Turma Formadores Certform 66

Monday, November 14, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 148

"Hoje sinto uma perda discreta e progressiva do poder de quem nos governa e as causas são várias". Estas são palavras de D. José Policarpo, cardeal patriarca de Lisboa. E acrescentou: "Liberdade do poder financeira frente à economia". Todos sabemos da extrema discrição que os membros da Igreja colocam nas suas palavras e, sobretudo, as suas mais altas figuras. Quando o cardeal patriarca de Lisboa faz estas afirmações, isso significa que o debate interno já vai longo, e é preciso passá-lo, embora discretamente, para o público. E nada mais acertadas do que essas palavras. Vemos um PM agarrado às ideias de Merkel, o que levou até a vermos a discrepância das opiniões entre este e o PR. Será que Passos Coelho é uma espécie de embaixador de Merkel entre nós? Ainda não vimos uma única ideia do PM desde que tomou posse, limitando-se a reproduzir o que a chanceler alemã diz, como se fosse apenas uma espécie de relógio falante de origem alemã. Cavaco Silva volta a insistir na tónica da intervenção mais clara do BCE nas economias e não só das periféricas coisa que Merkel e Passos Coelho acham errado. Todos sabemos que o que se está a passar em Portugal vai muito para além do programa da "troika", e é isso que não se compreende. Porque ir mais além e conduzir o país para um empobrecimento gigantesco de que dificilmente sairá? Isto diz bem das fracturas que começam a existir na sociedade portuguesa - e na classe política - que leva a que o PR e o PM assumam publicamente as suas divergências. Cavaco sempre tentou proteger este governo - afinal era o seu governo, o governo do seu partido -, mas o caminho que vem a ser seguido assume-se tão radical que, nem ele, pode evitar a discordância. As manifestções de rua começam a tornar-se mais radicalizadas e os protagonistas começam a ser diferentes. Se as manifestações organizadas pelos sindicatos fazem parte do jogo democrático, já quando vemos os militares na rua devemos pensar de modo bem diferente. Temos que ficar incomodados com a situação a que o país chegou e para onde o querem conduzir, levando a um empobrecimento nunca antes visto em Portugal. Afinal, como dizia ontem Mário Soares: "Os que nos emprestaram o dinheiro não nos deram uma esmola, estão a receber o seu juro, e vão ganhar muito dinheiro com isso. Daí não ser admissível que sejam eles que vêm governar Portugal". Palavras acertivas dum homem que - também ele teve que negociar com o FMI nos anos 80 - por isso, sabe bem do que fala. No governo não se pensa assim, vigora a tese do "bom aluno" e o resultado está à vista. Na UE as coisas não andam melhor. A poderosa Merkel continua a impôr governos, - como aconteceu na semana passada na Grécia e ontem na Itália -, na tentativa de criar uma espécie de embaixadas alemães que dominem esses países e os conduzem ao sabor daquilo que ela pensa ser o melhor para a ... Alemanha! Hoje é evidente que enquanto o BCE não emitir mais moeda e não forem criadas as "eurobonds" a Europa não sairá do impasse em que se encontra. O empobrecimento dos países periféricos será uma realidade, a UE ficará cada vez mais fragilizada e o euro correrá o risco de se estilhaçar. O projecto europeu foi pensado para ser uma federação, e enquanto os seus membros não o admitirem, a UE será sempre um projecto adiado, senão mesmo, um projecto falhado. A racionalidade política está a perder-se, os mercados estão sem lei, e comandam a economia e, como dizia o cardeal patriarca, os políticos têm cada vez menos poder, passando a ser agentes de interesses de potências outras, que não dos seus próprios países. Assim, o sonho de Jean Monet quando pensou o projecto europeu, depois brilhantemente continuado por Jacques Delors, permanecerá adiado. Se algum caminho se fez, foi pressionado por políticos da velha guarda, - como Delors -, que já estão fartos de ver tanto desaforo. A confusão é muita e se não se colocarem os pontos nos iis, os países periféricos correm o risco de implosão ou de perda de soberania. Provavelmente será isso que Angela Merkel quer. E o que quererá Passos Coelho?

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