Turma Formadores Certform 66

Monday, October 24, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 144

Ainda retomando o OE 2012 verificamos que este é extremamente recessivo, o que até nem seria surpresa dada a situação que vivemos, mais o mais confrangedor é que nele não se nota nada que indicia um crescimento da economia nos anos vindouros. E sem crescimento, as empresas não investem, logo o emprego não se cria, vindo mesmo a libertar alguma mão-de-obra - dada a fraca "performance" das empresas - o que vem engrossar ainda mais os níveis de desemprego. Desemprego que já vai a aproximar-se dos novecentos mil, e estamos convencidos que durante o próximo ano, estará próximo do milhão! E é preciso não esquecer ainda o desemprego oculto, isto é, todo aquele que por uma razão ou por outra não está abrangido por qualquer esquema social, logo estando fora das estatísticas oficiais. Mas quando se pedem tantos sacrifícios aos portugueses, não deixa de ser lamentável que haja quem tente beneficiar - mesmo que protegido pela lei - dos dinheiros públicos duma forma, no mínimo, grosseira. Tal prende-se com o ministro da administração intena - Miguel Macedo - que estava a receber um subsídio de deslocação. Este ministro tem casa em Lisboa e por isso não deveria ter direito a ele. Mas mesmo que a lei lhe conferisse esse direito, há algo que é muito importante - sobretudo, nos tempos que correm - que se chama ética. Não basta que hoje o ministro em causa vá abdicar do suplemento, porque fica sempre a imagem de que o fez apenas e só, porque a comunicação social o trouxe a lume. (Não sabemos se vai devolver aquele que já recebeu, mas se o fizesse, só lhe ficaria bem). Na política tem que se ser como a mulher de César! O mesmo se diga do sub-secretário de estado que estava nas mesmas condições, e de quem nada sabemos sobre a intenção do que pretende fazer. Não basta dizer que se viaja em classe económica, como o PM fez questão de passar para os "media" - ainda por cima com bilhetes oferecidos pela TAP! - porque além destas medidas serem inconsequentes para o déficit são demasiado populistas, e não podemos nem devemos esquecer que somos europeus e não uma qualquer república das bananas embora, por vezes, a fronteira não seja tão nítida assim. Já agora, gostaríamos de saber se o ministro Paulo Portas viaja em económica, temos dúvidas, mas também não achamos isso determinante, embora como sinal o possamos considerar. Numa altura em que a "classe política" está tão desgastada, onde o divórcio entre os políticos e as populações é tão evidente, não deixa de ser curioso que estes - os políticos - tenham gestos que denotam bem aos solavancos em que andam. Vem isto a propósito das pensões vitalícias aos políticos. Numa altura em que se pedem tantos sacrifícios às populações, estes senhores têm chorudas "reformas" só porque detiveram cargos públicos. E, mais uma vez, só depois da comunicação social dar notícia disso, é que se está a tentar corrigir à pressa a situação. Até Marcelo Rebelo de Sousa não pode passar ao lado disto, porque denota um tal amadorismo e, o que é mais grave, uma protecção classista que os restantes portugueses sujeitos à pressão que se vê todos os dias, não podem ficar indiferentes. Depois ainda se admiram da indignação e da agitação social. E temos que ter em atenção aquilo que por aí vem. Sobretudo, a agitação derivada das forças armadas - não se esqueçam que foram questões remuneratórias que levaram ao 25 de Abril de 1974 - que pela primeira vez uniu oficiais, sargentos e praças, numa unanimidade que não se viu nunca. É preciso ter em conta as afirmações de Vasco Lourenço - um dos capitães de Abril considerado dos mais moderados - sobre o embuste e mentira tão cara aos nossos políticos. Para o justificar utilizou um vídeo que circula no youtube sobre Passos Coelho.(Ver neste link: http://www.youtube.com/watch?v=gNu5BBAdQec ). O PM não é o único a fazê-lo, outros já o fizeram antes mas, confessamos que não estavamos à espera de tal desaforo. Em Portugal tem-se cultivado a tese daquilo que se diz em campanha é diferente da prática política quando se é poder. E isso tem sido algo que tem levado à cada vez maior desacreditação da política e dos políticos. Já afirmamos neste espaço por mais duma vez, que chega a ser confrangedor ver uma política que está a ser seguida e que até é benéfica para as populações, ser simplesmente abandonada porque o governo seguinte tem uma ideologia diferente. Isso leva a um retomar de estratégias que nos fazem pisar o mesmo terreno durante anos sem que nenhum avanço se verifique. (Temos muito a apender com democracias mais profundas, por exemplo, com a inglesa). Não se segue o interesse comum, mas sim, o partidário que é efémero. Mas estas indefinições internas, são o espelho do ziguezaguear da Europa. Com cimeiras sempre adiadas, onde as conclusões e, sobretudo, as decisões tardam, vemos que a Europa que foi o sonho maior de Jean Monet e de políticos brilhantes como Jacques Delors, se está a desfazer, a desmembrar, levando consigo o grande projecto europeu da moeda única, o euro. Já os gregos dizem, e na nossa opinião bem, que o problema não são eles, ou não são só eles, mas que a UE tem que ter uma estratégia mais abrangente e globalizante de que não tem dado mostra. Nós que somos defensores do federalismo - já por diversas vezes assumido neste espaço - vemos que outros se estão a converter a esta ideia em prol da continuação do projecto europeu. O último dos quais foi Marcelo Rebelo de Sousa que afirmou que "estamos no meio duma ponte e assim não conseguimos estar nem numa margem nem na outra". E sublinhou, "o projecto europeu tomou algumas medidas no sentido federalista e agora é preciso concluí-lo". Palavras sábias duma pessoa acima de qualquer suspeita. De facto, o questão das "eurobonds" tão necessárias ao refinanciamento das economias mais débeis, passando por uma estratégia mais solidária para os países mais fracos, prendem-se com opções federalistas que foram entravadas por Sarkozy e Merkel. Repetimos o que já dissemos neste espaço muitas vezes, Merkel já se esqueceu da ajuda europeia que o seu país necessitou após a reunificação da Alemanha. Vem-nos à memória aquele aforismo popular "não sirvas a quem serviu nem peças a quem pediu". E se algum movimento se vai verificando na UE é impulsionado por algumas afirmações contundentes de Delors que tem embaraçado essa dupla que acha que tem o direito de mandar na restante Europa. Se achamos que a nível interno as coisas estão a correr mal e que será necessário pensar na 3ª República a prazo; na UE talvez se tenha que voltar ao modelo anterior que tantos sucessos trouxe, mas para isso, são necessários estadistas que não apenas meros funcionários da política como é o caso actual.

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