Turma Formadores Certform 66

Tuesday, October 30, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 216

Mais uma semana de confusões, mais uma semana de ignomínia. Quem lê estes comentários breves pode ficar com a sensação de que somos os mais ferozes adversários deste governo. Nada mais errado. Qualquer governo que neste momento estivesse no poder teria que fazer o ajustamento que nos é imposto pelos credores e não há austeridade sem dor como costumamos dizer. Mas as trapalhadas em que este governo se envolve dão uma imagem de insegurança, de impreparação, de amadorismo que são confragedores. Para além da imagem externa. A política financeira seguida está errada, e disso ninguém tem dúvidas. Que dizer quando em apenas um ano encerraram 14.000 empresas? Que dizer quando é sabido que Portugal é o país com mais despedimentos por via de falências? Portugal, neste momento, está face a um desastre económico sem precedentes. O FMI já o reconheceu e até pertende aliviar a mão. Gaspar já não garante o regresso aos mercados em Setembro de 2013, algo que já afirmamos ser impossível por diversas vezes, a menos que conte com o apoio do BCE. Gaspar já não garante o sucesso do programa de ajustamento. Tudo isto depois de Christine Lagarde ter afirmado que o ajustamento em Portugal poderia ser um problema e que tinha aumentado o risco dum falhanço. Tudo isto já vimos defendendo há imenso tempo. Era evidente o caminho de terra queimada que o governo está a fazer com a sua política do "custe o que custar". Face a este desastre nacional vem agora Passos Coelho defender uma "refundação" - que será isso ao certo? - do programa de austeridade! Coisa que parece ninguém saber, como ontem aconteceu com Aguiar-Branco, que remeteu qualquer explicação para o PM. Até vem instigar o PS a unir-se a tal! O mesmo PS que Passos Coelho ignorou nas cinco revisões que já foram feitas ao "memorandum" e até negociando com Bruxelas nas costas da AR e logo do PS. É neste emaranhado de confusões que vai começar esta semana a discussão do OE 2013. E aqui, também o governo tem algumas dificuldades. Conta com a oposição interna de muitas figuras cimeiras do PSD, e quanto ao CDS/PP nem se fala. José Manuel Rodrigues líder do CDS-Madeira, já se demitiu do cargo de vice-presidente do CDS nacional para votar contra o OE. Mota Amaral, figura cimeira do PSD, já veio afirmar que votará contra. Daí os apelos patéticos de alguns deputados e de alguns ministros, - até do PM -, quanto à dificuldade que derivará da não aprovação do OE. Porquê tudo isto? Com a oposição em bloco a votar contra, com algumas dissenções entre os partidos da maioria, poderemos estar na eminência dum chumbo. Somos dos que achamos que seria mau para o país que tal viesse a acontecer, mas para que tal não aconteça, será necessário que, também do lado do governo, haja uma abertura para alterações essenciais ao texto, com vista a minorar a austeridade que esmaga o país, que o vai tornando cada vez mais pobre e periférico. Desde logo, a despesa que continua quase igual, quando tem sido do lado da receita que o ajustamento tem sido feito. Quando o FMI já não acredita, ou acredita pouco, naquilo que se está a passar em Portugal, porque não aproveitar para se aliviar a carga deste OE esmagador. Até o ministro da economia, que usualmente anda perdido e calado, já veio dizer que se não existir crescimento não há austeridade que nos valha. (E crescimento mais forte do que o evoluir da dívida, caso contrário, o fracasso está assegurado). Afirmando que a Europa tem que ser nossa aliada e não nos tratar como tem tratado. Afinal a mensagem do FMI parece vir ao encontro destas ansiedades, embora o PM pareça não pensar assim, de braço dado com a sua alma mater Merkel. Se não se arrepiar caminho não iremos lá. O país afundar-se-á na miséria - já lá estamos! - donde será muito difícil sair. Estejamos atentos aos sinais que virão da discussão do OE 2013 porque eles são fundamentais para sabermos o rumo que seguiremos, se o do empobrecimento do "custe o que custar" ou de algo mais ajustado que permita o crescimento e o emprego.

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