Turma Formadores Certform 66

Monday, August 06, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 196

Os últimos dias têm sido férteis em acontecimentos e declarações que têm passado um pouco ao lado dos portugueses. Não só porque se está em pleno período de férias mas, sobretudo, porque esses acontecimentos passam um pouco ao lado da política doméstica, embora a influencie de forma determinante. Já por diversas vezes trouxemos aqui a nossa preocupação sobre o modo como a Europa está a encaminhar tudo o que envolve a crise por que todos estamos a passar, bem como, a atitude sobranceira da Alemanha em toda esta envolvente. A tão falada crise que teve raízes bem profundas a muitos milhares de quilómetros do nosso país - contrariando algumas vozes que davam como certo que esta derivava do governo de então! - hoje atinge-nos a todos, - europeus -, duma forma desapiedada. O FMI já vem desde a algum tempo a falar na maneira errada como a UE tem lidado com o problema, não apresentando soluções, mostrando hesitações, até muita descoordenação, talvez até, alguma falta de empenho em a resolver. E aqui é que se coloca o verdadeiro problema. Porque a UE trouxe aquilo que muito se ansiava na Europa, a saber, um projeto de paz. A Europa sempre foi, ao longo dos tempo, um verdadeiro campo de batalha, que viria a culminar em duas guerras mundiais no século passado, que a colocaram à beira do abismo. Daí que a criação dum espaço europeu tenha ganho forma nessa altura, para de certo modo, impedir que se repetissem os erros do passado recente. E assim, ele se desenvolveu e fortaleceu, mas com alicerces frágeis, com pés de barro e, acima de tudo, com falsas promessas de fidelidade. E aos primeiros contratempos o verniz estalou. Cada país defendendo a sua visão paroquial - bem longe dos princípios defendidos pela UE - levando a uma desconfiança que se foi instalando e corroendo aquela que deveria ser a argamassa do projeto europeu. A crise financeira da dívida soberana foi o culminar, a verdadeira "raison d'être" para que se tornassem mais visíveis (mesmo para aqueles que não seguem estas questões de perto) a situação em que atualmente vivemos. E se Juncker, - líder do Eurogrupo -, já na semana passada, alertava para que a Alemanha estava a tratar a UE e o euro como se duma "filial" se tratasse, ontem foi Mario Monti, - primeiro-ministro italiano - em entrevista ao influente "Der Spiegel", que afirmava que se está a correr o risco "duma desintegração da Europa", culpando e bem - segundo o nosso ponto de vista - o comportamento pouco sério que a Alemanha tem tido em tudo isto. Sabe-se hoje que há algum tempo atrás o BCE fez um empréstimo à Grécia para evitar a falência desta e, - como vimos defendendo à muito -, esse deverá ser o caminho para futuro e a verdadeira vocação do BCE, defender os estados membros - com empréstimos, eurobonds, ou seja lá mais o quê - não seguindo os ditames da política alemã que, ao fim deste tempo, começa também a ver que a sua situação se está a degradar porque se os países à volta estão mal (muito por culpa da política alemã) então os negócios com estes países degradam-se e a economia alemã recente-se. É caso para dizer que a Alemanha está a provar do seu próprio veneno. Mas Monti, na entrevista de ontem, vai mais longe. Alerta para as clivagens que são cada vez mais evidentes entre o norte da Europa rico e o sul empobrecido, criando as condições para o renascer de velhos ódios que se pensavam enterrados há muito, mas que afinal parecem voltar a ter nova vida. E isto tendo por base o comportamento da Alemanha - motor da UE - fazendo ressurgir ideias passadas de triste memória. Somos dos que defendem incondicionalmente o projeto europeu, porque sem ele, a Europa caminhará pela senda dos ódios antigos de questões, porventura, mal resolvidas pela História, arriscando a que esta deslize duma forma inexorável para o abismo. A Alemanha já ficou na História recente por ter conduzido a Europa para duas guerras mundiais, será que isso não lhe basta? Será que não percebe que está a pisar de novo um caminho incerto que no fim puderá estar juncado de cadáveres como no início do século passado? Será que a Alemanha pensa que vai conseguir passar por entre os pingos da chuva sem se molhar? Estamos num dos momentos mais críticos da Europa do pós-II guerra mundial. Temos que tentar evitar trilhar o mesmo caminho de ódios e soberanias que cobriram a Europa de sangue e de ignomínia. É tempo de dizer basta a esta política alemã de empobrecimento dos seus pares onde apenas um ganha. É tempo dos governos nacionais - entre eles o nosso - evitar seguir as regras germânicas como o "bom aluno". No fundo, quem estiver ligado a esta estratégia será conivente com ela. Sabemos da nossa pequenez e fragilidade, mas também sabemos que, em momentos definitivos da História, soubemos dizer basta. Pensamos que estamos perante um desses momentos.

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