Turma Formadores Certform 66

Tuesday, November 22, 2011

"O Último Segredo" - José Rodrigues dos Santos

'A inspectora esboçou um esgar inquisitivo. "Erros? Que erros?" O historiador susteve-lhe o olhar. "Não sabia? A Bíblia contém muitos erros". "O quê?" Tomás girou a cabeça em redor, procurando certificar-se de que ninguém o escutava. No fim de contas encontrava-se em pleno Vaticano e não queria desencadear nenhum incidente. Viu dois sacerdotes junto à porta que conduzia à Leonina, um deles devia ser o prefetto da biblioteca, mas concluiu que a distância era suficientemente grande e não corria o risco de ser escutado. Inclinou-se, mesmo assim, para a sua interlocutora e numa postura de conspirador preparou-se para a partilhar com ela um segredo com quase dois milénios. "São milhares de erros a infectar a Bíblia", murmurou. "Incluindo fraudes" '. Este é o leit-motiv do livro que hoje vos trago. O último romance de José Rodrigues dos Santos, num estilo muito próximo, criando uma polémica idêntica a que foi criada à uns anos atrás por Dan Brown com o seu famoso "O Código Da Vinci". Tal como aconteceu com este escritor, também Rodrigues dos Santos se viu alvo dum ataque de figuras cimeiras da Igreja que, normalmente e apressadamente, rejeitam tudo o que as possam pôr em causa. Se ainda existisse a "sagrada Inquisição" já sabíamos onde o escritor ía parar, e os seus livros seriam seguramente inscritos no Index para serem banidos, isto é, destruídos... queimados. Mas os tempos são outros e as coisas não se passam assim. Acho que esta atitude de figuras cimeiras da Igreja peca por desproporcionada e, tal como no livro de Dan Brown, só lhe faz publicidade - ainda por cima gratuíta - e leva a que pessoas que habitualmente não o leriam acabem por o fazer, quanto mais não seja, por curiosidade. Desde à muito que se levantam questões em torno da figura de Jesus Cristo e dos alicersses da Igreja cristã, sobretudo, daquela que tem mais impacto no mundo, a Igreja Católica. Mas, não é porque possa ser incómodo para qualquer um de nós, que a investigação não avance e torne claro tudo aquilo que nos foi transmitido pelos nossos ancestrais. Todos sabemos, e não precisamos de ser grandes estudiosos da matéria, que existem muitas pontas soltas em torno da questão do Cristianismo. E, para que não se alimentem polémicas desnecessárias, o aprofundar das questões só pode trazer benefícios à clarificação das situações, deixando de permanecer a dúvida. Este é seguramente um grande romance, mais um "best-seller" do autor, que levanta questões importantes e nos deixa a pensar. E o criar em nós interrogações já é um bom princípio. Quanto ao autor, não necessita de apresentações. Primeiro, porque já aqui fiz a sua apologia em obras anteriores, depois, porque é um pivot conhecido da RTP1 que nos entra diariamente portas a dentro no Jornal da Noite. Refiro apenas que, Rodrigues dos Santos nasceu em 1964 em Moçambique. Abraçou o jornalismo em 1981, na Rádio Macau, tendo ainda trabalhado na BBC e sido colaborador permanente da CNN. Doutorado em Ciências da Comunicação, é agora professor da Universidade Nova de Lisboa e jornalista da RTP. Trata-se de um dos mais premiados jornalistas portugueses, galardoado com dois prémios do Clube Português de Imprensa e três da CNN, entre outros. Neste seu nono romance, Rodrigues dos Santos recupera a figura do historiador Tomás Noronha, uma espécie de Sherlock Holmes dos nossos dias, em torno do qual faz desenrolar os seus enredos. Livro polémico, muito bem construído, que certamente contará, - como os anteriores -, com o favor do público. Afinal Rodrigues dos Santos é o escritor mais lido entre nós. Aqui fica a sugestão e o convite para uma leitura que será, seguramente, muito interessante. Imperdível.

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