Equivocos da democracia portuguesa - 150
O governo parece andar às curvas. Avança e recua consoante sente a contestação das populações. Foi o caso da intervenção na AR de Vítor Gaspar no âmbito da discussão na especialidade do OE 2012. Este começou por uma patética apologia dos funcionários públicos precisamente na semana em que se irá realizar a greve geral, numa clara tentativa de a desmobilizar ou minorar os seus impactos. O mesmo ministro que decretou o confisco do subsídio de Natal e de férias, tem agora o desplante de vir com falinhas mansas tentar amenisar a situação. Inclusivé, já veio anunciar que para o ano não se irão proceder a alterações salariais na função pública, num claro recuo ao que vinham afirmando no passado recente. O ministro da economia - cujo nome nunca nos lembramos! - só sabe vir à AR com uma agressividade inusitada, vinda dum mero assistente de faculdade, que ainda por cima, mal conhece o país visto estar emigrado à muito no Canadá. Miguel Relvas - o homem dos negócios em trono do BPN, ainda se lembram? - vem afinal dizer que o estudo feito para a televisão pública afinal não é tão bom assim, embora tenha sido pago com os nossos impostos, como não poderia deixar de ser. A situação já tomou tal foro que até José Manuel Fernandes já veio afirmar que "Duque foi desastrado", o que indicia que o estudo vai para o lixo porque dele pouco ou nada se aproveita. O "governador" da Madeira vai gastar 8,6 milhões de euros (!) só em fogos-de-artifício e iluminações de Natal, apesar de estar sem fundos, depois de ter levado a Madeira à bancarrota, e ainda por cima, estando a beneficiar dos dinheiros do Continente, ou seja, de todos nós. (E até, com a incompetência já habitual, o OE 2012 tem um erro que faz com que a dotação da Madeira aumente para o ano! Será erro fruto de incompetência, ou será compromisso assumido a ver se passava?) Logo numa altura em que o PSD-M faz aprovar uma lei em que um deputado pode representar 25!!! O ministro da educação vai aconselhando os jovens licenciados a procurarem outras paragens pela via da emigração, o mesmo que se tem verificado em alguns centros de emprego. No meio de tanto desaforo, o país vai-se afundando, com uma recessão cada vez maior - a revisão feita pelo governo após ter vindo cá a "troika" é disso exemplo - o que faz com que Portugal seja o único país em recessão para o próximo ano. A carga fiscal não pára de aumentar, e qualquer dia até pagaremos imposto pelo ar que respiramos. Afinal para quem tinha tantas ideias e tantos projectos para por o país a crescer - coisa que não é visível no OE para o ano -, afinal quem não votou o PEC 4 porque achava que os portugueses não suportariam mais carga fiscal, apesar das promessas (mentiras) apresentadas em campanha eleitoral temos uma mão cheia de nada. (Manuela Ferreira Leite já veio dizer que este é um governo que só sabe aumentar impostos e que o país chegou ao limite, isto é, o aumento de impostos já não significa aumento de receita). Ou melhor, temos uma mão cheia de impostos que nos esmagam, que destruíram a classe média, que provocaram um retorno civilizacional a níveis de 1974, que estão a destruir o SNS e a escola pública, enfim, estão a conduzir Portugal para a bancarrota, porque não seremos capazes de pagar, se quer, os encargos da dívida daí decorrentes. Numa altura em que, hoje, a Fitch corta o "rating" de Portugal para "lixo" e a agência chinesa Dagong o corta também passando de BBB+ para BB+ e ameaçando que reverá de novo em baixa, dada a falta de crescimento da economia, o que prova que as medidas têm sido inconsequentes e não têm convencido os mercados. E ainda acham que a greve geral não se justifica. E oxalá que fiquemos só por aí, porque o mal estar nas forças de segurança e nas forças armadas já é por demais visível e não se pode iludir. Mas se por cá as coisas apresentam este aspecto, na Europa não andam melhor. Embora se tenha assistido a mudanças de governos em Itália e Grécia, verificamos que a real situação dos dois países não melhorou. Agora temos uma mudança na Espanha e veremos o que daí virá. Porque à medida que os problemas estão a aproximar-se do núcleo duro da UE a estratégia começa a mudar. Já não são apenas os países periféricos que estão em causa, mas algo mais abrangente que já ameaça a própria França e poderá, a curto prazo, vir a ameaçar a Alemanha. Daí que cada vez mais se fale em "eurobonds" que até agora eram vistas com maus olhos pelo núcleo duro - Alemanha e França - e que dia após dia vão ganhando mais consistência, o mesmo se dizendo duma nova abordagem do BCE à situação europeia. Nada melhor para se mudar de estratégia quando vemos os nossos interesses atingidos. É o que está a acontecer na Europa que nunca soube ser solidária como um todo quando a situação assim o exigia. Mas nada que nos surpreenda, afinal, a direcção ultraliberal da UE é de sentido político idêntica à direcção política actual em Portugal, indo ambas de desastre em desastre até ao desastre final.
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