Equivocos da democracia portuguesa - 190
E agora que o Euro acabou, as populações mais ou menos alienadas, voltam-se para os seus problemas de sempre. Afinal eles não tinham desaparecido apenas estavam adormecidos. E assim, começaram logo a surgir, de novo, as contestações a esta política de miséria que o nosso governo decidiu que deveria ser a nossa. Mas as populações começam a ter um peso demasiado excessivo sobre os ombros sem verem nada de melhorias. Afinal, para usar as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, "a luz nunca mais aparece ao fundo do túnel". E a ver pelos dados do INE tal não aparecerá tão cedo. Depois de tantos sacrifícios exigidos aos portugueses o déficit está bem pior do que se pensava. Se no ano passado este se situou em 7,7%, este ano, e só no 1º trimestre, já vai em 7,9%, agravando-se em 0,2%. O que desde logo, para além de incompreensível, coloca a meta do défict para este ano ainda mais longe dos 4,5% acordados. E para se alcançar este número terão que ser implementadas mais fortes medidas de austeridade, que todos os economistas, mesmo os liberais, começam a achar já não existir espaço para tal. Foi curioso notar o desconforto do Prof. João Cantiga Esteves à dias na SIC Notícias, ele que sempre defendeu as actuais medidas, vir agora admitir que afinal as coisas não andam nada bem. Que a execução orçamental está pior do que o esperado mas que, tal como outros, acha que já não há espaço para mais medidas de sacrifício. Depois ainda se admiram da atitude das populações, como aconteceu na Covilhã, com o ministro da economia, onde este foi insultado e contestado. Estas manifestações tendem a subir de tom, porque depois de tantos sacrifícios, as populações não vêm quaisquer melhorias, bem pelo contrário, onde o desemprego não pára de aumentar numa espiral de empobrecimento sem precedentes. Estes actos desesperados das populações tenderão a generalizar-se, como já aconteceu com o PM e com o PR. Não defendemos actos de violência, mas não deixamos de compreender o desespero de muitas pessoas, de muitas famílias. Apesar de tudo, Portugal pode vir a beneficiar de algum ajustamento - como vimos defendendo à quase um ano - porque é por demais evidente que Portugal não conseguirá reequilibrar-se no tempo dado. Com a renegociação das condições com Itália, Espanha e Grécia, podemos vir a exigir o mesmo para o nosso país, se o governo tiver força para tal, coisa de que não estamos certos. Mas, contrariando alguns, é visível que a chegada de Hollande trouxe algumas alterações de perspectiva da política europeia, reequilibrando o eixo franco-alemão ao por um travão a algumas das pertensões de Merkel. E isso é visível, quando até entre nós, o PR bem como o CDS já não escondem, que pretendem um reajustamento do acordo no próximo mês de Agosto, quando a "troika" vier fazer uma nova avaliação. Aliás, a ideia que já aqui defendemos à muito do BCE vir a criar moeda ou então a emitir "eurobonds" parece que começa a fazer o seu percurso em Bruxelas. E isso, já se viu nas condições de resgate da Espanha, bem como a reacção nas bolsas, que encerraram em alta a semana passada. Esta crise é uma crise bancária, já o afirmamos por diversas vezes, e estes é que são os verdadeiros causadores mas que estão ao abrigo da austeridade. E este é o grande drama europeu, onde a economia é ajustada pelos bancos e não pelo mercado de capitais, banca essa que não empresta, que é usurária, que está a estrangular a economia e a impedir a criação de emprego. Daí que devem ser tomadas em contas estas especidades da Europa para criar mecanismos que potenciem a saída desta situação. Mas de uma coisa podemos estar certos, tal como D. Januário Torgal Ferreira afirmou: "No fim do pagamento da dívida vamos ter uma multidão desesperada de pobres". E aqui é que está a questão. O que vai ser do aspecto social das populações depois de tudo isto? Mas é também aqui que está o perigo duma possível explosão dum barril de pólvora com consequências imprevisíveis. Até lá, só nos resta que o luar brilhe sobre o Parténon e esperar que uma nova aurora nos ilumine a todos.
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