Equivocos da democracia portuguesa - 149
Esta semana tem sido fértil em acontecimentos. Desde logo, o famoso "estudo" feito sobre a RTP e liderado pelo prof. João Duque. Um estudo que custou seguramente muito a cada um de nós e que agora vai parar ao lixo. João Duque, sempre sapiente do cimo da sua cátedra, parece que afinal não sabe em que país vive - ele que tanto critica tudo e tudos pelo mesmo motivo - quando propõe a extinção da RTP Informação e a fusão da RTP África com a RTP Internacional. Isso significa que, duma maneira velada, João Duque incita ao controle dos conteúdos informativos da RTP eliminando aquele que - pela sua natureza - é o canal nobre de informação. Ele que tanto criticou o governo anterior, acusando-o de controle da informação, afinal vem propôr algo mais radical que é uma espécie de "censura governamental" aos conteúdos informativos e, pelo sim pelo não, reduzir estes ao mínimo possível. Tal levou até a que um deputado do CDS - partido da coligação - viesse a terreiro criticar fortemente este "estudo". João Duque, apesar da sua pose mais ou menos liberal, não consegue esconder um certo passado mais esquerdista - leia-se PCP - mantendo uma visão, que inclusivé este partido, já à muito abandonou. "Olha para o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço", diz o provérbio popular, e nunca como agora ele tem expressão mais ajustada. O próprio governo certamente incomodado com as repercurssões do documento, já veio dizer, através do ministro da tutela - Miguel Relvas - que não concorda com muitos dos postulados. Mas as contradições não acabam aqui. O desemprego - grande pecha da situação actual - vai aumentando paulatinamente, aparentemente sem controle, voltando a atingir novo máximo, 12,4%. Contudo, o ministro das finanças já veio anunciar, no seu ar mansinho, que a situação se vai agravar e muito no próximo ano. Significa que a situação do país está sem controle e o governo - apesar dos apoios da "troika" , em público - não consegue deslindar a situação do país conduzindo-o para um abismo que se nos afigura cada vez mais próximo. As exportações, que até agora tinham vindo a suster a situação, também elas acabaram por cair, o que significa que a breve trecho estaremos mergulhados numa situação insustentável. Pelo terceiro trimestre consecutivo, o PIB voltou a regredir, o que quer dizer que Portugal é o único país em recessão técnica no próximo ano! Para quem criticava o anterior executivo não deixa de ser curioso que agora peçam a compreensão dos portugueses. Nunca se chegou a uma situação destas desde o 25 de Abril de 1974 e, sobretudo, em tão pouco tempo. É preciso não esquecer que o governo leva cerca de seis meses de actividade. Mas, como se isso não bastasse, agora até o ministro da economia - cujo nome nunca nos lembrámos, porque será? - veio afirmar bombasticamente que a crise acaba no início de 2013. Já outros antes dele fizeram a triste figura que este está a fazer. Todos sabemos que não será assim, mesmo quando nos tentam atirar areia para os olhos. O ministro das finanças não escondeu a questão e foi mais sério nas afirmações, quando afirmou que "Portugal vai necessitar de ajuda para além de 2013". Coisa que já aqui dissemos por várias vezes, porque a situação que se tem pela frente é trabalho para uma geração. Mas a "troika" que veio cá ver como andam as coisas foi ainda mais longe. "Se houver algum precalço este trabalho foi em vão, e isso é sempre possível porque depende de factores externos". Aqui está tudo dito. Como país dependente do exterior, Portugal estará sempre condicionado pelo que lá fora acontece, e como por lá as coisas não andam melhor, o mais certo será que no fim tudo vá por água abaixo e Portugal entre numa espiral recessiva semelhante áquela que está a destruir a Grécia. Manuela Ferreira Leite já o veio dizer, e agora a "troika" não o escondeu, assumindo essa realidade com as cautelas que a situação exige para não criar alarmismos nas populações. Mas esta é a realidade. Mas então porque é que o governo está a ir muito para além do que a "troika" admite? Por uma simples razão. Em 2013 começa um ciclo eleitoral que irá terminar mais à frente com a eleição dum novo governo e dum novo PR. As autárquicas vêm em primeiro lugar e o PSD - partido com vocação autárquica - não as quer perder, porque isso será um sinal para o governo. (Lembram-se do que aconteceu em idêntica situação com António Guterres?) Assim, à que colocar tudo o que de pior tem que ser feito em 2012 para em 2013 aparecer com alguma abertura para, mais uma vez, iludir os portugueses. Este é o ciclo infernal da nossa política que vem depauperando o país. A menos que a UE nos pregue uma partida, coisa que não é difícil de advinhar, face à situação que nela se vive. Com a Grécia em frangalhos, com a Itália sem saber bem o que fazer, com uma Espanha que ameaça ser o seguinte, com o "rating" dos bancos alemães a baixar(!) - como aconteceu ontem com a Moody's ao baixar o "rating" para dez bancos alemães - é de admitir que o cenário não está fácil e que ainda muita água irá correr sob as pontes. Já se vai falando duma Europa a duas velocidades, o que seria péssimo para os países periféricos como Portugal, inclusivé com a possível saída do euro, coisa que a acontecer seria catastrófico para os países com problemas como Portugal, bem como, para o próprio euro e, quiçá, para a Europa. Neste emaranhado de problemas, ainda bem que temos um "iluminado" no governo que já afirmou que a crise ía acabar no início de 2013, só falta publicar o decreto! Ministros destes é que Portugal precisa para mostrar à Europa e ao mundo como se governa!!!
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