Turma Formadores Certform 66

Tuesday, July 10, 2012

A despedida de Gabriel Garcia Marquez

Gabriel Garcia Marquez retirou-se da vida pública por razões de saúde: cancro linfático.  Enviou uma carta de despedida aos seus amigos, e graças à internet está sendo difundida pelo mundo. Recomendo a sua leitura, porque é verdadeiramente comovedor este curto texto escrito por um dos latino-americanos mais brilhantes dos últimos tempos. Diz assim:

A despedida.
 “Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapos e me presenteasse com mais um pedaço de vida, eu aproveitaria esse tempo o mais que pudesse. Possivelmente não diria tudo o que penso, mas definitivamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não por aquilo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, porque entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais se detivessem, acordaria quando os demais dormissem. Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, deitava-me ao sol, deixando a descoberto, não somente o meu corpo, como também a minha alma. Aos homens, eu provaria quão equivocados estão ao pensar que deixam de se enamorar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se enamorar. A um menino eu dar-lhe-ia asas, e apenas lhe pediria que aprendesse a voar. Aos velhos ensinaria que a morte não chega com o fim da vida, mas sim com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vós homens. Aprendi que todo o mundo quer viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, agarrou-o para sempre. Aprendi que um homem só tem direito a olhar o outro de cima para baixo, quando está a ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender convosco, mas agora, realmente de pouco me irão servir, porque quando me guardarem dentro dessa caixa, infelizmente estarei morto. Diz sempre o que sentes e faz o que pensas. Supondo que hoje seria a última vez que te vou ver dormir, te abraçaria fortemente e rezaria ao Senhor para poder ser o guardião da tua alma. Supondo que estes são os últimos minutos que te vejo, dir-te-ia “Amo-te” e não assumiria, loucamente, que já o sabes. Sempre existe um amanhã em que a vida nos dá outra oportunidade para fazermos as coisas bem, mas pensando que hoje é tudo o que nos resta, gostaria de dizer-te o quanto te quero, que nunca te esquecerei. O amanhã não está assegurado a ninguém, jovens ou velhos. Hoje pode ser a última vez que vejas aqueles que amas. Por isso, não esperes mais, fá-lo hoje, porque o amanhã pode nunca chegar. Senão, lamentarás o dia em que não tiveste tempo para um sorriso, um abraço, um beijo e o teres estado muito ocupado para atenderes esse último desejo. Mantém os que amas junto de ti, diz-lhes ao ouvido o muito que precisas deles, o quanto lhes queres e trata-os bem; aproveita para lhes dizer, “perdoa-me”, “por favor”, “obrigado” e todas as palavras de amor que conheces. Não serás recordado pelos teus pensamentos secretos. Pede ao Senhor a força e a sabedoria para os expressar. Demonstra aos teus amigos e seres queridos o quanto são importantes para ti.”
Gabriel Garcia Marquez
 
 
 Um testamento, um testemunho, uma despedida que nos deixa a pensar, que nos impele a refletir sobre o que é a vida e qual a sua essência. Este é um texto de adeus, com o sabor definitivo dum até breve. Um verdadeiro texto de amor, do amor superior que nos envolve a todos. Um texto para os mais velhos, um guião de vida para os mais novos. Um texto imperdível.

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