Turma Formadores Certform 66

Thursday, November 10, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 147

Aquilo que à uns meses atrás parecia ser exclusivo da política portuguesa e do governo de então, afinal é mais profundo, como por variadas vezes aqui o dissemos, embora os políticos - hoje no governo e então na oposição - negavam na sua ânsia indomável para "ir ao pote". O governo foi subtituído mas as dificuldades continuaram, ou melhor dizendo, agravaram-se e continuar-se-ão a agravar enquanto os responsáveis políticos não perceberem que enquanto não puserem a economia nacional a crescer estão perante uma batalha perdida. A rua já começou a falar com a greve dos transportes, - a forma mais eficiente de parar um país -, e outras se desenham no horizonte, vindo a culminar com a greve geral de 24 do corrente. As forças militares e paramilitares não escondem o seu desconforto, - atente-se nas declarações recentes de Vasco Lourenço e de ontem de Otelo -, e perante isto o governo parece que não tem nada a dizer aos portugueses de cima da sua maioria. Passos Coelho parece que ainda não percebeu que as maiorias também se abatem e já o devia ter entendido porque em Portugal tal já se verificou. Mas o desnorte é imenso e o prometido diálogo com a oposição - leia-se o PS - sobre a austeridade que está a ser implementada não passa duma falácia, tal como, a política que estão a seguir depois de terem sofragado um programa em campanha eleitoral que nada tem a ver com aquilo que estamos a passar. E quando o líder socialista tenta evitar o corte de um dos subsídios face à folga existente no OE, logo Miguel Relvas aparece a dizer que não. (Num coro estranho a que se juntou, logo de seguida, Marques Guedes, num discurso verdadeiramente ensaiado). Tudo isto é uma vergonha a que estamos a assistir e uma trapassa, coisa já habitual entre nós - infelizmente - entre o programa que se apresenta e a política que se segue quando se é governo. O "governador" da Madeira continua com as suas diatribes, agora foi o dar tolerância de ponto aos funcionários públicos para assistirem à tomada de posse dele mesmo pela... televisão! Isto é Portugal no seu melhor. Mas afinal o problema que era só de Portugal e de Sócrates, como muitos diziam, mesmo figuras com elevada responsabilidade do Estado, vemos agora que não era assim, os problemas da Grécia estão a levar a uma crise sem precedentes, a Irlanda vai recuperando, embora o caso irlandês saia da alçada dos restante por ser meramente financeiro, Portugal que está na situação em que está, e agora a Espanha que começa a ver-se acossada, a Itália que está na eminência da derrocada - com a imposição da saída de Berlusconi de cena - por imposição da UE, com a França a fazer profundas reformas para evitar que a sua economia deixe de ser AAA, enfim, o problema era (é) mais vasto do que aquilo que por cá alguns pretendiam fazer crer. Temos vindo a referir neste espaço que podemos estar na eminência duma quebra profunda das economias a nível global se estas não forem capazes de criar uma estratégia comum, entrando numa espiral recessiva que conduzirá a um retrocesso civilizacional de mais do que uma década. Curiosamente, ontem vimos este mesmo postulado defendido pela directora-geral do FMI, Christine Lagarde, que veio avisar - mais uma vez - para o perigo que tudo isto representa se não formos capazes de por de lado as nossas divergências. Assim se prova que quando alguns achavam que não se deviam criticar os mercados, porque eles sempre têm razão, agora já pensam o contrário, dando-se até ao luxo de irem à ONU porque o que vêem nos jornais sobre Portugal não lhes agrada e querem melhorar a imagem do nosso país. Porque não o fez antes mas só agora que o seu partido é poder? Cavaco Silva deve muitas explicações aos portugueses. Já aqui o dissemos, por mais de uma vez, que o PR é o mais partidário de sempre, um verdadeiro PR de facção. E será bom que não esqueçamos isso, caso contrário, até pensamos que - pelo comportamento - temos um PR que não o actual. Cavaco devia ter feito muito mais e não fez, como anteontem Soares dos Santos (presidente do grupo Jerónimo Martins) disse: "Temos um presidente que não faz nada"! Entretanto, os presidentes dos principais bancos já fizeram chegar a Olli Rehn uma carta a dizer que evite que o governo português intervenha nos bancos, bancos que estão mais em dificuldade caso a Itália venha a ter problemas - como tudo leva a crer - do que a Grécia. Nesta confusão, o directório Sarkozy/Merkel que criar uma UE a duas velocidades, afastando os países periféricos do euro. Esquecem que quando criaram o euro, deram um paso importante no caminho da federalização da UE, embora o queiram renegar agora. E também esquecem que, enquanto não criarem as obrigações europeias (eurobonds) não sairão desta encruzilhada. Tudo isto, contudo, parece difícil com o directório ultraliberal que hoje impõe os caminhos ao resto da união. A menos que a isso sejam obrigados! É caso para dizer que quando se perdem os anéis que se salvem os dedos. Contudo, a incongruência destas ideias é enorme porque, não devemos esquecer, que foi este directório com as suas hesitações, que conduziram a UE para a beira do precipício em que se encontra. A crise está longe do fim, e se os países periféricos vão (estão) a passar por dificuldades, não é seguro que os mais ricos lhe passem ao lado. Ainda muita água há-de correr sob as pontes e então veremos o que ficará de tudo isto.

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