Equivocos da democracia portuguesa - 191
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", já o afirmava Camões há muitos séculos atrás. E a máxima continua com uma tremenda atualidade que faria com que o próprio se surpreende-se se o viesse a constatar. Isto porque Miguel Frasquilho - vice-presidente do PSD - já veio a terreiro falar sobre a possibilidade de a "troika" vir a dar mais dois anos ao governo para aplicar as medidas! Ele não faz a coisa por menos. Quando outras forças, ainda há dias, pediam mais um ano, o excelso deputado achava que não, nem pensar em tal, seguindo o discurso oficial do governo. Com outro governo, achava que se deveria ir até ao fim no prazo dado "custe o que custar" (onde terá ele ouvido isso!) porque estaríamos a dar uma má imagem aos credores. Agora, como as medidas não estão a resultar, como já muitas vezes defendemos, então é melhor pedir uma ajudinha, e se possível, não um mas dois anos, não vá o diabo tecê-las, e as eleições estão aí à porta (as autárquicas são já no próximo ano!). Este é o estilo e a atitude que não dignifica os deputados, nem os políticos "soit disant", mostrando bem a hipocrisia e o oportunismo destes senhores. Todos sabíamos que não seria possível cumprir o programa dentro do prazo estipulado, mas alguns destes iluminados, achavam que não, que os mercados não iriam entender, e que até deveríamos ir mais longe do que a "troika" para criar condições para se ir aos mercados em 2013. Se não fosse trágico até dava vontade de rir. A ir-se ao mercado só com o guarda-chuva do BCE e mesmo assim seria temerário. Mas a semana tem sido fértil em acontecimentos embora lamentavelmente sempre pelas piores razões. Agora, de novo, Miguel Relvas está debaixo dos holofotes. Já não é o caso das "secretas" que parece que caiu no esquecimento, embora elementos da ERC tenham vindo denunciar pressões, mas poucos falaram disso, Relvas agora anda à volta com as suas habilitações. Ele que afirmava que "Sócrates devia ter vergonha", pois falou depressa, como acontece com pessoas que pretendem criar cortinas de fumo para ver se passam entre os pingos de chuva. Mas não foi o caso. Afinal Sócrates pode ter cometido algumas torpelias, mas Relvas foi muito mais lesto. Sócrates ainda frequentou a universidade por alguns anitos, mas Relvas passou a vida a saltar de curso em curso, de universidade em universidade, sem nunca fazer cadeira alguma e por fim licencia-se num único ano fazendo apenas três cadeiras e trinta e duas equivalências!!! Não deixa de ser estranho que logo apareçam alguns a dizer que foi tudo feito dentro da lei, mas mesmo assim, não deixa de ser no mínimo curioso. Outros para além de colar cartazes lá vão à escola fazer uns cursitos para irem a correr para locais de proeminência política, depois de terem feito algum tirossínio nas empresas dos amigos e/ou correligionários para que as coisas não pareçam tão escandalosas. Esta é a visão da qualidade da democracia que temos e dos seus políticos. Por isso, estamos como estamos. Será que ninguém percebe que estes são sintomas duma democracia doente, corroída nos seus alicerses mais elementares? Será que não percebem que estão a pôr em causa o próprio regime, afundando-o em escândalos, em tropelias, em ziguezagues que não dignificam o regime e o país? Será que estamos condenados à mediocridade mais abjeta, tudo em nome do poder, afinal, "da triste e vã glória de mandar", cá voltamos a Camões que parece que adquiriu uma enorme atualidade pelas piores razões. Já ele tanto se esforçou por denunciar os abusos do seu tempo e pela sua atitude tanto sofreu. Depois de quatro séculos parece que não evoluímos assim tanto, ou melhor, evoluímos na rasteira, no drible, no faz de conta que é inconsequente e que vai desgraçando o país e minando as suas instituições.
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