Equivocos da democracia portuguesa - 153
A contestação começa a aumentar de tom à medida que o agravar da situação se começa a fazer sentir. No fim-de-semana passado, Miguel Relvas foi alvo disso mesmo, no congresso das autarquias, mas o mais relevante disso tudo, como frisou ontem Marcelo Rebelo de Sousa, foi que a maioria dos autarcas são PSD, logo Miguel Relvas foi contestado pelos seus próprios correligionários. E isso, ainda segundo Marcelo, tem a ver com a falta de comunicação que o governo tem tido com o resto do país para explicar e incentivar as medidas que estão a vir por aí. Aliás, Rebelo de Sousa foi mais longe quando afirmou: "O governo a comunicar é um desastre!" É caso para perguntar que, se os seus próprios correligionários não entendem as medidas, como vai o comum dos cidadãos as entender? Mas agora que o fim do ano se aproxima, o governo recorreu a medidas extraordinárias para controlar o déficit que, segundo o PM, vai ficar bastante abaixo dos 5,9% previstos. Mas desenganem-se todos, isto foi uma mera operação contabilística para corrigir o déficit, desta feita, recorrendo aos fundos de pensões da banca, que não será possível utilizar no próximo ano. Mas com esta operação de coméstica, o Estado ficou com um encargo de cerca de 500 milhões de euros para pagar anualmente aos pensionistas que passam a estar agregados à Segurança Social, que o mesmo é dizer, que cada um de nós ficou com um encargo brutal apenas e só por uma operação de cosmética. É caso para perguntar para quê tudo isso? Afinal a "troika" não gostou da ideia, os mercados sabem que o déficit atingido é artificial, então qual o interesse em construir esta situação, criando um encargo adicional para o Estado, isto é, para todos nós, de assegurar as pensões dos reformados da banca. Ninguém percebe esta política nem a estratégia que lhe está subjacente, apenas nos deixamos levar pelas circunstâncias, falta saber até quando. Na Europa as coisas não andam melhor. Depois das hesitações da UE em fazer face à crise no seu seio, levou a uma forte crítica de Delors, quando este começa a perceber que o euro pode estar em causa. A renegociação dos tratados são disso o exemplo. Quando Merkel e Sarkozy querem fazer uma Europa à sua medida e à medida dos seus interesses, talvez não estejam a pensar nas consequências que daí advirão. Muitos governos estão a estudar a situação após a saída do euro - o português também, numa afirmação do PM que nunca deveria ter feito em público - mas é bom lembrar que a queda do euro pode ser fatal não só para a Europa como até para os EUA. Mas o rumo das coisas está a mudar. Agora a própria Alemanha começa a sentir no seu seio os problemas da hesitação que tivera em acudir às economias periféricas. O Comerzbank, o segundo maior banco alemão, poderá vir a ser nacionalizado a curto prazo. O governo alemão detém já 25% do seu capital, mas parece que mesmo assim, não é o suficiente. É caso para dizer que Merkel está a provar do seu próprio veneno. A crise veio para ficar, todos já vimos isso, e daí os sacrifícios impostos vão durante bem para além de 2013, contrariando alguns dos nossos governantes que teimam em criar essa ilusão. O capitalismo como o conhecemos parece que morreu, aparecerá duma outra forma, mas nunca da forma com que actuou nos últimos anos, tornando as economias dos países autênticos casinos, e criando a ilusão nas populações de que tudo estava ao alcance da mão. Afinal agora, e duma maneira bem cruel, constatamos o contrário.
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