Equivocos da democracia portuguesa - 156
Nem nesta caminhada para o Natal e para o fim do ano parece que deixamos de ter assunto, e logo, pelas piores razões. Passos Coelho numa entrevista infeliz ao Correio da Manhã de ontem veio indicar o caminho da emigração aos professores sem mais delongas. Aliás, na senda daquilo que já um secretário de Estado deste governo tinha feito, e que os centros de emprego têm vindo a seguir, isto é, a aconselhar aos desempregados a emigrar porque por cá não têm solução. Todos sabemos que à medida que a população envelhece a população escolar vai diminuindo, logo os professores começam a ser excedentários. Mas um PM não pode dizer aquilo que Passos Coelho disse e, sobretudo, da forma como o disse. Porque nestes casos - o dos professores - costumam estar enquadrados num programa bilateral no âmbiro duma relação entre estados que favorecem a ida e a integração. Passos Coelho embora tenha falado no Brasil e em Angola não se conhecem quaisquer acordos com estes países para a ida de professores para lá. Obviamente que os sindicatos aproveitaram para dizer que quem devia emigrar era o PM pelo desgoverno do país. Os mesmos sindicatos que insultaram Sócrates e apoiaram declaradamente o actual PM. É caso para dizer, afinal de que se queixam? Até Marcelo Rebelo de Sousa se insurgiu contra esta afirmação, vindo até a criticar Passos Coelho por vir revelar conversas privadas que teve com o líder da oposição. Coisa que, como diz MRS: "Nunca aconteceu comigo e com António Guterres". Isto só vem provar a falta de seriedade que o PM está a colocar nas suas relações com a oposição e, se calhar, na próxima reunião António José Seguro deveria jogar á defensiva porque está a falar com uma pessoa sem estatuto algum que desvaloriza a cada passo o relacionamento instituicional entre as diversas entidades e ainda correndo o risco de ver a sua conversa devassada na praça pública. Mas isto não nos surpreende, porque deste governo já não esperamos nada. Mas Passos Coelho continua agora dizendo que em 2015 haverá menos impostos. Não temos dúvidas disso. Não porque a situação esteja melhor mas porque é ano eleitoral. O mesmo se irá verificar em 2013, a quando das eleições autárquicas, daí a pressão que está a ser feita sobre todos nós e com mais aquidade em 2012, para aliviar em 2013. É o calendário eleitoral a comandar a estratégia e não o interesse nacional a definir o rumo. Esse pouco importa, agora que chegaram ao pote. Veja-se o que aconteceu com o ministro da segurança social que rapidamente trocou a moto pelo Audi topo de gama. Ou o ministro da defesa que vai de Falcon à Mauritânia (!) enquanto o PM diz que viaja em económica!!! Mas Passos Coelho vai mais longe incentivando os portugueses a poupar, a fazer planos de poupança reforma. É caso para dizer se o PM está a brincar com todos nós, ou simplesmente foi um lapso - mais um! - para depois vir pedir desculpas. Como é possível a um português poupar quando o dinheiro não lhe chega para comer? Além de ridículo acaba por ser insultuoso para todos nós. Cada vez mais se prefigura no horizonte aquilo que vimos dizendo à algum tempo. Esta política está gasta, os partidos actuais já não dão resposta às angústias e anseios das populações e a renovação começa a ser imprescindível. E isso, só será possível com a instauração da 3ª República que aproxime os partidos dos portugueses e da resolução dos problemas de Portugal duma forma mais consistente e articulada porque agora, pelo que estamos a ver, já não são capazes. Para além disso, temos que nos ir preparando para o esfarelar da UE e do euro, política que tem sido seguida duma forma cirúrgica pelo eixo franco-alemão. De reunião histórica em reunião histórica nada se decide, tudo se adia e os problemas avolumam-se. Se isso vier a acontecer, como pensamos que será o caso mais cedo ou mais tarde, a Europa mergulhará num conturbado ciclo político donde não é de excluir uma nova guerra que acabará com o pouco que restar. E Portugal terá que estar preparado para isso, porque as núvens que se adensam no horizonte são cada vez mais indiciadoras dessa situação. Neste final de 2011 e início de 2012, não temos razões para estar satisfeitos, nem despreocupados. A curto prazo as coisas podem vir a descambar em algo de proporções apocalípticas e os pequenos estados como Portugal devem, desde já, irem-se preparando para que não o façam demasiado tarde.
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