Equivocos da democracia portuguesa - 218
Estamos a passar por uma situação que já à muito não víamos na nossa terra. Mas este problema é bem mais profundo do que aquilo que nos querem fazer crer. Durante a vigência do governo anterior afirmavam alguns que o problema era desse governo quando se sabia que não era assim porque a Europa estava mal sem saber que rumo havia de tomar. Ainda hoje não sabe. Mas aqueles que faziam essa afirmação na vã cobiça de chegar ao poder agora refugiam-se na Europa para esconder a política desastosa, de verdadeira terra queimada que está a destruir Portugal. E não bastam as manifestações de rua, nem o voto contra o OE 2013 dum deputado do CDS/PP, nem as declarações de voto de alguns deputados do PSD. Não basta haver técnicos da "troika" entre nós com a singela missão de destruir o estado social a coberto do corte de despesa pública, - desmentido pelo gabinete do PM e confirmado pelo de Vítor Gaspar !!! -, não basta andarmos todos com altas teorias sobre o que significa "refundar", - (como diz o Prof. Adraino Moreira à que perguntar ao autor da frase o seu significado!) -, não basta que a reforma da educação - leia-se cortes - já vá nos 600 milhões de euros quando a "troika" exigia só 195 milhões (!!!), não basta um cada vez maior número de economistas vir defender a alteração ao "memorandum" da "troika", - o último dos quais foi João Salgueiro -, não basta lançar a ideia da alteração da Constiuição e depois recuar, não basta o ruído que todos os dias se sente em Portugal. Porque o problema é mais vasto. A Europa está num dilema donde não sabe como sair, mas uma coisa tem de adquirido, à que alterar os seus modelos para uma deriva ultraliberal que hoje a domina. Assim, quando Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados diz que se está a assistir a "um golpe de estado palaciano" e Manuela Ferreira Leite, ex-ministra das finanças, afima que "se está a destruir a democracia à medida que se destrói a classe média", ambos dizem o mesmo por outras palavras. Mas isso que assistimos em Portugal, vemos na Grécia, que vai sempre dois passos à nossa frente, vemos na Espanha, na Irlanda, Itália ou Bélgica. E então percebemos que algo de muito mais abrangente existe para além do que o que se passa neste retângulo à beira mal plantado. A Europa não sabe como sair da crise, caminhando sempre atrás dos acontecimentos. Mas a História ensina-nos que quando se cai no pântano estão criadas situações para algo mais problemático. Vejam na História do Império Romano que era uma República até que o caos se instalou e criou condições para a chegada ao poder dum Júlio César que não tinha o mais pequeno respeito por ela e a breve trecho se caiu na tirania. Vejam o que aconteceu na Alemanha quando esta caiu num lodaçal - nem sempre foram poderosos e ricos - que levou à criação da República de Weimar que anteceu a chegada do regime de Hitler. Quando os países entram no terreno pantanoso há sempre lugar à criação de radicalismos que passam a ser a voz oficial. E é nisto que todos devemos estar atentos e preocupados. Não nos deixemos ofuscar pela árvore - Portugal - esquecendo a floresta - Europa - porque é esta que irá definir o rumo e os contornos que as coisas terão no futuro. E talvez não sejam os melhores.
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