Turma Formadores Certform 66

Thursday, October 27, 2011

Conversas comigo mesmo - XXXVII

Dia invernoso, num Outono que passou rapidamente de Verão ao mais profundo Inverno. Lá fora a chuva continua a bater na vidraça, o vento uiva, os trovões ribombam, Mozart ouve-se em fundo e, neste instante, vêm-me à memória a minha flor, a mais bela flor do meu jardim de Outono, cada vez mais forte e resoluta, como se espera duma futura mulher determinada, decidida. A Inês do meu contentamento chegou na madrugada dum dia radioso de sol, qual luz que transportava dentro de si lá do lugar donde veio, - ser de luz -, fazendo que da madrugada escura se rasgasse a luz mais etérea, e hoje, quinze dias volvidos, a chuva - quais lágrimas que escorrem pela vidraça - é choro de a ver envolta em tão grande beleza. A Inês começa a sua caminhada, começa a escrever a sua lenda pessoal, em que deponho muita expectativa e entusiasmo. Lá fora o céu continua a chorar, um choro alegre de quem saúda este ser recém-chegado. O vento faz bailar as gotículas de chuva na vidraça, qual dança de celebração, de regozijo. E Mozart continua a fazer-se ouvir, torrentes de som desprendem-se, ecoam pelo ar, na alegria profunda de quem saúda esta criança. A mais bela flor do meu jardim de Outono está a crescer, a fortalecer-se, a firmar-se no terreno, qual flor bela e radiosa, ofuscando todas as outras com a sua beleza imensa. Inês amor, Inês flor do meu jardim de Outono, cada dia é sempre um dia de saudade, - porque já não te vejo desde o anterior -, nesta sofreguidão dum presente recebido, que guardo cioso, sôfrego, e que não deixo de contemplar. E a chuva continua a cair indiferente, deixando lágrimas que escorrem pela vidraça, riscadas pelo vento e Mozart continua a ecoar os seus acordes. Inês poema, Inês luz dum caminho sombrio que percorro, és a luz que me conduz desde à quinze dias, és o alento nos momentos de fraqueza, és a força nos momentos de desespero, és a esperança - embora tardia! - de dias melhores, és a redenção de quem já não pensava que lha concedessem, és a música das estrelas para ouvidos endurecidos pelos ruídos do mundo. És fragilidade num mundo cruel, és carinho num mundo desapiedado, és bússola para quem se perdeu, és bóia para quem esteve perto de se afogar. És esperança quando essa já não se vislumbra, és brilho nos dias foscos que contemplo. Inês do meu contentamento, és o motivo da minha alegria num oceano de tristeza, és epifania num sombrio recanto. Inês, a mais bela flor do meu jardim de Outono, és música celestial, és caminho no meio do nada. E, enquanto escrevo, as lágrimas humedecem-me o rosto, tal como a chuva, lágrimas de alegria, lágrimas de contentamento, lágrimas de júbilo. Mas ainda temos um segredo entre nós, que está oculto e que, em breve, vai ser revelado. Um segredo de amor, um segredo de partilha, um segredo... simplesmente! E lá fora a chuva continua a cair, indiferente, Mozart continua a preencher os silêncios e eu - como sempre - penso em ti...

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