Equivocos da democracia portuguesa - 195
O verniz finalmente estalou e veio pôr a lume algo que todos já sabíamos embora ninguém o admitisse. A Europa solidária acabou!... Isto vem a propósito das afirmações do FMI sobre a Grécia e que vieram a lume através do jornal alemão Der Spiegel. Segundo este periódico, o FMI não está mais disponível para apoiar financeiramente a Grécia. Isto já era previsível depois das insinuações de Christine Lagarde vai para duas semanas numa entrevista que deu. Mas não deixa ser curioso que seja um jornal alemão a divulgá-lo logo secundado pelo ministro das finanças do mesmo país quando ontem afirmou que a saída da Grécia do euro não terá impacto substancial se vier a acontecer agora. Isto significa que já se vinham preparando as condições para que isso viesse a acontecer, mas mostra também à evidência a falta de solidariedade europeia. Não nos podemos esquecer que Antonis Samaras foi eleito com o apoio e a solidariedade dos seus parceiros europeus que agora o descartam duma forma verdadeiramente vergonhosa. Esta atitude pode levar que em Setembro a Grécia entre em bancarrota - com certeza negando o reembolso da dívida a quem os abandonou - e, apesar das afirmações do ministro das finanças alemão, veremos o que irá acontecer com os outros, a começar por Portugal e a Espanha e, já agora, a Itália. E os mercados como vão reagir? Depois de saberem que a solidariedade europeia afinal é palavra vã, como atuarão agora? A Espanha está sob fogo especulativo desde à vários dias e agora a tendência puderá vir a agravar-se. Dirão os mais otimistas que Portugal não é a Grécia e que as coisas não serão assim tão más, dando o exemplo dos juros terem baixado no mercado secundário na emissão de bilhetes do tesouro feito por Portugal na semana passada e por um período de dois anos. Isso não é tão seguro assim. Porque dois anos leva-nos até 2014 o fim do período de intervenção da "troika". Até lá as emissões estão garantidas por esta e até são apetecíveis. O que importa perceber é como será para além desse período e aí não estamos tão seguros assim da situação. Em sentido inverso tem acontecido com os juros de Espanha porque esta, ao contrário de Portugal, ainda não tem nenhum plano de ajuda. As evidências são claras e os sinais de falta de solidariedade da Europa faz o resto. A partir de aqui a Europa deixou de ser um projeto solidário, e nenhum país, sobretudo os periféricos com economias mais débeis, está a salvo do que parece estar a preparar-se para a Grécia. E isto não pode deixar de ter repercursões sobre o governo português. E na sua senda desesperada, porque já percebeu o que pode vir por aí, não se cansou de lançar um "desafio" ao PS no último debate na AR. Curiosamente, o CDS é bastante mais diplomata e propõe um "apelo" aos socialistas para se unirem ao governo para a elaboração e aprovação do OE 2013. Esta subtileza diríamos diplomática não deixa de ser curiosa, mostrando um certo distanciamento entre os partidos que formam a coligação. E as críticas do CDS ao executivo vão-se fazendo utilizando para isso pessoas que não estão diretamente ligadas ao executivo. Pires de Lima já foi dizendo que o país chegou ao limite da carga fiscal. Na carta ao militante do CDS elaborada por Paulo Portas e divulgada pelo Expresso, pode-se ler que o "PP está no governo só por patriotismo". Isto não deixa de ser pouco elogioso para o seu parceiro de coligação. E neste emaranhado de recados mais ou menos velados o PS vai-se distanciando do governo. Para além do seu desacordo com algumas das medidas que vem defendendo, para além de ver sistematicamente os projetos que apresenta serem rejeitados pela maioria, não se esquece que para o ano tem eleições. Daí o ir paulatinamente demarcando terreno. Embora o espaço deste seja muito estreito. Porque não concordando com a maioria, nem sendo expectável que venha a formar coligação com o PCP ou o BE, a margem de manobra é deveras estreita e sinuosa. Entretanto, o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, já veio criticar a política do governo e é a segunda figura da Igreja a fazê-lo num curto espaço de alguns dias, depois de D. Januário Torgal Ferreira. No entretanto, todos nós estamos a ver no que tudo isto dá. Depois duma Europa que se assume como um projeto só de alguns, duma Europa que não se coíbe de renegar um seu parceiro, duma Europa que enterra um dos seus princípios mais abrangente que era a solidariedade entre os estados membros, fica pouco, e o pouco que resta não sabemos se será suficiente para defender a UE como projeto, e o euro como moeda forte desse mesmo projeto. Agora que caiu em definitivo a máscara, veremos como reagirão os estados e, sobretudo, os mercados que nos tempos que correm são os verdadeiros reguladores das economias.
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