade, porto em que minha alma vim abrigar. Vou queimar as mãos, para que esta espada atormentada não volte a marcar o papel". Com estas palavras um amigo descreveu os seus sentimentos. Nunca pensei vir a utilizá-lo neste espaço, mas estou a fazê-lo pela eloquência das palavras e dos sentimentos que são também os meus. Neste dia dos ausentes que hoje comemoro - mais um - vêem-me à memória muitas recordações de tempos idos, de outros tempos e outros espaços, onde a felicidade reinava. Hoje sinto-me só, profundamente só, quando reabro a minha "caixa de Pandora" e dela saem todas as recordações, todos os fantasmas que vêm assolando o meu imaginário de à uns anos para cá. Nesta solidão acompanhada - provavelmente a pior das solidões - fundo-me com as sombras, com a negritude do meu coração sofrido e sofredor. "Ouve o que o coração te diz, sente o que ele sentir, pergunta o que ele perguntar, e pede, mas pede, só o que fizer o teu coração sorrir...", diz um outro amigo, mas convenhamos que não é fácil. Quando a felicidade já não passa duma quimera, por longínqua, quando a confusão dos sentimentos para além de ajudar, apenas servem para confundir e baralhar, sinto-me só, infeliz, numa solidão com que o destino me premiou. Troféu azedo, troféu negro, dum negro profundo como sinto o meu coração, onde as memórias vão preenchendo os espaços vazios, onde os ausentes fazem a sua aparição, marcam a sua presença. "A rua está deserta, alguém gritou o teu nome, na minha cabeça ressoou como um trovão. Fui para a rua, e...", e apenas o vazio - tal como a rua deserta - apenas recordações, memórias de tempos idos, apenas fantasmas... Hoje mais do que nunca, os ausentes marcam posição, ocupam espaços, fazem parecer normal a anormalidade em que vivo. "Mesmo que tivesse nas minhas mãos todo o perfume das rosas, toda a beleza do céu, toda a pureza dos anjos, toda a inocência das crianças, toda a grandeza do mar, toda a força das ondas, mesmo que eu tivesse todas as coisas belas da vida e todos os belos lugares do mundo nada teria sentido se eu não tivesse o presente mais valioso que o Ser Humano pode ter...a Amizade!!! Eu só tenho a agradecer por TODOS VOCÊS EXISTIREM NA MINHA VIDA...! PESSOAS LINDAS....", mais uma amiga a dar o seu contributo, porque hoje decidi fazer este espaço de amigos - amigos mais próximos ou mais afastados - mas AMIGOS à mesma. Por momentos, senti-me menos só, enquanto alinho letras umas atrás das outras, procurando que no fim façam algum sentido, tendo a leve sensação de companhia, de pureza, de conforto, de presença. Mas, quando acabar de dispor estas letras no papel, a solidão regressará de novo - talvez até duma forma mais sofrida, mais dolorosa - porque, por breves instantes, estive aqui convosco, presentes e ausentes, numa comunhão de espírito que muito me ajudou, para logo ficar de novo só, porque as palavras acabaram, e os espaços começaram a ficar vazios de novo, os espectros chegaram outra vez, enfim, ... os meus ausentes vieram confortar-me, talvez, por me verem tão sofrido, tão ferido, tão só. Vinde, trazei o calor das memórias da minha meninice, trazei a alegria da minha juventude, trazei a determinação doutros tempos, talvez assim, me sinta menos só, menos perdido neste mar de tristeza, sempre renovada, neste dia... o dia dos meus ausentes!

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